Cada vez que olho para o mercado de videojogos fico com uma impressão maior que já não existe espaço para jogos de médio custo. Quando falo em médio custo, não estou a referir jogos que custam €20 ou €30 porque disso há aí aos pontapés com maior ou menor qualidade, estou a falar de jogos com orçamentos de produção médios, ou feitos por empresas de médio porte que estão cada vez mais a desaparecer.

(Faço já uma ressalva que esta é apenas a minha opinião, sem ser uma verdade absoluta e mesmo assim irão sempre existir excepções aos meus argumentos.)

Os videojogos que são lançados agora e têm algum sucesso começam a cair em duas categorias. AAA com orçamentos ridiculamente altos e equipas de produção gigantes, ou indies de baixo orçamento que por razão X ou Y encantam o público no geral e têm vendas enormes enquanto são aclamados pela crítica. Mas e “Os Outros”? “Os Outros” jogos e não óptimo filme de terror do Alejandro Amenábar que vale a pena ver, começam a cair num vácuo de esquecimento e más críticas.

Jogos como Shadow of the Tomb Raider, PES 19, Starlink: Battle for Atlas, Darksiders 3 ou Crackdown 3, para mencionar apenas alguns que analisei no último ano caem precisamente nesta secção. De certeza que foram feitos com um orçamento bem superior a grande parte dos indies que andam por aí (apesar de alguns desses indies terem orçamentos bem grandes) mas ficam muito aquém de produções com um verdadeiro cunho AAA. Este cunho é algo que só algumas empresas ainda merecem apesar de muitas terem essa reputação vinda de outros tempos, a EA por exemplo é uma produtora/editora AAA. Os seus grandes jogos são os FIFA que basicamente renovam as camisolas e planteis do mesmo jogo há uns anos, e agora o Anthem, que vamos ter a nossa análise em breve mas no geral não têm sido positivas. Estas “AAA” são como aqueles clubes de futebol ou selecções internacionais que são consideradas “grandes” porque ganharam uns campeonatos nos anos 70 ou 80 e vivem dessa reputação 40 anos depois. Tipo Holanda, AC Milan e outros mais perto de casa.

Voltando ao tópico, estes outros jogos tiveram trajectos semelhantes no geral: Ou demoraram mais tempo a produzir que estava previsto devido a constrições que são causadas por orçamentos limitados, ou foram lançados a preço de AAA (€50/€60) e cerca de um mês depois descem o preço para metade. Ou ambas as situações, Crackdown 3 foi lançado a 15 de fevereiro e em duas semanas já desceu de €59 para €30. O jogo não é mau. Também não é brilhante mas é um jogo perfeitamente aceitável de meio porte. Porquê estas situações?

Não sei, estou a pensar alto de forma escrita…

Nem sequer sei se será possível dar uma resposta que seja aplicável a dois jogos que dei como exemplo, quanto mais a todos os que entram nesta situação. O que sei é que estúdios médios e até relativamente grandes estão a cada vez mais a ser absorvidos pelas empresas enormes. As Rare, Codemasters, LucasArts, Acclaim, Firaxis, Bioware, Lionhead, Atlus, Blizzard, Deep Silver, Microprose, NetherRealm, Obsidian, Pandemic, a Raven Software e tantas outras já não existem. Foram extintas de uma forma literal ou na melhor das hipóteses são agora “subsidiárias” de um overlord qualquer que não lhes permite criatividade ou alguma liberdade de acção. Ou será isso a pior das hipóteses?

Este estrangulamento dos grandes consórcios sobre os produtores de médio porte são cada vez mais evidentes, não só nos jogos mas em todos os níveis desde produção de comida, a marcas de automóveis e não esquecendo produtoras de TV, Cinema ou Editoras. E cada vez temos mais situações em que vamos ter obras vazias e genéricas produzidas pelos “grandes” e as suas subalternas com orçamentos milionários opostas a produções indie feitas quase artesanalmente. O espaço intermédio está cada vez mais vazio, um vácuo de produção que também deixa um vazio no apetite.

Por este andar, um dia, até os pequenos produtores vão acabar por ser absorvidos. E aí, vamos apenas lembrar o que perdemos.