Há umas semanas, tivemos um post na nossa página de facebook onde pedíamos para explicarem mal um jogo e as pessoas tinham que adivinhar qual era. Por mais divertido que tenha sido deixou-me a pensar se nós jogadores no geral e nós críticos no particular muitas vezes não olhamos para jogos com as vistas trocadas e não vemos as árvores para lá da floresta… ou a floresta para lá das árvores… ou a floresta que ninguém ouve… sei lá… há uma expressão dessas, a minha questão aqui é que há jogos que revisitei recentemente e me apercebi que não são aquilo que julgava.

Começando por Football Manager de que fui um acérrimo fã durante anos. Tecnicamente fui fã de Championship Manager especialmente nos anos 2000/01 em que Maxim Tsigalko, Julius Aghahowa, Kim Kallstrom, e o grande Tó Madeira entre outros fizeram do Sporting Clube de Braga Pentacampeão Nacional e Vencedor da Liga dos Campeões três anos consecutivos entre outros feitos “menores”. À primeira vista, Championship e Football Manager parecem ser simuladores de gestão de football onde pegamos numa equipa e tentamos levá-la à glória.

Errado.

Football Manager é trabalho. É análise de dados. É mesmo uma profissão e chama-se: Analista de dados. É só isso que é o jogo, por trás daquela fachada cada vez mais atraente e até com os jogos em 3D agora são só tabelas de Excel a correr dados e cálculos, e nós, os “jogadores” tentamos ver como melhor mexer aqueles números para ter resultados maiores. O ponto bom de ter passado tantos anos de faculdade a jogar CM é que me preparou para o meu trabalho actual. Ao contrário daqueles anos todos de faculdade…

Passemos depois para toda a saga Assassin’s Creed.

A série de jogos que coloca membros de uma elite de assassinos em luta contra os templários que querem fazer coisas tipo dominar o mundo e não sei quê. Quando jogamos Assassin’s Creed julgamos estar a participar nessa luta virtual, cumprindo missões secretas, escondidos nas sombras e matando toda a gente que nos apetece com um espigão de pulso enquanto o nosso personagem pratica parkour. Mas estamos muito longe da verdade.

Muito longe mesmo.

Assassin’s Creed é uma aula disfarçada pois dá lições de história, geografia, arte e arquitectura. Pensem em quantas coisas sabem sobre a Itália renascentista que aprenderam acompanhando Ezio? Mas não é só isso, este jogo também é um simulador de turismo para quem por razões financeiras ou outra qualquer não pode visitar os mais belos monumentos de Jerusalém, Roma, Veneza, Florença, Paris ou Londres entre outras belas localidades. Lembro-me perfeitamente de quando fui a Londres depois de ter jogado Syndicate. A minha mente não pensava, “aquilo é Saint Paul’s Cathedral” ou “ali está Buckingham Palace” mas sim, “Já trepei aquela *****” ou “matei uns 20 filhos da **** ali”.

Mario + Rabbids Kingdom Battle é outro daqueles que engana. Na sua maioria parece um XCOM-lite povoado pelos habitantes mais ilustres do Mushroom Kingdom e os seus “invasores” Rabbids numa amálgama que inexplicavelmente é nada menos que genial, mas sem lhe tirar mérito nenhum, Mario + Rabbids não é um XCOM-lite.

Nada disso.

Mario + Rabbids é um jogo de puzzles disfarçado de táctica militar por turnos, em fofinho. Uma das características que marca os XCOM é a sua aleatoriedade. A sua capacidade de tornar cada missão em cada jogo diferentes das outras todas de todos os outros jogos que estão a ser feitos. Mesmo as missões fixas, aquelas que contam para o enredo, podem ser semelhantes mas só o facto de cada jogador ter uma imensidão de soldados e equipamentos e escolhas até aquele momento específico irão torná-los diferentes uns dos outros. Em Mario + Rabbids, isso não acontece. Se jogarmos a mesma missão 7 vezes, os nossos inimigos vão estar nos mesmos locais nesse mesmo número de vezes. Também vão fazer os mesmos movimentos se nós o fizermos. Retira essa componente do aleatório, mas disfarça-o muito bem dando ao jogador mais que uma hipótese de resolver o puzzle, há sempre 1 que é a “perfeita” e depois mais 2 ou 3 que podem ser bem sucedidas.

Por último, e seguindo a onda dos XCOM-lite, um jogo que me enganou completamente foi o brilhante Steamworld Heist. Steamworld Heist também tem componentes de táctica militar por turnos em steampunk plataformas. Mas não é de todo um jogo táctico, não. Peço desculpa a toda a gente da Image and Form mas deviam mudar a descrição do seu jogo.

Pokémon

Steamworld Heist é um jogo de Pokémon. Sim, tem batalhas por turnos. Sim tem aquele encanto dos jogos Steamworld com o seu humor e arte característicos mas não é nada mais que um jogo de Pokémon. Com uma diferença crucial. Em vez de andar a apanhar bichinhos fofinhos para escravizar, andamos à caça de chapéus. Todos os movimentos, todos os tiros em todos os níveis de Steamworld Heist têm um único objectivo. Adicionar chapéus à nossa colecção. Bonés, gorros, fedoras, trilby’s ou tricórnios. E só para isso que passei um número considerável de horas a jogar isto.

Podia enveredar o caminho da discussão de Pokémon ser uma analogia de escravatura, mas isso fica para outro dia…