A sensação de déja vu constante em Yoshi’s Crafted World fez-me recuar uns anos, quando o visualmente brilhante Yoshi’s Wooly World agraciou o catálogo da Wii U com um dos seus melhores jogos de um ponto de vista técnico e artístico. E não era para menos: a inclusão de um mundo enganadoramente tangível que começou com o Kirby ainda na Wii, e que encontrou no simpático dinossauro amigo do Mario uma linguagem natural. Os nossos 4 amiibos de lãs comprovam-no.

É engraçado também que da última vez que falei num artigo do Observador sobre esse mundo de lã onde Yoshi viveu, em tempos, apresentava também outra abordagem material, desta feita um exclusivo da vizinha-rival Sony, que perto do lançamento de Wooly World revisitou Tearaway para PS4. Yoshi’s Crafted World, lançado há algumas semanas é o filho dessas duas séries. Se a causa-efeito deste jogo ter nascido é minha por tê-los incluído num mesmo artigo, então assumo um tremendo mea culpa.

A Nintendo continua a olhar para Yoshi como um entry point das novas gerações para a sua linguagem muito própria. O facto da Grande-N entregar mais um jogo de plataformas “material” seu ao estúdio Good-Feel prova que esta aposta mais familiar faz parte da estratégia corporativa destes jogos, e “encosta” definitivamente os jogos de Yoshi a público mais infantil.

A experiência do estúdio japonês em misturar os mundos da Nintendo com materiais quase-palpáveis, impelidos, possivelmente, pelo sucesso da Media Molecule e do seu Little Big Planet, traduz-se na solidez crescente de lançamento para lançamento. É claro que aqui as capacidades técnicas da Switch ajudam, e muito, a construir a visão de materiais realistas que a Good-Feel quis passar.

À semelhança dos últimos jogos de Yoshi (e em extremo, os de Kirby) o desafio de Yoshi’s Crafted World é bastante baixo, servindo, como dizia, como ponto de entrada aos jogos de plataforma da Nintendo da parte do público mais novo. A inclusão, novamente, de um modo cooperativo vem cimentar isso mesmo: Yoshi’s Crafted World é um momento de partilha inter-geracional, onde os pais podem apresentar da forma mais amigável possível a sua paixão pelos videojogos aos seus filhos.

No meu caso foi o que me aconteceu com Yoshi’s Wooly World, que foi o primeiro jogo que o meu filho jogou na vida, quando tinha apenas 2 anos e meio. Para a idade dele à altura o desafio passava não só pela sua destreza, mas especialmente pela compreensão das mecânicas de apontar e atirar os ovos, tão próprias do Yoshi. Quase 4 anos depois o caso muda de figura. Yoshi’s Crafted World já foi um momento de partilha por inteiro entre nós os 2, onde o desafio agora era a parte exploratória do jogo, de encontrar todos os seus segredos e completar cada nível na sua totalidade.

Os níveis não são desafiantes per se, mas é a construção visual e material que demonstram que no caso de Yoshi’s Crafted World o level design é de excelência, não por incluir uma grande criatividade mecânica, mas por representar uma grande originalidade na forma como são construídos os elementos de cenário com cartolina.

Ao contrário de Tearaway, cujas construções em cartão eram mais poéticas, em Yoshi’s Wooly World todo o mundo se assemelha a um grande parque de brincadeira em miniatura onde todos os elementos são construídos com cartão colorido e recortado.

Sejam as árvores, os comboios, ou as casas feitas em cartão, é o aspecto cenário em miniatura perfeitamente tangível que faz de Yoshi’s Crafted World uma maravilha visual e artística, aproveitando da melhor forma essa tradução material através das capacidades técnicas da Switch. O valor superficial da componente de game design (e level design, de um ponto de vista mecânico) talvez seja fácil demais, até para um jogo que se quer como entry point para os platformers da Nintendo. Ainda acredito que o facto de um jogo ser infantil não necessita obrigatoriamente de o tornar excessivamente fácil, muito pelo contrário. Sinto que o valor e o desafio criativo de conceber um bom jogo não passa apenas por fazer uma exímia obra visual (que Yoshi’s Crafted World é) mas desenhar um jogo cujo desafio e inventividade seja um leque aberto o suficiente para cativar pessoas de qualquer idade, como o fez Super Mario Odyssey.

Mas para os trintões e quarentões com filhos em casa, Yoshi’s Crafted World é uma aposta obrigatória, um momento de diversão cuja construção visual do mundo vai fazer pais e filhos partilharem algo mais que um videojogo leve e visualmente deslumbrante: um sorriso constante por percorrer um mundo tão imaginativo.