Um jogo pode não ter qualidade máxima em vários aspectos que não fazem diferença no seu todo, mas quando perde as suas qualidades narrativas em especial num mundo de RPG é meio caminho andado para deixar de ser uma opção de compra. Felizmente, Vambrace: Cold Soul tem qualidade narrativa que chegue para si mesmo e até podia dar a alguns congéneres menos abonados. Até os pequenos clichés que tem são desculpáveis quando estamos totalmente embrenhados no mundo gelado desta história.
Aqui vestimos a pele de Evelia Lyric, que graças a sua manopla deixada pelo seu pai consegui entrar na cidade enfeitiçada de Icenaire, envolta por uma gigante muralha de gelo erguida pelo King of Shadows e constantemente assolada pelos seus wraiths. Os cidadãos refugiados no subsolo encontram a estranha à superfície que após ter defendido um ataque fortuito é deixada à sua vontade para explorar a cidade, os seus benefícios e completar missões na superfície.
O enredo desenrola-se como um novelo nas patas de um gato, para a frente e para trás entre superfície e subsolo, missões e conversas mas é sem dúvida na cidade que passamos mais tempo narrativo seja a falar com personagens principais pelos várias zonas e edifícios da cidade seja com os membros da nossa equipe na taberna onde temos a nossa pequena habitação. Falar com todos estes personagens para desenvolver a história e descobrir motivações pessoais, passados e desejos futuros são dos pontos mais interessantes de Vambrace, algo não muito comum em jogos roguelike devido à facilidade de perder personagens ou o jogo todo. Cada zona da cidade conta algo, tem os seus habitantes específicos de humanos a elfos negros, anões a híbridos animais. Não só é fácil como é interessante passar algum tempo longe da azáfama das lutas para saber mais deste mundo criado com tanto pormenor no qual casam tão bem as referências ocidentais como o visual animado oriental.
Aliado a uma história e mundo com bastante conteúdo está uma mercado de produtos e uma “mesa” de crafting com opções muito interessantes que também “roubam” algum tempo ao jogador.
Para complementar, Vambrace tem um sistema semelhante a Darkest Dungeon no que diz respeito à construção da party, exploração do mundo e acima de tudo no combate.
Quando subimos para o mundo gelado de Icenaire, exploramos parte do mapa numa perspectiva top down, escolhendo os locais no mapa onde iremos ver a acção propriamente dita. A partir daí numa exploração lateral vamos sendo confrontados com combates altamente estratégicos no qual temos que ter muito cuidado com os alcances tanto dos nossos personagens como com os dos nossos inimigos. Esta complexidade está tanto no combate como na escolha dos membros e posicionamento deles. Já que é obrigatório ter sempre Evelia na party que é proficiente com uma arma melee e uma ranged, escolher 3 membros que só utilizam melee é um erro, já que o que estiver na terceira ou quarta posição não terá capacidade de ataque que habitualmente é de 4 posições incluindo a sua própria. Claro que pode ser feito utilizando estratégias específicas de movimentações que até podem dar mais interesse ao combate, mas apenas mostra os vários níveis de complexidade das lutas que são difíceis a um nível quase obsceno.
Sim, porque Vambrace dá-nos a conhecer os nossos companheiros e tira-os permanentemente com a facilidade que o vento arranca uma folha de um ramo de uma árvore. É cruel, como a vida, e não é apenas vento, é uma tempestade que dá ainda mais prazer enfrentar.
Olhando para este texto da introdução até agora, Vambrace: Cold Soul não parece ser nada de original estando cheio de lugares comuns e inspirações noutros jogos, contudo não é por estas semelhanças existirem e serem tão difíceis de fugir que o jogo ou qualquer outra obra seja má, desde que a entrega ao público seja feita como deve ser. Usando uma analogia culinária, quase toda a gente come batatas, carne de vaca, e brócolos. Mas ninguém gosta que sirvam esses ingredientes crus, mal cozinhados ou de uma forma banal. Isso é um cliché, um lugar comum, se a carne for cozinhada e temperada no ponto certo que se pode cortar sem esforço e se desfaz na boca, as batatas fritas duas vezes a temperaturas diferentes para ter uma textura estaladiça no exterior e cremosa por dentro, os brócolos grelhados al-dente… temos um prato digno dos melhores palatos.
Vambrace: Cold Soul é destas combinações de ingredientes comuns que são moldados para um produto final elevado. Recomendado para fãs de bons RPG Roguelike em particular mas também para qualquer apreciador de bons jogos e boas narrativas nem que seja só pelo facto de o Inverno ter mesmo chegado ali e até ver o Night King of Shadows não vai morrer só com um punhal ninja.
Vambrace estará disponivel para Steam a partir de desta semana e posteriormente para Switch, XBoxOne e PS4