Diz a lenda que a máscara de carnaval veneziana foi criada para que os membros da sociedade da bela cidade Italiana pudessem dedicar-se ao deboche sem ter que pensar nas consequências do mesmo por não poderem ser identificados durante os três dias que antecedem a Quaresma e o seu tempo de jejum alimentar e não só. Em Masquerada – Songs and Shadows, cujo porting estará disponível na Nintendo Switch a partir de 9 de Maio, não encontramos deboche, nem carnaval, e muito menos iremos encontrar diversão por mais que procuremos. O que é uma pena, porque é um jogo muito bonito de um ponto de vista puramente estético. Das animações em jogo num estilo cel-shaded aos set-pieces de enredo em estilo de graphic novel, é nada menos que belo.

Às vezes é complicado fazer críticas de jogos porque por mais isentos que queiramos ser, há sempre um condicionamento de gosto pessoal que influencia a nossa opinião. Podemos não querer admitir mas temos sempre um bocado de nós que pende para um lado seja porque razão for. No caso de Masquerada, eu até queria gostar do jogo, tentei bastante encontrar pontos fortes que pudesse enaltecer a opinião que tenho dele mas a única coisa que posso dizer é que é bonito. Masquerada interessou-me pelo seu ambiente numa pseudo-Veneza pós-renascentista cheia de intrigas políticas, ambições e traições e quiçá, um pouco de romance para apimentar as coisas, onde nós teríamos que guiar um herói e os seus companheiros pelos obstáculos que nos são colocados no caminho. Mas não. Não, porque a única coisa que guiamos o nosso personagem é até uma marca no chão que irá accionar um longo diálogo com voice acting integral, ou uma luta.

A quantidade de horas de trabalho que foram colocados neste voice acting devem ter sido enormes com mais de 20 actores a interpretar as várias personagens que têm alguma linha de fala em todo o enredo. E mesmo assim não impede que seja um pouco falhado, porque é limitado, é como ouvir uma peça de rádio porque não temos nenhuma opção em como fazer seja o que for. Obviamente outros jogos com voice acting são limitados também não vão mudar argumentos a meio, já estão pré-definidos, contudo na maior parte deles há alguma possibilidade de escolha, nem que seja por uma opção A ou B que irão espoletar duas linhas de diálogo diferentes.

A única parte em que temos alguma opção é no combate, escolhendo como lutamos, mas mesmo aí acabou por me desiludir porque me iludiu na sua complexidade. Usando um sistema de team-based action com capacidade de pausa para efectuar alguns comandos, os combates são realmente a única secção do jogo em que se tem alguma autonomia, mesmo que dentro do campo de combate que é por si só constricto a… bem… luta. A minha (des)ilusão no que respeita à complexidade foi quando reparei que os personagens tinham os característicos círculos em sua volta para marcar a posição de cada um, mas que o meu personagem principal tinha um círculo que parecia ligeiramente maior. Sendo um estudioso de artes bélicas e vendo o personagem armado com uma rapieira, pensei imediatamente que tinham conseguido reproduzir o alcance da arma, o limite onde um espadachim consegue atacar. O alcance é crucial em qualquer luta e verdadeiros mestres, conseguem ler o alcance do seu adversário imediatamente mantém-se na fronteira dos dois até que algum dê o primeiro passo que irá iniciar ou continuar o confronto.

Na minha mente, estupidamente, comecei a imaginar bailados virtuais em que iria colocar um personagem em confrontos mais realistas,  mas em Masquerada os limites do alcance eram apenas uma ilusão criada por mim, que não vão influenciar os restantes jogadores, mas mesmo assim preferia ver um sistema de combate diferente ao que existe, que não é mau mas considero frenético demais para o ambiente em questão, Masquerada merecia algo mais… metódico e elegante.

A história de Masquerada é engraçada se quisermos investir o tempo necessário de caminhos obrigatórias para a seguir, as batalhas são desafiantes q.b. sem serem impossíveis, mas a repetição constante de andar, accionar, lutar, andar, accionar, dialogar, andar, accionar… acaba por tornar-se cansativo. Apesar de ter elementos de RPG, não existe muito do que é o core de um RPG, a capacidade de traçar um caminho através de decisões, mesmo os elementos adicionados pelas máscaras e as suas influências são fracas em comparação com tudo o resto que arrasta o jogo para o fundo das águas fétidas dos canais da cidade.

O mais próximo que temos de Veneza no Carnaval na nossa actualidade pela quantidade de máscaras que são usadas e potencial de deboche propriamente dito é o ambiente nocturno de bares e discotecas, e Masquerada faz-me lembrar os meus tempos de solteiro em que usava ocasionalmente a “técnica do lenço” para fazer a primeira aproximação a senhoras que considerava atraentes, em que me aproximava de uma e perguntava com um lenço de pano na mão: “Desculpe, mas… isto cheira a clorofórmio?” a taxa de sucesso era bastante alta já que 1/4 eram senhoras sem sentido de humor olhavam para o lado e iam à vida delas que correspondiam aos falhanços desta aproximação. Das restantes, as que tinham sentido de humor e se riam, abriam uma falha na armadura colocada nestes ambientes sociais que podia ser explorada através de conversa e procura de interesses comuns, e depois existiam, as que perguntavam: “O que é clorofórmio?”…

Masquerada – Songs and Shadows é o equivalente a estas raparigas, fisicamente atraentes mas com pouco conteúdo intelectual, e eram apenas belas máscaras vazias. Às vezes é apenas o que procuramos para nos divertir, mas se querem algo com maior capacidade de interacção e que não vos encham os ouvidos apenas com conversa incessante sobre o único tema em que são especializadas, como unhas, roupas ou influencers, escolham outra coisa.