Já pensaram em fugir de casa? Agora, têm a oportunidade de viver a fantasia!

Screenshot de Hades. Hades está no centro, a olhar para o ecrã mas a falar com o filho Zagreus. Em cima diz "How dare you, boy! Learn well to shut that foolish mouth of yours, or I shall shut it for you!" e em baixo diz "DARE"

Não! Vou-me embora!

Hades é o novo jogo da Supergiant Games Foi dos primeiros jogos a sair na Epic Games Store quando esta foi anunciada, e ainda está em early access. Até à data de publicação deste artigo ainda vai no terceiro grande update, e os próximos vêm de mês a mês. Prometem que terão sempre coisas novas, mas ainda não sabemos quanto conteúdo novo faz com que a compra antecipada valha a pena.

É um rogue-lite dungeon crawler, focado na acção (como o Bastion) e nas consequências de perder (como o Pyre – para além da análise, podem ler a minha opinião nos comentários). A história é baseada na mitologia Grega, especificamente na personagem Zagreus que, nesta história é introduzido como filho de Hades. Quem souber da lenda pode ter alguma ideia por onde o enredo está a ser encaminhado, mas quanto dela o jogo pega não é ainda claro.

Vamos falar com mais detalhe sobre ela. Eu gosto de descrevê-la assim (com os nomes em Português, que eu não sei Grego antigo e os Ingleses não vão ganhar hoje):

Screenshot do jogo Hades. Uma imagem do quarto do Zagreus: no topo direito, um espelho e duas estantes, ao centro esquerdo uma secretária e uma entrada, no meio direito uma saída, e em baixo do lado direito uma cama. Zagreus está nocentro.

Duvido que os quartos de adolescentes rebeldes fossem todos assim, mas o espírito é o mesmo.

Zagreus, o filho gótico de Hades, quer fugir de casa ao descobrir que a mãe não é quem ele pensava que era, e que ela está na superfície. Conta com a ajuda dos tios e primos valdevinos e vaidosos em Olímpio, destruindo as salas labirínticas e aleatórias de Tártaro e derrotando os servos de Hades que as guardam. Mas como está no inferno, se morrer vai parar a casa. Que é onde está o pai, zangado e chateado e mais resmungão que o costume, sempre mais empenhado no seu trabalho do que os irmãos e ressentido que estes estejam a ajudar o filho a conseguir aquilo que ele próprio nunca conseguiu: sair do Inferno.

Tão dramático como qualquer outro conto da altura. E se a lenda toda for aplicável… ui.

O enredo é bastante linear. Até agora não há forma de desviar de como a história é apresentada: se perdem, é suposto, e se têm sucesso até onde o jogo permite ir, também é suposto. A única coisa que pode variar de jogador a jogador é com quem se dão melhor ou são neutros (o ódio já vem por defeito em alguns casos). Isto acontece quando oferecem Ambrósia – uma das várias coisas que podem apanhar em cada tentativa-  a alguma das personagens com que podem falar. Ao darem presentes, elas dão mais informação sobre o mundo e como elas se relacionam. E dão presentes também e… gostam mais do Zagreus…

Screenshot de Hades. Uma sala em tons verdes com monstros laranjas e amarelos. Zagreus está no centro.

Os cidadãos comuns não gostam muito de ti, Zagreus.

Como é que se apanham as garrafas de ambrósia? Tentando fugir, claro. É fora de casa que o jogo separa o desenvolvimento da história e maior exploração do universo com A Porrada. Dentro de casa podem usar o que recolhem em Tártaro, e fora de casa vão aparecendo alguns momentos de pausa e enredo, mas fora isso a linha é clara. Podemos apanhar ouro, que pode tanto ser usado fora de casa como pode, depois de algumas tentativas, ser gasto dentro. Também encontram chaves que desbloqueiam habilidades, e… Escuridão (eu disse que ele era gótico), que pode ser gasta nas habilidades. E uma das coisas mais importantes: podem receber a benção dos outros Deuses!

As habilidades que desbloqueiam com os objectos que apanham são boas e trazem muitas vantagens, mas são as dos Deuses que realmente tornam o jogo interessante.

Para derrotar os seus inimigos, Zagreus tem quatro manobras: um ataque normal, um especial, um ataque mágico ranged e um dash. Não há combos exactamente, apenas algumas combinações que dão mais danos se forem desbloqueadas. O que os Deuses dão são melhoramentos a estes ataques, com efeitos apropriados a cada um deles. A benção de Zeus adiciona dano elétrico e distribui dano em cadeia a inimigos que estejam perto do que foi atacado, a de Afrodite deixa os inimigos fracos, a Atena reflecte ataques, o Ares dá dano posterior, etc. Como aparecem aleatoriamente, não deixam criar nenhuma estratégia, mas obrigam a criar uma boa adaptação a todas as circunstâncias. Também mudam conforme a arma que escolhem, por isso há muito a explorar nessa área.

A Afrodite é a minha preferida. Combinada com deuses como Ares que dão muito dano, limpar as salas fica muito mais rápido.

Tirando isso, e outros melhoramentos que podem apanhar pelo caminho, o combate é bem directo. Entram numa sala gerada aleatoriamente, usam uma de quatro armas para destruir e evitar os inimigos, apanham uma recompensa, compram coisas se a oportunidade aparecer, e continuam para a próxima sala aleatória. Grande parte dos inimigos não são particularmente difíceis (alguns são só chatos), mas o objectivo é sobreviver o máximo de tempo possível.

Isto tirando os… bosses. Com um conjunto de ataques bem mais variados e impressionantes, é preciso mais do que atacar (quase) indiscriminadamente para os derrotar. Mas esta dificuldade ainda está a ser testada – antes do primeiro update consegui algumas vezes derrotar o primeiro boss, no primeiro não consegui nenhuma vez, no segundo consegui derrotar à primeira, sem perder quase vida nenhuma, e no terceiro já parece haver mais algum balanço. Claro que aumentar os stats ajuda, mas sente-se bastante a diferença de dificuldade. O input dos jogadores tem sido indispensável neste aspecto – e se gostam deste tipo de jogos, entrar agora é uma boa forma de estar envolvido no seu desenvolvimento!

Screenshot de Hades. Megaera, uma personagem de pele azul, cabelo claro, e roupas azuis, fala com Zagreus. Ela segura um chicote vermelho e rosa e diz "Get on your guard, Zagreus."

A polícia do Submundo e a primeira boss, a fúria Megaera.

Curiosamente, a coisa que tem desenvolvido menos depressa em Hades é a parte visual. Compreensível por um lado, pois a arte já está a um nível impressionante e quase que não precisa de alterações (um dia faço uma palestra só sobre a direcção de arte da Jen Zee) e por outro… ainda há muitas personagens com retratos por fazer, mas como têm até agora introduzido uma personagem nova por update, estão sempre a fazer retratos novos para aquelas que saem, e deixam as outras para trás. Isto não quer dizer que estagnou: o UI melhorou, os modelos também estão mais detalhados desde o lançamento. Mas caramba, é sempre um deleite olhar para qualquer screenshot desta companhia.

Tal como sempre mantiveram a mesma pessoa como directora de Arte, o mesmo se passa com a banda sonora – Darren Korb continua a impressionar com adaptações perfeitas para cada ambiente criado por cada jogo. Não ouço tantos estas novas músicas como ouvia as outras (também ainda só tem uma música no Spotify deste jogo), mas cabem na estética mais pesada dos visuais.

Screenshot de Hades. Uma paisagem de Asphodel, com lava e chão em tons escuros e frios.

Os campo de Asfódelos são bem mais quentinhos do que estava à espera.

Mas apesar das qualidades positivas, também vistas noutros jogos da Supergiant Games, é algo que acaba sempre interessando bastante quem gosta, e aborrece quem não quer muito saber. E embora me possam dizer que isso se aplica a qualquer outro jogo ou pedaço de média diferente, no caso desta companhia é o que mais ouço: “É giro, tem uma banda sonora porreira, parece interessante, mas…”.

Por isso, se gostarem do que leram aqui, comprem Hades enquanto ainda está a desenvolver! Perceber como um jogo com uma base já bem definida afina as suas mecânicas é bastante interessante!

Hades está disponível para PC na Epic Games Store.