São as minhas últimas horas de trabalho, numa madrugada onde já exausto me preparo para umas pequenas férias de ano novo com a minha família e alguns dos membros aqui da equipa. Um último fôlego de actividade num ano cheio de mudanças, a título pessoal com o nascimento do meu segundo filho, e no mundo dos videojogos naquele que foi possivelmente o ano em que joguei o maior número de títulos do que qualquer outro.

A qualidade, essa, continua a ser imensa. Como vão perceber pelo meu top de 2018 que aqui vão encontrar, a grande dúvida que me assolou em 2017 com três títulos a disputarem o lugar cimeiro e o título de jogo do ano não existe em 2018. O topo da lista é ocupado por um jogo que vai surpreender pouca gente.

Como em todos os últimos anos fica a lembrança de que esta lista inclui apenas jogos que eu joguei, e por isso a ausência de God of War que muitos dos meus colegas de redacção enunciam como um dos jogos do ano.

Por outro lado, com o largo número de jogos de qualidade que joguei este ano, decidi estender o meu top para 15 entradas ao invés de 10.

15. FE

O primeiro dos EA Originals a ser lançado mostra um lado emocional, profundo, e lírico que a Zoink! Games nunca tinha explorado.

14. Moss

Sempre que alguém me fala na dúvida que tem sobre a validade da Realidade Virtual para além do campo do mero gadget eu tenho de lhe falar e mostrar Moss. É para experiências como estas que o mercado de game dev de VR deveria estar a apontar: criando interpretações únicas de um medium único.

13. Far Cry 5

Não revolucionou o género, não fez nada que os seus antecessores não tivessem feito, mas trouxe para a mesa algo verdadeiramente corajoso e actual, por muito que a Ubisoft o refute. Far Cry 5 é a cautionary tale do perigo dos extremismos e fanatismos religiosos associados a um nacionalismo demente. E é também um brilhante retrato da América profunda: isolada, evangélica e beligerante.

12. Solo

Mais do que a sua doçura melancólica, Solo cativa-nos pela auto-terapia relacional a que nos obriga, confrontando-nos com as nossas próprias concepções amorosas envolvidas numa jornada solitária.

11. Into the Breach

Se há algo que os criadores de FTL sabem e aparentemente sempre irão provar ao mundo é que a sua depuração conceptual e mecânica é um tremendo exercício de qualidade de game design. Into the Breach é um brilhante jogo táctico confinado a um espaço apertado, mas repleto de talento.

10. She and the Light Bearer

She and the Light Bearer pega nos capítulos escritos em torno das visual novels e decide aplicá-las aos livros infantis. Este pequeno e deslumbrante jogo indonésio recebeu o prémio de melhor direcção de arte pelo júri do Indie X 2018 com todo o mérito.

9. Detroit: Become Human

David Cage é o autor que está constantemente a obrigar-nos a interpretar as fronteiras entre o cinema e os videojogos, e conseguiu com a sua interpretação das perguntas levantadas por Blade Runner criar um diálogo com o público com o seu mais recente jogo. A condição humana e as definições éticas que teremos de estabelecer com o desenvolvimento real da inteligência artificial são aqui postas em debate, num dos títulos mais injustamente mal-amados do ano.

8. Guacamelee 2

Se com o lançamento de 2013 de Guacamelee os Drinkbox Studios lembraram-nos a todos de como é que se fazia um genial metroidvania, com esta sequela 5 anos depois havia muito pouco a afinar. Este Guacamelee 2 é a prova de que muitas vezes basta apenas manter a qualidade do que se sabe fazer para se produzir um grande jogo. Não tem a originalidade de Severed nem do original, mas é um dos mais sólidos lançamentos do ano.

7. Ni No Kuni II

Se David Cage tem esbatido a linha divisória entre o cinema e os videojogos, Ni No Kuni é o porta-estandarte entre a fusão dos mundos da animação e dos jogos. Apesar desta sequela já não ter a mão activa e oficial dos famosos estúdio Ghibli, Ni No Kuni II é um dos RPGs mais interessantes do ano, complexos e com o tratamento de cel shading que o aproxima do melhor que a animação tradicional nipónica tem produzido. Se existisse um prémio para “mundo mágico” do ano, Ni No Kuni II recebê-lo-ia certamente.

6. Yoku’s Island Express

Ter dois metroidvanias num top do ano ou é muito bom sinal ou muito mau sinal. Mas no caso de Yoku’s Island Express, é o exemplo de que se pode tornar difusas as linhas que separam os géneros e criar uma das experiências mais originais dos últimos anos. Um metroidvania em formato pinball é algo que por muito que puxe pela cabeça não me lembro de alguma vez ter visto. E com a qualidade narrativa e conceptual deste jogo é algo que certamente nunca vi.

5. Super Smash Bros. Ultimate

A Nintendo quase que me matou todo o entusiasmo em torno do seu crossover fighter com toda a sobre-exposição de comunicação que lhe deu ao longo do ano, em especial nos fatídicos 27 minutos que ocupou no Direct da última E3. mas depois de estar há mais de 1 mês a jogá-lo com o meu filho a grande conclusão a que chego é que o que aqui está é a derradeira experiência da série e um dos melhores party games de sempre. Super Smash Bros Ultimate rapidamente me provou que é bem mais do que um mero re-hash do seu antecessor de 3DS e Wii U: é o melhor SSB que alguma vez jogámos.

4. Marvel’s Spider-Man

Na minha análise referia-o como a melhor interpretação do famoso personagem da Marvel em qualquer media nos últimos 15 anos e não me enganei. A forma como Jon Paquete e os restantes argumentistas representaram o personagem é sinónimo do grande conhecimento e paixão que têm por ele. Sem mudar nada os jogos de acção em mundo aberto, são as suas mecânicas de combate que o tornam verdadeiramente obrigatório, elevando o patamar dos videojogos de super-heróis, criando aquele que é para mim a representação máxima do subgénero.

3. Return of the Obra Dinn

À semelhança de Gorogoa no ano passado, Return of the Obra Dinn é o último jogo que vou jogar este ano mas também é aquele que melhor representa o espectro autoral nos videojogos, cimentando Lucas Pope (para quem tinha dúvidas) como um dos melhores game designers da sua geração. Return of the Obra Dinn consegue de forma exímia relembrar também que os videojogos são um meio único na forma como consegue mergulhar-nos e obrigar-nos a desvendar por nós mesmos as diversas linhas que se interligam na teia de mistério da fatídica embarcação. Para além de uma masterclass de escrita e game design, Return of the Obra Dinn é verdadeiramente soberbo na forma como pauta o ritmo do seu desenvolvimento, permitindo-nos adicionar pequenas notas ao andamento de todo o jogo. Nunca jogarão um murder mystery tão bom e tão puro na capacidade de nos obrigar verdadeiramente a desvendar um mistério.

2. The Gardens Between

Durante algum tempo The Gardens Between foi o meu jogo do ano. Do ponto de vista emocional ainda é o jogo mais envolvente que joguei em 2018, e aquele que mais dificilmente esquecerei. Escrevi um longo artigo sobre toda a experiência que tive a remexer no fluxo de tempo e nas memórias de infância de dois amigos. The Gardens Between é um dos grandes jogos e um daqueles que ficarão sempre injustamente esquecidos por grande parte dos media e do público.

1. Red Dead Redemption 2

Sem grandes surpresas no lugar cimeiro do top, Red Dead Redemption 2 é a batuta pela qual o mercado se irá pautar nos próximos anos. Um jogo com este nível de detalhe visual, narrativo e mecânico só poderia vir de uma empresa com a capacidade financeira e criativa da Rockstar. Mas todas os marcos históricos são assim mesmo: grandiosos na sua influência, magnânimos na solidez dos seus pormenores e auto-conscientes da influência que terão na área onde pertencem. O mundo dos AAA não será certamente o mesmo depois do seu lançamento, e o futuro próximo comprová-lo-á.

Menções honrosas

Sem espaço no top 15, há verdadeiras maravilhas que merecem ser descobertas este ano como The Red Strings Club, Nantucket, Abandon Ship, My Time at Portia, Hand of Fate 2, Monster Prom, Pit People e GRIS.

Melhor jogo mobile

Há poucos dias já tinha revelado Disney Heroes Battle Mode como o meu jogo favorito para o mercado mobile, e aquele que mais equilibradamente aplica a fórmula do seu género. Para quem não o jogou em PC, Reigns: Game of Thrones é o melhor jogo em torno do universo criado por George R R Martin.

Melhor jogo deste ano e afinal não é deste ano

Dead Cells. Estava na wishlist há algum tempo e nas vésperas de Natal comprei-o sem não mais o largar em incursões de verdadeiro masoquismo mecânico madrugadas a fora.

Maior desilusão

Já tinha definido Riot – Civil Unrest não só como a minha desilusão do ano, mas possivelmente o da década. O jogo que mais ansiei ao longo de mais de 5 anos chegou finalmente e é vazio. A seu lado ficam também outras oportunidades perdidas mas não tão gritantes como Vampyr, Tennis World Tour, Scribblenauts Showdown, Ayo: A Rain Tale, Dynasty Warriors 9 e DISSIDIA FINAL FANTASY NT.

Melhor jogo competitivo

Super Smash Bros. Ultimate. O que dizer mais? Dentro do mundo das corridas temos também o retro indie Horizon Chase Turbo que fez as delícias cá de casa e EA SPORTS UFC 3 que foi uma agradável surpresa desportiva.

Melhor jogo familiar

A Switch assume-se definitivamente como a grande consola de família (ou não fosse ela uma consola da Nintendo). No nosso caso cá em casa já cá cantam duas consolas onde o maior número de horas jogadas no total foram mesmo para Super Mario Party e Super Smash Bros Ultimate, os jogos obrigatórios para toda a família. Para somar a esses podemos ainda encontrar Kirby Star Allies, Lego Incredibles e Lego DC Super-Villains.

Melhor jogo de Realidade Virtual:

O já referido Moss é o grande jogo da Realidade Virtual deste ano. O ano de 2018 acabou por mostrar-se um dos mais fortes em termos de VR e de entre os óptimos títulos que saíram destacam-se Déraciné, The Inpatient, Astro Bot e Pixel Ripped 1989.

Maiores surpresas do ano:

Num ano de muitas confirmações mas de poucas surpresas per se, Coffee Talk e o Nintendo Labo acabaram por ser dos momentos que nos fizeram exclamar um “hmmm?” de forma imediata.

Piores do ano:

Metal Gear Survive tem o desprazer de receber o título de pior do ano com uma das apropriações mais ofensivas de uma franquia. Comand & Conquer: Rivals é um caso semelhante, mas não está no mesmo patamar horrendo que o descendente perdido de Kojima. Nesta lista dos piores ainda se juntam Ark: Survival Evolved na Switch, SNK Heroines: Tag Team Frenzy, Bullet Witch no PC, Shroud of the Avatar: Forsaken Virtues e Distortions.