Um dos grandes clássicos da Z-Man que presentemente se encontra já na segunda edição com expansões disponíveis é Robinson Crusoe: Adventures on a Cursed Island. Mais um jogo cooperativo de excelente qualidade de origem polaca. Foi desenhado por Ignacy Trzewiczek também responsável por First Martians: Adventures on the Red Planet. A arte principal é de Tomasz Bentkowski entre outros que colaboraram para criar mais um dificílimo jogo cooperativo, que muito aconselho.

A pedra negra e escura que tenho no lugar do coração deixou-se ‘capitanear’, por 5 segundos, pela digníssima representante de Vénus existente na capa da versão mais conhecida (1ª Edição) no meio dos jogos de tabuleiro.

(vozinha aguda) ‘Ai seu porco só pensas nas mulheres nesses termos’

Robinson Crusoé: Adventures on a Cursed Island segue a aventura de um grupo de amigos cada um com especialidades muito próprias numa ilha perigosíssima, onde consoante o cenário escolhido vão tentar sobreviver. É um jogo cooperativo de 1 a 4 jogadores. Possui quatro personagens: o explorador, o carpinteiro, o cozinheiro e o soldado. Nas suas opções básicas são semelhantes entre si. Nas suas habilidades especiais possuem diversos saberes que ajudam a maximizar os recursos encontrados na ilha.

Esperem! Antes que o lápis azul recaia sobre mim, deixem-me sinalizar a virtude!

Estão a ver? Cada carta de personagem dá para 2 dos 50 géneros existentes. A arte está bem enquadrada uma vez que é um jogo de exploração e aventura.

O soldado por exemplo possui vantagens na ação da caça

E outros dois personagens:

O personagem com que quase sempre jogo… (e depois da capa a minha segunda personagem feminina favorita do jogo <3 <3 <3 )

Um cozinheiro??? Estão a brincar? O cozinheiro safa tudo especialmente na parte das refeições. Lembro-me que numa partida foi ele que salvou o pessoal todo após tanto falhanço acumulado na ‘saide cueste apanhar comida’

O jogo em termos gerais vai-se centrar na exploração da ilha, criação de um abrigo e recoleção de recursos tanto alimentares como físicos para nos auxiliar na nossa tarefa. As diferentes missões podem ir desde a resisitir aos elementos de modo e fazer uma fogueira de modo a que o navio de salvamento nos apanhe, à captura do King Kong em filme e aprisionamento para ser levado à civilização…

Ora bem, vou aflorar muito ligeiramente o processo de jogo porque apenas pretendo dar a conhecer de modo geral o mesmo. Deixe-me avisar que acima de tudo é um jogo dificílimo e vai depender sobretudo das ações, que enquanto equipa, tomarmos. Se um elemento da nossa equipa morrer todos perdemos o jogo. Teremos que sobreviver à fome, aos elementos naturais, à doença, aos predadores e a todas as outras maldições que se esperam encontrar numa ilha que está amaldiçoada. (E sim, não são poucas!)

O aspecto geral do tabuleiro. (Sim tem cubinhos!)

A mecânica

Temos seis fases por turno. Na primeira vamos retirar de um baralho uma carta que descreve problema que tem de ser resolvido ao mesmo temo que tentamos sobreviver. Normalmente temos dois turnos (um para nos prepararmos para o problema e outro para o resolver). Por exemplo: numa manhã encontramos um cadáver na praia. Se ao fim de algum tempo optarmos por não o enterrar, a equipa num todo, sofre quebras na moral… Então o que acontece se começarmos a perder moral? Bem temos uns tokens que representam a nossa determinação.

Tudo coisinhas boas…

Na segunda fase procede-se ao pagamento da determinação. Esta é importantíssima pois permite que se executem as tarefas com um esforço menor do que o necessário. Também servem como moeda de troca pois no início de cada turno, consoante o marcador de determinação: ou recebemos, ou pagamos ao tabuleiro esta mesma determinação a fim de pagar a moral do grupo. Então, e se não conseguirmos pagar? Bem aí pagas… COM A TUA VIDA! Sim! Toda a determinação que o nosso personagem não conseguir pagar no início de cada turno afeta-o pagando com pontos de vida. Para agravar ainda mais esta mecânica, o simples facto de um dos nossos colegas estar em sofrimento afeta toda a moral do grupo… (Sim o sentimento de desespero é constante!)

Na terceira fase vamos alocar recursos às tarefas necessárias. É nesta fase que temos pleno controlo das personagens. Temos dois tokens por personagem. Cada ação bem sucedida requer estes dois tokens. Por exemplo, se quisermos dar uma de ‘sócio estou incrivelmente focado’ na construção do abrigo metemos lá os dois tokens e no final teremos um abrigo todo catita para nos defendermos dos elementos. É assim com a construção e invenção de novas ferramentas, exploração, recolha de comida ou resolução dos problemas encontrados no início do turno.

A caça é uma ação que é afetada pela a perigosidade da fera encontrada. Esta afeta o resultado. Para tornar tudo ainda mais giro, tu nunca sabes o que vais encontrar no meio da selva. Pode ser o Dodo (completamente inofensivo) ou um urso, jacaré ou outras criaturas conhecidas por serem amigas (da carne) dos humanos. (Ah se caçares o Dodo… extinguiste-o e porque era o último, perdes um ponto de moral de grupo…).  ‘Ah então vou dar uma de vegan e vou só comer frutinha encontrada na selva!’. Sim, pode-se fazer isso mas esse tipo de comida geralmente não é suficiente para alimentar um grupo. Para que mais a caça dá muita comida e pele num turno o que por vezes pode libertar recursos para fazer a missão e ir resolvendo problemas, noutro turno.

‘Então meu voltaste sem um braço?’ ‘Iá pá! Ia apanhar passarinhos e apanhei… UM JACARÉ!!!!’

A construção é daquelas a que tem de se dar mais importância de início. Vamos necessitar de um abrigo para nos protegermos a nós e os nossos recursos dos elementos. Sim os nossos recursos, porque estes podem-se estragar se não forem bem acondicionados. Por exemplo dá imenso jeito se inventarmos o mapa pois teremos um token de ação que permitirá fazer a ação de exploração com apenas um token de jogador, libertando recursos humanos para outras tarefas. Podemos fazer uma faca e um escudo para ajudar na ação de caça, ou desenvolver correias para ajudar na própria arte da construção, entre outros objetos. Teremos que descobrir o fogo para nos aquecermos ou o pote para tornar a alimentação mais eficiente… ‘Ah então é só irmos inventando tudo para gradualmente melhorarmos a nossa situação’… sim… e não. A ilha está amaldiçoada pelo que o que deu imenso trabalho a desenvolver pode num turno ser destruído por uma tempestade.

Inventar coisas por sua vez também custam recursos!

Como nem toda a ilha tem o mesmo tipo de recursos, só após a explorarmos certas zonas, é que teremos acesso ao desenvolvimento de novas invenções e acesso a novas zonas de caça. Sim, isto porque se resolvermos estar na nossa zona de conforto mais cedo ou mais tarde a ilha poderá ‘vingar-se’ através da exaustão de recursos obrigando-nos a mudar o acampamento de sítio. A exploração também é importante.

Seguidamente saber onde está a comida é uma coisa… ir lá busca-la é outra. mais uma vez termos de ser bem sucedidos nesta tarefa, a de recoleção.

Se esta fase com todas estas ações parece simples, no entanto face à severidade da falta de recursos para se fazer tudo o que necessitamos, teremos e deveremos dividir os nossos esforços num esforço de multitasking constante. É aqui que o factor push your luck se manifesta. Podemos por um token de ação por tarefa, mas aí teremos que brincar aos dados com a senhorita sorte. Diz a vozinha da prudência ‘então mas se isto é uma ilha amaldiçoada, será que vale a pena fazer um pouquinho de poke the bear?’ Claro que sim essa é que é a piada toda!

Três grupos de dados cada um para uma tarefa.

Consoante os dados ou somos bem sucedidos (sai um V) ou se falharmos recebemos dois pontos de motivação (Sim, como se faz aos miúdos gordos que nunca ganham nada mas têm prémios só por participar… cambada de floquinhos de neve). Também podemos-nos aleijar no processo por não estarmos em modo focado (sai uma dentadinha para aprenderes a não brincar ao jovem empreendedor do multitasking) e aí, perdes vida. Por fim sai o temível pontinho de interrogação. O ‘nada’ é o que todos querem, a par do V…

‘Best played with ratazanas.’ Acusem os outros jogadores mais experientes de metagaming… funciona quase sempre.

Tiras uma cartinha e se não estiver dividida em duas prepara-te para levares calduços do resto da equipa por te teres tentado armar em bom. Se estiver dividida em dois: ou fazes como um homem e assumes a responsabilidade, tipo, ‘Pessoal fiz fezes, lixei as ferramentas todas, pá importam-se de me resolver o problema?‘ e lidas com as consequências imediatamente; ou então fazes à boa maneira latina e empurras com a barriga. Não dizes nada a ninguém e envias a carta para o baralho de crises que é jogado no início do turno. Conselho: como eu sou uma ratazana nestes tipos de jogo, faço sempre isso. Como há sempre bué people a tentar dar uma tipo gaja do multitasking, quando as fezes atingirem o ventilador já ninguém se lembra de quem lentamente enojou tudo (Apontem estas pérolas de jogo tático-psicológico!)

Quarta fase: resolver as cartas de crise (Conselho: acusem sempre os outros de terem sido eles a enviarem cartas más para o baralho. Se conseguirem safar-se digam: ‘Boa equipa! Os meus esforços estão a dar resultado! ‘Bora continuar!‘).

Quinta fase, rodar o dado do tempo. Preparem-se para perder todo o trabalho já feito anteriormente! Sim é numa ilha, mas não deixam de estar expostos ao frio e às tempestades.

Sexta fase a noite…’Ai não fizeram um abrigo para se defenderem da tempestade? Dormiram ao relento? Não apanharam comidinha durante o dia, não? Paguem… COM A VIDA!‘.

Concluindo, a probabilidade de se conseguir acabar os diferentes episódios é no geral muito reduzida mas obriga a programar bem as jogadas e como sempre a rezar aos deuses da sorte por um pouquinho de clemência!

Um cenário da caixa base, onde se vai marcando os turnos necessários para efetuar as tarefas… se não conseguirem no tempo dado… perdem!

Tem mais cartas que cubinhos!

Dado o tremendo sucesso existem já para Robinson Crusoe: Adventures on the Cursed Island algumasexpansões. Altamente aconselhável é a expansão Robinson Crusoe: Voyage of the Beagle, que é igualmente difícil. Temos que ajudar Darwin a recolher espécimes de modo a que a Teoria da Evolução possa ser escrita.

É o que dá uma base sólida de rapazes ventoinha (fan boys)!

Independentemente de falar ou da base ou da expansão este jogo é muito divertido precisamente pela componente push your luck. É particularmente divertido passar de uma situação de quase controlo (o controlo total nunca existe) até a uma situação de completa desgraça. Ainda mais recompensador é fazer poke the bear e conseguir fugir sem quaisquer consequências negativas. Provocar os jogadores mais conservadores e experientes é igualmente recompensador especialmente quando se consegue ganhar por um triz. E sim, as poucas vitórias que tive foram quase sempre por um triz porque este jogo não recompensa a intrepidez nem perdoa a estupidez de quem o joga. Aconselhável para quem gosta de cooperativos difíceis e que exijam planeamento e alguma sorte.

‘REEEEEEEEE, quero cubinhos e tabuleiros com pontinhos na borda! Não quero sorte nos jogos! Quero Eurogames. Reeeeeeeeeee!’