É tão fácil falar de almas gémeas. Não há comédia romântica que não exista a criar um sem número de acasos felizes para que duas pessoas se encontrem, e percebam que existe uma força metafísica que as conseguiu unir, independentemente da distância. Para os humanos é fácil. Há biliões de pessoas no mundo, e a probabilidade de encontrarmos a nossa alma gémea é grande. Pode ser difícil, mas é possível. Pode ser qualquer uma das 7,7 biliões de pessoas e a Maria Leal. Agora se falarmos de pequenas bolas brancas conscientes pixelizadas apenas com olhos o caso complica-se.

Esta é a história de Jack e Jill, duas bolas brancas apaixonadas num mundo de quase 8 bits a preto e branco, fadados a constantes encontros e desencontros. Um 50 First Dates em pior, em que o Adam Sandler não tinha apenas de se apresentar todos os dias à Drew Barrymore, mas quando chegasse ao pé dela ambos teleportavam-se e ele tinha novamente de percorrer um caminho tortuoso para a encontrar. E ao invés de 50 primeiros encontros falemos antes de 140 situações de separação como acontece a Jack e Jill.

Rohan Narang, o criador de Jack ‘N Jill DX é um deus cruel. Permitiu que Jack e Jill se conhecessem num oceano de improbabilidades mas impede-os de estarem mais do que meros segundos juntos. Jack passa uma série de provações, encontra Jill, e puff, a breve escuridão deixa antever um mundo reinventado com apenas uma ideia em comum: Jill encontra-se longe de Jack, numa zona de difícil acesso.

Para Jack a raiva do afastamento de Jill é tanta que quando ele começa a correr para a encontrar não há nada nem ninguém que o consiga controlar, parar ou comandar para além de o fazer saltar pelas muitas plataformas e escalar paredes com esse ímpeto.

À medida que os 140 níveis de separação vão aparecendo, a dificuldade crescente vai demonstrando as novas ideias do seu deus sádico de como manter Jack a milhas de Jill, ao mesmo tempo que lhe vai dando novas capacidades para enfrentar esses mesmos obstáculos. Mas no preciso momento em que Jack se aproxima de Jill o mundo tal como ele conhece acaba. E começa uma nova caminhada aparentemente interminável para o reencontro de duas almas gémeas num mundo em constante reinvenção que os odeia e que odeia o seu amor.

Jack ‘N Jill DX é promovido como um simpático jogo de plataformas que nos leva para as melhores memórias do Game Boy. Mas no fundo é mais do que isso. Sob a superfície erroneamente simpática e simplista está uma das mais trágicas histórias de amor dos videojogos, de dois amantes que têm de lutar contra tudo e contra todos, morrer e renascer sem nunca conseguir parar de correr, para estarem juntos. Mas nunca vão estar. E podem agradecer o seu amor impossível à crueldade de um criador que os fez existir para saberem que vão estar sempre a segundos de serem felizes sem nunca o serem realmente.