Falta cerca de um ano para a muito ansiada oitava entrada na série de The Settlers chegar pela mão do estúdio Blue Byte. Doze meses pouco mais representam para quem está desde 2010 sem qualquer novidade numa das melhores séries de estratégia em tempo real da História dos videojogos. Pelo meio vamos encontrando sucedâneos para as saudades que temos da série, com boas apostas como The Colonists. Mas a oportunidade perfeita para matar saudades de Settlers? Só mesmo com The Settlers History Collection.
Fazermos esta visita histórica por 25 anos de uma série faz-nos ver tudo em perspectiva, com o passado a montante conseguimos observar as grandes diferenças que existem ao longo dos 7 títulos, e percebemos que mesmos os primeiros, com a óbvia distância nostálgica e técnica entre eles, ainda hoje são óptimos jogos para jogarmos.
Comecemos pelo segmento da série: os dois primeiros títulos, e aqueles que acabaram por definir os conceitos mecânicos que tantos outros jogos seguem até aos dias de hoje. The Settlers criou todos os elementos que reconhecemos até aos dias de hoje. Desde a estrutura altamente interligadas entre a recolha e produção de recursos e as inter-necessidades que foram sendo criadas para manter a colónia a avançar em produções mais complexas. Foi este título de 1993 que estabeleceu as fundações da verdadeira escala de gestão de elementos que se complexificou três anos depois com The Settlers II: Veni, Vidi, Vici. E no centro de tudo as estradas que uniam obrigatoriamente todos os edifícios da colónia e os pontos-chave que estes caminhos têm para permitir aos colonos a troca de recursos entre si.
São estes dois jogos, que mesmo nas versões remasterizadas que podemos encontrar na colecção, são dois dos momentos mais brilhantes dos RTS, especialmente o segundo título que pega em todas as ideias do primeiro, complexifica-as, e assume a série como uma das mais importantes do género. Tantas vezes pensamos que as sequelas são quase obrigatoriamente inferiores aos originais, mas com The Settlers II os criadores da Blue Byte Software souberam pegar nas suas ideias originais e desenvolvê-las até chegarem a um ponto que é, no meu entender, o mais rigoroso, complexo e desafiante jogo de estratégia de gestão de recursos e city building de sempre.
The Settlers III e IV são excelentes jogos que mudaram, e muito, o tom da série. Para o lado ficou a necessidade da construção de estradas, aproximando a série de outros jogos de sucesso de então, especialmente Command & Conquer e Warcraft II. Esta influência do tremendo sucesso comercial e crítico dos jogos da Westwood e da Blizzard conduziu a uma mudança muito grande em The Settlers, que assumiram, em 1998 e 2001 respectivamente, uma postura mais beligerante dentro do jogo. O city building e a gestão de recursos continuavam presentes mas a presença militarística tornou-se ainda mais óbvia.
Estas mudanças foram algo que adorei à época, em anos de pré-Faculdade em que os RTS dominavam todo o meu tempo livre. E com o gatilho rápido e o excelente combate de outras séries, foi interessante rejogá-los hoje e perceber que à semelhança dos dois primeiros, a qualidade permanece.
Com a viragem do milénio vieram algumas alterações a muitos géneros e os RTS viram chegar ao marcado o jogo que não só influenciaria e alteraria o tecido do género, como sabemos hoje a jusante que seria providencial para criar os alicerces de alguns dos maiores sucessos dos eSports. Warcraft III é para mim, e acredito que para muita gente, um dos melhores RTS da História, e a sua introdução do conceito de heróis mudaria por completo o panorama. Que o digam The Settlers: Heritage of Kings [2005] e The Settlers: Rise of an Empire [2007] que após uns anos de silêncio da série em termos de lançamentos, chegariam ao mercado a mudar por completo o tom da série. Pela segunda vez.
Estes jogos (considerados o V e o VI da série) mudaram muito a escala da franquia. Entre os anónimos colonos e soldados dos títulos anteriores, aqui passamos a ter um foco de micro-escala, em que a nossa atenção é dada aos heróis das nossas “facções”, onde seguimos as suas vidas pelos dois títulos. O foco no enredo acabou por ser maior, e o pé no acelerador de city building e gestão de recursos foi ligeiramente levantado. Não são os meus dois títulos favoritos da série, até porque sinto que a qualidade e criatividade mecânica dos primeiros quatro títulos conseguiam fazer de The Settlers algo mais emblemático que estas duas iterações. E em termos de RTS com foco em heróis conhecemos casos melhor executados do que estes dois.
O último título da série até agora chegaria então em 2010, e tem sido aquele onde mais tempo passei, especialmente porque por uma série de acasos acabou por ser aquele ao qual menos tempo dediquei quando saiu. The Settlers 7: Paths to a Kingdom é a terceira grande mudança de The Settlers, e parece-me que está em linha de continuidade com o jogo que sairá no próximo ano.
A primeira alteração que existiu foi na direcção artística, com The Settlers a assumir uma postura mais cartoon nos seus personagens, que de alguma forma suaviza a complexidade estratégica da série. Por outra a reintrodução e foco na necessidade de construção de estradas enquanto união mecânica de toda a colónia. Sem elas os edifícios não produzem nem existem trocas comerciais entre os colonos.
A última e grande alteração deu-se na forma como os exércitos são criados, aqui com alguma influência de Civ. Longe estão as hordas de unidades do III e IV que lembravam os longos exércitos de Command & Conquer. Em Paths to a Kingdom os exércitos e batalhões funcionam com um general base ao qual vão sendo adicionadas unidades, e os números, pelas limitações de recursos para as suas contratações, raramente fazem opor em combate demasiadas unidades.
O lançamento de The Settlers History Collection e a antecipação do oitavo título foram surpresas que me deixaram entusiasmado. Por alguma razão, dentro do meu grupo de amigos, sempre fui aquele que preteriu Age of Empires em detrimento de The Settlers, e observar e rejogar a toda a série nos dias de hoje lembrou-me o porquê da minha preferência desde sempre. Por 35€ é possível comprar esta colecção inteira no Uplay, o que é substancialmente mais barato do que comprar os jogos individualmente, com o benefício de eles terem sido preparados para correrem nos computadores actuais. Com tantas antologias a serem lançadas, para mim The Settlers History Collection é verdadeiramente obrigatória para todos os fãs de RTS, sejam os que já conhecem a série ou aqueles que nunca chegaram a perceber o porquê do interesse. A todos esses é fácil de explicar com 25 anos de pedras basilares da História dos videojogos que atendem pelo título The Settlers.