Este ano que quase finda tem sido rico em mechas e os seus pares, os robots gigantes. Seja nos meandros tácticos de Battletech ou na loucura desmedida de Pizza Titan Ultra os Mecha têm estado por aí o ano todo. Contudo falta-lhes algo, algo que é inerente à essência mais pura da armadura de combate. Em Override: Mech City Brawl (Override) encontramos isso: a luta mecha contra kaiju.
Não sei dizer onde começou a luta de Kaiju e Mechas, mas sei que o rei de todos os Kaiju, Gojira, foi criado por Ishirō Honda, depois disso os Tokusatsu (filmes de efeitos especiais) mas em particular os que envolvem Kaiju passaram a ter um inimigo comum a certa altura, o Mecha. Esta armadura gigante controlada por um ou mais humanos foi levada ao sucesso maior por Super Sentai, Kamen Raider ou até Spiderman e o seu Leopardon no Oriente, que teve mais sucesso no Ocidente graças ao livro medíocre e consequente filme Ready Player One ou a Pacific Rim e a sua má sequela.
Override é um jogo simples, mas mesmo assim é um bom jogo, até posso dizer que está ali entre o bom e o muito bom. Sendo um jogo nitidamente focado para o convívio entre jogadores sejam as batalhas online ou locais num máximo de 4 jogadores, os produtores fizeram algo que eu admiro e agradeço pela sua raridade no mercado actual: criaram um modo jogador singular. Um modo arcade com história que podia ser só um enchimento de chouriço, mas acaba por prender o suficiente para que o jogador queira avançar na história. Depois de escolher o nosso Mecha de uma lista considerável encarnamos o papel do piloto, as missões e interacções vão sendo ligeiramente diferentes para cada um temos alguma capacidade de Replay.
Mecanicamente os produtores também podiam ter caído em algumas ratoeiras mas conseguiram evitar praticamente todas. Se formos pensar em grande as batalhas de Mecha contra Kaiju, o Mecha aparece no final, quando tudo parece perdido e o destino final dos heróis parece selado. O Mecha no fundo é uma espécie de Vegeta no Dragon Ball, ou Ikki em Saint Seiya que salva o momento em que tudo está aparentemente perdido. Esse é também o problema maior do Mecha, é uma espécie de super ser que é impossível de derrotar, habitualmente as batalhas em que aparecem acabam em alguns segundos com recurso a uma arma especial que derrota o Kaiju, utilizando isso num jogo perdíamos o interesse nele por ser fácil demais.
Em Override as super capacidades dos nossos Mecha são contrabalançadas de dois modos. Em primeiro lugar existe um equilíbrio no nível dos adversários que aumenta a dificuldade das nossas batalhas, num sistema semelhante a Xcom, vão-nos sendo propostas missões para cumprir, ou de história que são obrigatórias, ou aleatórias em vários locais no mundo ao mesmo tempo. Aí temos que fazer uma selecção de qual vamos enfrentar tendo em conta a dificuldade e recompensa das mesmas, tendo uma pequena camada táctica e de estratégia nem que seja apenas pela recolha de recursos depois aplicados a nosso favor. A segunda componente de equilíbrio é o sobreaquecimento da nossa armadura. Tirando a movimentação básica pelo cenário, todos os golpes, saltos e utilização do dash criam calor na máquina, usando-os a um ritmo demasiado rápido criamos um overheat que inutiliza todas as funções temporariamente (excepto os movimentos básicos) fazendo com que estejamos vulneráveis a ataques e sem o poder fazer. Este factor acaba por dar uma perspectiva táctica maior ao combate, não sendo um button masher inconsciente, mas um fighter mais perspicaz que parece originalmente.
Mesmo com esta perspectiva mais ponderada, Override é um jogo divertido acima de tudo. Consegue um bom equilíbrio entre o ambiente arcade de destruição de cenários numa batalha entre seres gigantes com táctica de luta. Recomendado para prenda no sapatinho e outras situações.