Dreams é a mais recente aposta do estúdio Media Molecule, o estúdio responsável por títulos como Little Big Planet e Tearaway. Fazendo jus à missão do estúdio, Dreams pretende elevar o estilo de jogo “play, create, share” ao próximo nível, oferecendo um conjunto de ferramentas criativas nunca antes visto num jogo. Basicamente, Deams pretende oferecer a todos os jogadores de PS4 a possibilidade de criarem quase tudo o que podem imaginar e jogarem tudo os que os outros imaginam também. Após a pequena oportunidade que tive de jogar o jogo nos estúdios da Media Molecule, posso garantir que nunca ansiei tanto por um jogo.
Depois de alguma habituação aos controlos, para os quais existem muitos tutoriais, as ferramentas existentes permitem-nos percorrer o espectro criativo desde a sua base até ao detalhe mais ínfimo. Podemos esculpir, pintar, desenhar, criar música, animações, movimentos de câmara e iluminação e incluir elementos de lógica num sistema de programação muito visual e intuitivo.
Dentro de cada ferramenta há múltiplas opções cheias de complexidade para personalizarmos a criação ao nosso gosto, sendo que não tive tempo suficiente de analisar as ferramentas de lógica com profundidade. Tive o prazer de ver o director artístico do estúdio, Kareem Ettouney, a criar uma ilha com estruturas arquitectónicas e ambientes paisagísticos surreais de uma maneira que não pensava ser possível. A única maneira que o tenho de descrever é puro estado de fluxo. Com recurso a comandos MOVE, Kareem criou algo extremamente belo de uma maneira rápida, divertida e prática. Era como se a interface entre o artista e a arte quase desaparecesse, à medida que Kareem navegava entre escultura, pintura, ferramentas de replicação e sistemas “drag and drop” e fazia ajustes grandes e pequenos com a mesma eficiência e facilidade. Óbvio que Kareem tem anos de experiência com Dreams, mas existem tutoriais sobre praticamente tudo o que podemos fazer no jogo e os criadores pretendem continuar a ampliar a oferta existente, com masterclasses de técnicas avançadas guiados por criadores experientes e tutoriais mais teóricos sobre o que constitui um bom level design, ou uma boa animação para personagens. Desta maneira, torna-se possível criar jogos inteiros, mas podemos também apenas criar uma personagem, um objecto, ou um quadro ou pequeno vídeo e partilhá-lo com todo o Dreamiverse (a globalidade de criações e jogadores de Dreams). Este parece-me ser um dos pontos mais fortes de Dreams. Não somos limitados a fazer algo extremamente complexo, podemos cingir-nos a fazer algo simples e rápido, como uma flor ou um outro objecto qualquer, e retirar prazer disso ou de ver outros jogadores a usarem as nossas criações nas suas. Se não nos sentirmos ainda capazes de criar algo de raiz, ou precisarmos de alguma inspiração, podemos pegar em qualquer objecto, nível ou música criada e publicada por outros jogadores e alterá-la ao nosso gosto, facilitando muito o processo criativo.
No entanto, se não quiserem criar nada, podem percorrer todas as criações artísticas disponíveis e jogar, observar, ver, ouvir ou mexer nelas. O ponto mais interessante deste sistema é que há sempre algo a fazer para todos os níveis de jogador, desde o criador mais incrível, até pessoas com zero interesse em criar. Além disso, este sistema incentiva-nos a especializarmo-nos e a formar redes de desenvolvimento artístico, em que nos juntamos a pessoas que dominam pontos em que podemos ser mais inexperientes, para colaborar em projectos, ou simplesmente para aprender com eles. O número de pessoas envolvidas ainda não foi finalizado, mas poderão criar quatro pessoas ao mesmo tempo no mínimo, no jogo final.
Graças ao beta que terminou há cerca de duas semanas, já existe uma quantidade muito interessante de coisas para jogar, mesmo para quem não tem qualquer interesse criativo no jogo. Com o Early Access a começar em Abril (que infelizmente não está disponível em Portugal), as portas vão-se abrir a inúmeros outros criadores, o que irá suplementar ainda mais o já extenso Dreamiverse. Para além disso, a versão final do jogo irá também incluir um modo de história criado pela Media Molecule, por isso não me parece que o jogo terá falta de conteúdo. Todas as semanas irão ocorrer diferentes community jams, para desafiar a comunidade e incentivar conteúdo novo. Se há algo de que a Media Molecule nos assegurou é que vai estar sempre envolvida a ajudar a comunidade, com novos templates, tutoriais e conselhos.
Na sua raiz, Dreams não só é uma ferramenta artística inigualada em termos de âmbito de possibilidades oferecidas num único pacote, tocando em praticamente todos os domínios artísticos, como o faz de maneira profunda e pessoal. Ao mesmo tempo, disponibiliza uma quantidade de assets teoricamente ilimitada, não obrigando ninguém a ser um criador nato, ou a dominar todos os seus aspectos, oferecendo diversão para todos os tipos de jogadores. O beta provou que a comunidade existe e está envolvida, o que praticamente garante que irá haver conteúdo novo e de qualidade durante muito tempo, para aqueles que apenas querem desfrutar dele sem criar. Dreams promete tornar acessível a cada um de nós as ferramentas para libertarmos as nossas capacidades criativas, e ao mesmo tempo, oferecer oportunidades de jogabilidade que de outro modo seriam impossíveis , colocando nas mãos de cada um de nós o poder de sonhar, de jogar, criar e partilhar. Sem ter possibilidade de ter o produto final nas mãos, não se pode recomendar uma compra com certeza, mas o potencial deste jogo é enorme e a Media Molecule está 100% investida em torná-lo numa experiência incrível para todos. Será de certeza, um dos jogos a seguir em 2019.