Caçada semanal #199

Quando vejo notícias de grandes empresários (e de grandes empresas) declararem bancarrota penso sempre no mais próximo que tive de viver as suas vidas. É claro que esta proximidade existe apenas em videojogos, que as diferenças abismais entre a minha conta bancária e a dessas personalidades (mesmo numa vida pós-bancarrota) há-de ser tão comparável quanto a qualidade do Bruno Fernandes a qualquer outro médio em Portugal (e com isto faço a minha segunda referência futebolística numa semana, e esgoto o meu rácio anual de menções ao mundo “da bola”).

Depois de Foundation e de Tropico 6, houve outros três indies de estratégia e de gestão que nos vieram parar às mãos no passado recente.

Mango Cart

Uma experiência curiosa: abram o Google e pesquisem “Mango Cart”. Enterrado em muitas imagens de latas de cerveja com sabor a manga (será bom?) e muitos sites a referenciar a dita cerveja, encontram as primeiras referências a este pequeno e simpático indie de gestão de uma empresa de importação e exportação de fruta.

Isto não é metafórico. Não há aqui ninguém a mascarar outro tipo de gestão, um em que temos de gerir um clube de futebol sem quaisquer escrúpulos e a recorrer a qualquer mecanismo necessário para suceder. Mango Cart é mesmo um jogo de gestão de uma empresa de fruta.

Mecanicamente sólido, ainda que com alguma superficialidade da componente de gestão, com um loop relativamente determinado entre o que a nossa empresa tem de fazer ao longo do ano, é na componente visual que a desilusão de Mango Cart nos chega.

Por 7,99€ parece-me que a equipa da AkriGames ainda tinha muito que trabalhar para fazer do UI de Mango Cart algo merecedor do nosso investimento, que neste momento tudo parece demasiado naïf para merecer que o jogo seja comprado no seu valor total. Num grande desconto de Steam? Talvez. As mecânicas de troca comercial merecem isso.

Waves of the Atlantide

Há jogos de tabuleiro que podiam facilmente ser videojogos. E há videojogos que parecem fazer ainda mais sentido em tabuleiro. Waves of the Atlantide é um desses casos, um simples mas estranhamente funcional intersecção entre um jogo de tabuleiro, um RTS e, de uma certa forma, um Battle Royale.

Surpreendidos pelo facto desta verdadeira epidemia de Battle Royale chegar até aos jogos de estratégia em tempo real? Não são os únicos. Como é que se mistura estes ingredientes num prato só, como quem faz uma sandes de banana com atum e beringela? Simples. Waves of the Atlantide é um 4X muito curto, em tempo real, em que temos de estar constantemente a produzir passivamente recursos, criar exércitos e expandir o nosso território, anexando hexágonos à nossa volta, e derrotando os soldados inimigos que encontramos a fazer o mesmo. Ou morrendo no processo.

A dificuldade adicional de Waves of the Atlantide é que à medida que vamos continuando a nossa estratégia expansionista, o tabuleiro vai-se “desfazendo” das extremidades para o centro, enquanto as vagas vão consumindo a terra e tornando o terreno útil num número reduzido de hexágonos.

Por 3,99€ e ainda em Early Access, Waves of the Atlantide é uma interpretação curiosa e curta dos 4X aplicados a tempo real.

Workers & Resources: Soviet Republic

Não há duas sem três, e se nós, os fãs de city builders, achávamos que 2019 ia ter na sua posse apenas 3 bons jogos do género, desenganemo-nos. De forma discreta, a surgir sem o alarido  comummente característico dos jogos indie, chega-nos um dos mais complexos e surpreendentes city builders da actualidade, Workers & Resources: Soviet Republic.

Lançado em Early Access pela empresa 3Division, responsável por outro sucesso discreto de simulação indie, o Air Missions: HIND, Workers & Resources: Soviet Republic tem o nível de complexidade e atenção ao detalhe que esperamos de um Tropico 6, mas que ao surgir presente num jogo desconhecido em alpha no Steam é coisa para nos deixar intrigados.

A diversidade de construção é surpreendente, com cada aspecto da nossa cidade a ter que ser tomada em conta, desde os meios de produção e industrialização à esperança média de vida dos nossos cidadãos. Não é apenas pela temática político-social, mas sinto que apesar de Workers & Resources: Soviet Republic ter um longo caminho de desenvolvimento pela sua frente, em nada fica atrás de Tropico 6 na sua necessidade de micro-gestão quase obsessiva.

O problema, neste momento, diria, é a falta de um tutorial, facto que questionei os developers, que prontamente disponibilizaram um vídeo de outrem em que as muitas mecânicas do jogo são esmiuçadas. Mas compreende-se que não seja uma prioridade nesta fase de desenvolvimento, em que muito está a ser ainda finalizado.

Não podia deixar de aconselhar Workers & Resources: Soviet Republic, cuja equipa de criadores tem mantido actualizações frequentes e já tem o seu jogo num excelente patamar, que satisfará o mais exigente dos fãs de city builders.