De facto não sabia como analisar este jogo, por um lado não me pareceu apenas mais um battle royale. Mas numa época em que os jogos deste género surgem como cogumelos, a probabilidade é mesmo de ser apenas mais um. Seria injusto ficar só por aqui com um preconceito para os jogos do género, mas Apex Legends consegue pegar nos battle royale e construir-se de uma forma bastante competente, e até sai fora da trajetória do que se podia esperar sair sobre a alçada a EA.

É a “autêntica excepção” dentro da própria casa da EA já queimadinha com as micro-transações.

Visualmente é agradável à vista sem ser demasiado pesado

Primeiro que tudo a Respawn Entertainment assumiu todas as decisões no desenvolvimento do jogo o que quer dizer que podemos esperar pouca ou nenhuma mão da EA. Quer dizer, alguns aspectos mais comerciais da gigante norte-americana estão lá, no entanto o que podemos comprar é tudo cosmético. Não sou um jogador assíduo de battle royale, o género não me aproximou mais do que a necessidade curiosa de experimentar, já que este jogo parecia tão promissor.

Os valores de probabilidade de drop nas caixas estão todos descritos

O que é o Apex Legends?

É muito simples dizer que é outro battle royale, porque é, mas tem mais que isso, tem o ADN do Titanfall, a historia passa-se 30 anos antes dele e só não tem Titans na sua essência e mais umas coisinhas que não são muito importantes. É um popcorn-shooter, é um battle royale e um hero shooter numa embalagem só..

Quando morremos não ficamos propriamente a secar, há sempre a esperança que a nossa equipa nos consiga ressuscitar num beacon.

Porque as regras resumem-se a percorrer um mapa em busca de armas, munições, boosts etc.. e claro, atravessar zonas hostis de inimigos que teremos de eliminar se quisermos ser os sobreviventes, mais importante nesta regra que define um género é estarmos conscientes que a área se vai reduzindo, quem ficar de fora recebe dano do ambiente e isso é uma característica obrigatória para um battle royale: obrigar-nos a estar em constante movimento, não sabermos onde o inimigo se encontra pois vem todos de pontos diferentes. Quando efectuamos o salto temos que escolher um bom ponto de partida e conforme vamos conhecendo mais o mapa sabemos onde devem estar os melhores itens.

O mapa é diversificado e as legendas fáceis de ler.

O que há então de diferente de outros Battle Royale?

As classes, também foi buscar inspiração em jogos como Overwatch onde temos uma panóplia de heróis, cada um com a sua especialidade, eu gosto disto porque cada pessoa tem a sua abordagem e o seu estilo. Eu gosto de ser suporte, há quem prefira ser tanque, ou batedor, sniper etc. São 8 especialidades e 8 heróis para escolherem a vosso bel-prazer.

8 herois cada um na sua classe de especialidades.

Mas não é por ai que é diferente, é mais diferenciador de outros battle royale. É um jogo mais focado que os restantes, certos aspectos de distracção foram atalhados e simplificados, por exemplo o nosso inventário é preenchido enquanto existir espaço e os attachments do equipamento e armas é automaticamente preenchido segundo as compatibilidades, por exemplo, uma mira duma espingarda vai para armas deste tipo, e por aé em diante. Itens que não temos equipados e não são necessários os que estão nos slots do inventário ficam logo marcados como desnecessários.

É fácil identificar o que necessitamos para cada arma, o sistema ajuda e visualmente não é confuso como outros jogos!

Outra “novidade” no género é podermos ressuscitar o parceiro caído da equipa, no entanto nem sempre isso constitui uma boa ideia, porque é necessário recolher a sua tag e depois levá-lo a um Respawn Beacon assinalado no mapa, perdendo-se tempo e expondo-nos mais ao inimigo. Essa simplicidade no jogo ajuda-nos a focarmo-nos mais necessário, e podem crer que dá muito jeito em especial quando estamos sob stress, seja porque estamos perto do circulo final, quer estejamos com falta de tempo. Até o guia para iniciantes nos dá uma boa explicação de como cair em Apex Legends. Literalmente.

É uma ideia velha, mas eficiente!

Como neste estilo de jogos a comunicação é uma peça chave, a Respawn Entertainment adaptou uma solução muito simples, não digo que já tenha sido usada, mas está mais refinada ao ponto que quem não possuir um headset para comunicar, já não está tão limitado.

Também vi algumas similaridades com PlanetSide 2, um jogo que joguei algum tempo, com um mapa bastante aberto, não tão pequeno como o Apex, colorido e agradável, e que apesar de ser free2play oferecia uma experiência pouco ou nada pay2win. Aliás a Respawn Entertainment prometeu apenas cosméticos, esse que podemos craftar com materiais encontrados no jogo, pontos acumulados nas partidas ou claro alternativamente atalhar isso e adquirir com dinheiro real. Entendo este modelo de negócio: eles têm que lucrar de alguma forma e esta fórmula tem sido usada com sucesso há anos como por exemplo o Fortnite.

Tudo pode ser ganho a jogar, recebemos pontos de jogos como caixas para abrir. Podemos também craftar itens com materiais.

O que mais gostei no jogo foi o design do mapa. Não tão grande como outros, não tão pequeno como muitos, mas diverso. Temos zonas mais abertas, temos zonas onde só é possível combate de luta corpo a corpo quase praticamente dito em que temos que usar armas de curto alcance com uma caçadeira, depois temos zonas menos fechadas onde temos uma liberdade estratégica mais à vontade com armas estilo SMG com uma cadência de tiro mais rápida. E uma coisa muito importante, dado que estamos dependentes de classes e trabalho de equipa, é muito importante uma equipa equilibrada, em que todos dependem de todos para que a equipa consiga chegar até ao fim. Poderá não ser para todos, mas para isso é que temos a diversidade, embora com um mercado saturado é bom termos alternativas competentes.

Alternativamente podemos nos separar no salto.

Durante o salto o líder da equipa que pode ser votado ou escolhido aleatoriamente decide onde vamos cair e conduz a equipa até ao ponto.E em toda essa aparente “salganhada” de múltiplos factores, é um jogo que requer comunicação, a indecisão e confusão são meio caminho para ficarmos perdidos.

Não é um jogo perfeito, mas é um jogo competente onde nem tudo correu bem, estaria a mentir se dissesse que tudo tinha corrido “sobre rodas”, mas não, algumas vezes o jogo perdeu ligação com os servers, até no tutorial, mas após o jogo entrar não ocorreu problema algum. Compreendem-se os problemas com a grande afluência de jogadores.

Reconheço que não é um jogo para todos os gostos, o compromisso não acarreta riscos nem custos, se não gostarem podem desinstalar. Para aqueles que procuram algo para se entreter sem a necessidade de grande investimento de tempo, é o melhor Battle Royale que joguei.

Mas o que isto tem a ver com José Régio?

Apex Legends é como um poema que tenta ser alegre mas escrito por uma autor melancólico, a tentar prever o seu futuro, pode ou não ser o seu ultimo poema e a Respawn Entertainment sabe disso, é a sua ultima oportunidade de cair nas boas graças. O tempo dirá se o destino do jogo verá a gloria ou a sua desgraça.

E com isto deixo-vos um excerto do poema “Cântico Negro” de José Régio:

“Vem por aqui” – dizem-me alguns com os olhos doces

– Aquele caminho parece o mais porreiro!

Estendendo-me os braços, e seguros

– Esta esquina tá segura eu olho-vos as costas!

De que seria bom que eu os ouvisse

– O que disseste crl?

Quando me dizem: “vem por aqui!”

– É um jogador veterano vamos segui-lo

Eu olho-os com olhos lassos,

(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)

– Não consigo ver onde a minha equipa foi!

E cruzo os braços,

E nunca vou por ali…

– Burros, vão em campo aberto!

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,

– É fixe derrapar.. yupiiiii

Redemoinhar aos ventos,

Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,

A ir por aí…

– Olha perdi-me e deixei a equipa morrer sozinha!

Se vim ao mundo, foi

Só para desflorar florestas virgens,

– A roubar itens à equipa, quero tudo e tenho o inventário cheio de tralha!

E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!

O mais que faço não vale nada.

– Não faço a mínima do que faço mas eles seguem-me.

Como, pois sereis vós

Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem

Para eu derrubar os meus obstáculos?…

– Dei a volta e matei logo dois pelas costas à Rambo, não correu mal porque eram mais nabos que eu!

Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,

E vós amais o que é fácil!

Eu amo o Longe e a Miragem,

– Pimba um headshot nos cornos a 200M!

Amo os abismos, as torrentes, os desertos…

– Isto parece um salto demasiado grande daqui.. bora lá!

Ide! Tendes estradas,

Tendes jardins, tendes canteiros,

Tendes pátria, tendes tectos,

E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios…

Eu tenho a minha Loucura !

Killstreak sou o maior da minha aldeia..

Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,

E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios…

– Ai porra fui marcado como o líder de kills da partida agora toda a gente sabe onde estou.

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.

Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;

– A culpa é deles estarem acampados e a minha equipa ser uma cambada de noobs!

Mas eu, que nunca principio nem acabo,

Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

– Mais uma partida, que esta correu bem.