Caçada Semanal #194

Não há géneros mortos: há géneros adormecidos. Os 3 indies desta caçada provam isso mesmo, que o que muitos consideram ser fruto do passado são afinal gigantes em hibernação à espera de trazer para o presente os triunfos criativos do passado.

The Spy Who Shot Me

Falem a alguém da N64 e alguns nomes vão saltar logo à memória. A probabilidade desses nomes serem Mario 64 ou Goldeneye 007 (dizem) ser perto dos 90%, segundo uma estatística conduzida por mim ao meu grupo de amigos próximo. As melhores lembranças das figuras poligonais que representavam em digital a fisionomia de Pierce Brosnan e do seu James Bond, e a forma como o jogo desenvolvido pela Rare marcou um dos maiores sucessos dos FPS exclusivos de consola de sempre.

The Spy Who Shot Me é uma homenagem em jeito de paródia da aura de Goldeneye 007, e não pelo multiplayer em split screen (que este indie não tem) ou um enredo sério no seu modo campanha (que obviamente não tem). The Spy Who Shot Me está para Goldeneye 007 como Johnny English está para os filmes de James Bond: uma nota humorística sobre os feitos do maior espião de sempre.

Neste FPS com aura de arcada não podemos esperar demasiada seriedade. Aliás, o ponto alto de um jogo que lauda um género num período que considero ter envelhecido mal, vale pelos seus momentos de humor non-siquitur e que demonstram que a sua escrita é o ónus de todo o jogo. The Spy Who Shot Me é um bom jogo para comprarem em promoção se quiserem uns bons momentos de riso.

Re-Legion

Já pronunciaram o título deste jogo em voz alta? Já? Perceberam? É que eu só percebi quando comecei a jogá-lo faz hoje uma semana no Caça ao Indie. Re-Legion é um promissor RTS cyberpunk em que controlamos uma versão sci-fi do pastor Edir Macedo (ou outro congénere) pelas ruas de uma metrópole decadente onde as corporações dominam de forma selvagem.

Digo promissor porque como podem ter visto pelo meu stream da semana passada, por alguma razão eu não consegui avançar do tutorial. O trigger que deveria existir para avançar o jogo estava simplesmente ausente e eu acabei por ficar preso na primeira sequência, e ainda não consegui ter tempo para o reinstalar para ver se isso resolveria o erro.

Mas a promessa de ter um personagem principal que vai convertendo cidadãos em acólitos, e que os usa para o combate através de transformações de fé e de um conjunto de habilidades deixou-me com água na boca para perceber o quão bom este jogo cyberpunk com um grande pendor de religiosidade é. Mas isso só depois do jogo decidir avançar para além do tutorial.

Earth Atlantis

Dos três jogos apresentados nesta caçada, é o único que não é exclusivo do PC, e que até já foi lançado originalmente na Switch. Visto que se trata da exacta mesma versão que depois foi lançada em Xbox One e PS4, mas lançada quase 2 anos depois em PC, recupero as mesmas palavras que escrevi em Novembro de 2017.

Earth Atlantis, do estúdio Pixel Perfex vai também mergulhar num género em voga na NES e que tem ganho um novo alento nos últimos anos, os schmups. É claro que no caso de Earth Atlantis, dizer “mergulhou” é levado de forma literal, ou litoral, se quiserem, visto que o jogo se passa num ambiente submarino, e que temos de sobreviver a todos os perigos com o nosso submarino/batiscafo, disparando projécteis e mísseis.

Sem fazer grande diferença mecânica, e sem inovar grandemente em comparação com tantos outros shoot’em ups que nos ocuparam nos últimos 30 anos, nem sequer com grande inventividade nas boss fights, é a direcção artística em tons sépia e com todos os elementos desenhados como se fizessem parte da cartografia do séc. XIX que o tornam uma verdadeira delícia, especialmente se pudermos olhar no ecrã da nossa TV aos muitos pormenores que o compõem.