Não é segredo nenhum que aqui no galinheiro no seu geral, e eu em particular, somos fãs dos jogos da Mi-Clos Studios. Seja o óptimo Out There, os seus spin-offs Chronicles ou Void and Medler, os jogos da Mi-Clos são marcados por um ADN próprio, seja ele notável na sua jogabilidade ou na sua arte visual, são inconfundíveis. Sigma Theory não foge a essa regra apesar de ser provavelmente a produção mais audaz do estúdio francês.
De seu nome completo Sigma Theory: Global Cold War não é fácil de explicar, apesar de o classificarem como um jogo de estratégia por turnos, é bem mais que isso, é um jogo de espionagem que estaria tão bem num tabuleiro em cima de uma mesa como está no PC. Quem já passou algum tempo com os jogos mencionados acima vai estar familiarizado com alguns dos aspectos base de Sigma Theory, mas o jogo sobe de tal maneira a escala de complexidade que é quase o mesmo que dizer que reconhecemos as parecenças de um dandy de século XIX e de um hipster no século XXI (exemplos apenas analógicos, nenhum dos jogos tem aspectos Dandy ou Hipster).
Sigma Theory é acima de tudo um jogo de espionagem com consequências graves, para o jogador e não só. Numa premissa simplificada, somos um gestor de espionagem, a nossa função é juntar uma equipa de elite vencer a guerra fria mundial que se gerou em torno de encontrar a titular Sigma Theory, um conjunto de avanços científicos que irão mudar o paradigma da humanidade e a sua descoberta está ao alcance de um punhado de cientistas. Obviamente todas as nações do mundo querem o mesmo objetivo, nós e a nossa equipa escolhida a dedo tem que usar sedução, subornos, ameaças, violência para nos colocar na liderança da corrida, uma missão quase impossível, mas que nós aceitamos mesmo que todo o conhecimento dos nossos actos seja negado no caso de captura ou morte.
Espionagem é um jogo de xadrez complexo, e nós temos que escolher os nossos peões como Jim Phelps escolhia a sua equipa MI na série dos anos 60 e 70 selecionando elementos que se complementem uns aos outros: mestres de disfarce, extractores, persuasores, hackers… cada um com a sua personalidade e motivação de tal maneira vincada que a escolha da frase errada é o suficiente para que não sejam recrutados por nós. Quando temos a nossa equipa montada está na altura de trabalhar Ao Serviço de Sua Majestade. Ou do presidente da nação para a qual escolhemos trabalhar. Movimentamos os nossos agentes pelo mapa para que recolham informação ou persuadam cientistas a trabalhar para o nosso lado. Também terão de efectuar missões de contra-espionagem para proteger os nossos segredos enquanto tentamos gerir conflitos diplomáticos. Tudo com o devido cuidado porque só porque os nossos agentes têm uma Licença para Matar nenhum deles pode dizer que Só se vive duas vezes, eles podem ser capturados ou mortos. Todos são substituíveis e as missões são sempre mais importantes que eles, às vezes temos que Viver e Deixar Morrer, porque o Espectro da derrota é constante e o Mundo não Chega para todos os que o querem dominar, só que com um lema de Nunca digas Nunca, continuamos a lutar pelo nosso objectivo até ao fim.
Gerir uma equipa em missões não é fácil, juntar essa gestão a diplomacia com outras nações que procuram atingir o mesmo objectivo, e corporações que nem sempre são totalmente legítimas nos seus negócios e intenções são dificuldades acrescidas mas também desafios interessantes. Sigma Theory tenta equilibrar todas as suas vertentes da melhor maneira, em especial tenta mostrar o seu peso através das consequencias das nossas decisões. É um jogo, mas é um jogo em que todos os movimentos têm que ser ponderados e calculados com vários passos de antecedência, pois as repercussões raramente são imediatas.
Sigma Theory ainda está em Early Access e apesar de uns bugs mostra que a Mi-Clos conseguiu evoluir o seu código genético para uma espécie nova, as movimentações características e às vezes fatais de Out There estão lá, apenas são retiradas de uma mapa espacial para serem colocadas numa cidade que temos que escapar, os diálogos desse e de Chronicles também estão lá, mas com uma profundidade maior, ramificações mais complexas e hipóteses menos fechadas. Há mais para jogar aqui, há um desafio maior, uma evolução natural de um caminho que começou há alguns anos e ainda vai fazer história no mundo dos jogos.
Sigma Theory é sem dúvida um jogo a manter debaixo de olho e uma compra segura para fãs do estilo.