Sei de pelo menos uma pessoa na redacção do Rubber que ao ver este artigo e perceber que se trata de um metroidvania vai automaticamente dizer “mais um?”. Um género que foi durante muito tempo algo tão raro como pessoas dentro das jotas que lá estejam apenas pelo sentimento de missão, mas que hoje é um fungo difícil de retirar do mercado indie de videojogos.

JackQuest: The Tale of the Sword, é um jogo retro desenvolvido pelo estúdio brasileiro NX Games, o one-man show de José Neto, que o criou completamente sozinho. Apesar de arrancar com o mais cliché dos inícios, em que uma “princesa” desamparadamente é raptada por uma criatura demoníaca que nos leva para o submundo.

É claro que nos sobra a tarefa de descer aos confins subterrâneos para a salvar, de espada em punho que milagrosamente encontramos nos primeiros segundos da nossa descida.

Como 2D retro action platformer, JackQuest traz-nos ideias bastante interessantes, com uma execução que vai desde o surpreendente ao imperdoável. É claro que tudo isto ganha outra escala quando percebemos que todo o jogo foi feito por uma pessoa só, que desenvolveu o jogo de fio-a-pavio, da arte à programação. E olhando para o resultado final, é realmente impressionante que uma pessoa apenas consegue fazer, e faz-nos relativizar as dificuldades dos quais equipas maiores afirmam ter.

JackQuest tem alguns elementos de metroidvania, como não seria surpresa na era corrente, em que incontáveis jogos indie parecem ter redescoberto o género. Mas este jogo leva mais longe a ideia de mapa aberto, criando um sistema labiríntico quase todo acessível (não fosse necessitarmos de itens específicos para o alcançar, como botas de salto duplo ou um medalhão para respirar debaixo de água).

Ao contrário de outros metroidvanias, JackQuest deita fora os mapas clássicos que se vão abrindo progressivamente, em detrimento de uma bola de cristal que nos mostra um zoom da nossa localização no labirinto. Podemos mover a visualização do labirinto, mas dado o zoom que ele tem e a falta de detalhes não demora muito a perdermos a nossa localização num sem número de plataformas quase todas iguais.

O número e diversidade de inimigos é abundante para o tamanho deste jogo, mas são as boss fights as zonas de maior interesse de cada sequência do labirinto, com estas criaturas a terem uma ligação conceptual e mecânica àquelas que encontramos nas plataformas que a antecedem.

As animações do protagonista e dos inimigos são verdadeiramente bem conseguidas, e quase que nos fazem esquecer a esterilidade do fundo de todo o jogo. Já que JackQuest (aliteração não intencional) é passada no subterrâneo, o que nos parece é que estamos a jogar um jogo inteiro dentro do tipo de níveis 1-2 do Super Mario Bros. O que, em contraponto com a qualidade visual dos personagens, acaba por ser uma valente desilusão.

Outra desilusão similar acaba por ser o combate. Ainda que as mecânicas para derrotar os inimigos e os bosses passem por conhecer os seus padrões, depois de ter morrido várias vezes (no que considero ser formas injustas) senti que havia um grande problema nas hitboxes da nossa espada, do nosso protagonista e das criaturas. Foi simples senti-lo com as aranhas que por alguma razão estranha por vezes pareciam imunes ao brandir da minha espada, ao mesmo tempo que me disparavam projécteis que eu achava que devia ter conseguido desviar mas que me tiravam vida.

O sistema de vida é também ele injusto, e depois de muito tempo passado em JackQuest senti que passou por uma decisão de extensão artificial da sua longevidade, do que solidez mecânica. O nosso protagonista tem vários corações, e sempre que levamos um hit perdemos metade de um deles. A única forma de restabelecê-los é através de poções que… curam apenas meio coração de cada vez e são demasiado caras para comprar. Os inimigos não deixam cair corações, nem os save points os restabelecem, levando-nos muitas vezes a sentir uma tremenda injustiça pela impossibilidade de sobrevivermos de forma mais eficaz, com muitas criaturas a atingirem-nos sem sabermos bem porquê.

JackQuest: The Tale of the Sword é um trabalho surpreendente feito por uma pessoa apenas, mas tem demasiados problemas inerentes para conseguir elevar-se dentro do género que tem tido excelentes lançamentos nesta fase de revivalismo. Por outro lado não há praticamente nada de inovador ou de extraordinariamente interessante que traga para a mesa para o tornar memorável dentro das poucas horas da sua duração. Somando a isso o seu preço de 8,19€ que poderá ser melhor empregue em mais de uma dúzia de jogos do género, e JackQuest ficará na nossa curta lembrança como uma sombra do potencial do que o jogo poderia ter sido.