Vou começar 2019 com a antevisão da sequela do meu jogo favorito de 2015, o meu primeiro Machado aqui no Rubber Chicken. Olhemos então para a evolução do universo de Thea, em The Shattering mas se nunca jogaram um destes jogos criados pela Muha Games, é preciso fazer uma pequena nota introdutória com um link para um dos dois artigos que escrevi sobre eles para os que quiserem uma leitura mais aprofundada.

Thea, o original, é uma variante de um 4x combinado com um jogo de aventura num mundo de religião eslávica, batalhas com cartas e com uma grande vertente de survival game. Sei que parece uma manta de retalhos feita com todos os trapos que estavam espalhados pela casa mas tal como o ornitorrinco, funciona. Thea 2: The Shattering é uma evolução natural deste jogo com algumas melhorias e outras alterações que ainda é cedo demais avaliar.

Este jogo ainda está numa fase Beta, ou talvez ainda em Alpha, mas a Muha Games tem tendência a apresentar um produto ao público quando este já está com um nível de funcionalidade bastante avançado e aos poucos melhorar a sua performance antes de lançar a versão final, algo que é muito importante dizer é que eles são conhecidos por terem em conta todas as preocupações (racionais e possíveis) dos jogadores alterando o jogo tendo em conta as suas sugestões. Isto tudo quer dizer que falhas que possam encontrar para já em The Shattering, serão de certeza corrigidas, e muitas das suas features apesar de não estarem já funcionais, estão planeadas e serão inseridas com o tempo. Estas coisas acontecem muitas vezes em jogos AAA, portanto são ainda mais comuns no mundo dos Indie. Eventualmente, irei fazer uma análise completa de Thea 2: The Shattering mas para já vou apenas comentar as alterações que mais me agradaram, ou não, neste avanço de um dos meus jogos favoritos dos últimos anos.

Primeiro, começamos com uma população mais pequena. Enquanto que no primeiro a nossa aldeia era povoada por cerca de 8 a 10 habitantes, que permitia deixar alguns na base e explorar com os outros, nesta sequela temos apenas uns 4 a 5 dependendo das escolhas que fizermos de divindade inicial e atributos. Este número menor de personagens não é algo que me desagrade mas foi necessário alguma habituação, tal como ao facto que no início temos que escolher um dos personagens como “o escolhido” (passo a redundância) cuja morte eventual não termina o jogo mas influenciará consideravelmente a sua continuidade. Esta redução no número de habitantes é derivado de outra alteração e tem uma consequência considerável na jogabilidade em relação à iteração original.

Em Thea: The Awakening, a nossa aldeia era colocada num ponto aleatório no mapa (sendo sempre garantido que nesse ponto teríamos acesso a uma fonte de comida e uma de combustível) mas em The Shattering somos nómadas. Começamos com uma pequena tribo, se assim o quisermos chamar, e vagueamos livremente pelo mapa até recolher recursos suficientes para fundar a nossa aldeia. A parte importante aqui, é a de nos ser dado livre arbítrio para estabelecer um settlement apenas se quisermos, pois podemos fazer todo o jogo como uma tribo vagueante, contudo sabemos que teremos que sofrer as consequências da falta de segurança de um porto seguro constante em que não existem problemas de encumberment. Falando em porto seguro, agora também podemos construir embarcações para explorar o que está para além da linha do horizonte, matando a curiosidade que levou tantos navegadores a aventurar-se pelos mares. Também foi tomado em consideração um nível maior de equilíbrio, porque apesar de ser muito fácil perder personagens nas fases iniciais do jogo original, conseguindo sobreviver até ao turno cento e qualquer coisa fazia com que os personagens, devido a fazerem level up, se tornassem extremamente resistentes, retirando do jogo a preocupação pela sobrevivência e ficasse mais centrado na exploração do mapa e do enredo, neste há uma dificuldade acrescida e o risco é uma constante que nunca deve ser ignorada.

A alteração maior será no campo das batalhas. O combate de cartas original era bastante simples, mas os personagens tinham um número tão grande de estatísticas e atributos que muitas vezes, mesmo com um alto nível de experiência, era difícil perceber quais tinham influência nas lutas. Esses números foram minimizados e como influenciam as 3 variáveis de combate no jogo são mais claras. Para quem jogou o primeiro vai precisar de se habituar pela diferença enorme na estratégia mas não é algo muito difícil de aprender, apesar de não ser fácil ser realmente bom. Felizmente esta é uma parte do jogo que pode ser escolhida, e só temos que o fazer se quisermos, podendo sempre deixar que os combates sejam feitos através de auto-resolve.

Existem outros pequenos detalhes que não vale a pena debater para já pois prefiro comentar na versão final para já posso dizer que Thea 2: The Shattering não desilude de maneira nenhuma. É uma compra segura e altamente recomendável para os fãs do primeiro ou de 4x no geral. Contudo, se vai ser o vosso primeiro contacto com o jogo recomendo antes a compra do original devido ser uma edição completa. Thea 2, apesar de ter mais qualidade que muitos jogos acabados ainda está em fase de construção portanto é preferível deixar na vossa wishlist pela versão completa. Infelizmente o espírito do tempo (também conhecido como temporizador do Twitch) eliminou a Caça ao Indie do Ricardo Correia, comigo a funcionar como consciência em voz off, senão poderiam ver em diferido tudo aquilo que aqui descrevi.