Parece um título supérfluo, mas é verdade, é a nossa função como media especializada em videojogos informar os leitores mais incautos que na E3 ocasionalmente algumas empresas de videojogos apresentam uma série de novidades para o ano seguinte, desde produtos prestes a serem lançados aos que estão em desenvolvimento. Outro acontecimento habitual é que dizer que há um vencedor da E3, como se de todas as demonstrações fosse possível dizer que A, B ou C fosse ter mais sucesso que os outros no ano vindouro. Se é, não tenho certeza mas sei que cada vez que há uma apresentação, vejo artigos e comentários que a empresa mais essa empresa ganhou a E3. Pelo menos até à apresentação seguinte.

A Electronic Entertainment Expo tem vindo a mudar nos últimos anos, alguns dizem que está moribunda e tenta renovar-se para para continuar relevante, e outros dizem que já morreu mas ainda não recebeu a carta lá em casa… A verdade é que tem perdido relevância com cada vez menos foco dos developers nela, e este ano com a primeira falta grande, a ausência da PlayStation. Pessoalmente não me afecta, não me identifico com os exclusivos da consola da Sony e o seu rumo para o gaming, mas de um ponto de vista profissional tenho que afirmar que a ausência de um dos maiores players do mercado de uma das maiores feiras mundiais da indústria é um prego considerável no caixão desta…

Mas como diz o povo: “Faz falta quem cá está!” por isso vamos lá fazer um resumo das coisas que mais achei interessantes na E3 deste ano. Vão ser parciais aos meus gostos? Sem dúvida. Serão verdades absolutas? Só para mim. Passaram-me coisas ao lado? Também… mas principalmente porque passei esta E3 doente e não tive grande oportunidade de ver tudo a fundo em directo.

Comecemos pela Microsoft, já que a EA só tem uma coisa que me lançou algum interesse e a empresa da consola Caixa X teve alguns anúncios interessantes dentro da sua escolha comercial corrente. Já há algum tempo que se notou uma mudança no paradigma comercial da Microsoft, e não falo da sua recente campanha de produtos de higiene com a Lynx/Axe, mas sim da sua quase ausência de exclusivos e foco principal em serviços. Enquanto para uns pode parecer ridículo que a empresa se tenha deixado ir por este trajecto e não se foque em franquias que tinham no passado, o que me parece ser objectivo deles é satisfazer necessidades de uma geração nova de jogadores e não os fãs do passado. O futuro dos videojogos é cada vez mais multiplayer, first person, shooter, action, battle-royale e acima de tudo de subscrição. Ou assim será durante os próximos anos. A Microsoft sabe que neste momento não vai conseguir “roubar” fãs das franquias do seu concorrente principal que estão entranhadas na pele dos seus seguidores. Os fãs de God of War, Soulsbornes e afins, terão que jogar esses jogos na sua consola da Sony, tudo o resto vão poder jogar na XBox aproveitando as capacidades máximas das consolas da Microsoft ou num PC. Essa estratégia, a expansão de serviços para PC são das cartadas mais fortes da empresa, o Game Pass para PC é uma opção brutal para muitos jogadores que não queiram gastar muito do seu orçamento e ter bastantes opções à mão, sendo algo que pode vir a abalar a estrutura de outras plataformas digitais no PC. O divulgar da nova consola Project Scarlett e do novo Halo para o futuro próximo são indicadores disso mesmo, de para onde nos leva a indústria, quer gostemos quer não.

Entre exclusivos e não só a apresentação da Microsoft teve boas surpresas, entre elas a expansão Lego para Forza Horizon 4, obviamente só para fãs, mas aparentemente divertida no geral, o regresso de Battletoads numa adaptação que promete imenso e o que parece ser o Flight Simulator mais realista alguma vez feito. De todos os jogos apresentados estarei mais interessado em Blair Witch Project apenas por curiosidade mórbida, mas também em Ori and the Will of the Wisps por ser a sequela muito antecipada de um dos meus platformers favoritos dos últimos anos, e Dragon Ball Z: Kakarot por ser um action RPG, tendo em conta que os antigos para o GBA são dos meus action RPG favoritos de sempre, estou algo ansioso por este.

Para finalizar a apresentação devo dizer que Cyberpunk 2077 está com óptimo aspecto, com ou sem Keanu Reeves, que foi uma campanha de marketing genial mas provavelmente desnecessária. Contudo, falarei nisso noutro artigo.

A EA, e já agora aproveito para juntar a Bethesda à festa são daquelas que não trazem grandes surpresas e apenas uma ou outra coisa digna de referência. A Bethesda trouxe o seu rolo compressor de nomes da casa em vários portes e formatos que vão do Elder Scrolls Mobile que ninguém quer nem de graça, que vai estar grátis na Switch nos próximos meses e um update para Fallout 76 que vai finalmente incluir NPCs e tornar aquilo minimamente jogável tendo em conta que ele tinha falhado o seu objectivo escandalosamente no seu lançamento. Da parte da EA, o que vimos de Star Wars Jedi Fallen Order pareceu-me 2 terços interessante. Há uma parte que me deixa com sérias dúvidas se será um jogo que me irá interessar apesar de ter certeza que muitos vão adorar. Os produtores não escondem os três focos de inspiração: Metroid, Zelda e Soulsborne, a última é dispensável para mim porque não entendo o encanto em BDSM, mas o resto parece interessante, talvez não para já mas para um dia quando tiver paciência e tempo para investir nele e depois de eu limpar o overload de Star Wars do sistema. Apraz-me a ausência de multiplayer e loot boxes neste jogo, mas não vou contar os ovos de oito bits no rabo da galinha digital antes do jogo estar cá fora. Portanto: EA and Bethesda being EA and Bethesda.

A Devolver apresentou os seus jogos habituais incluído o ridiculamente intitulado Devolver Bootleg. Apesar de não serem para todos os gostos os devido à sua violência a verdade é que a empresa tem um estilo próprio no que lança para o mercado e lançar um jogo de cópias falsas de alguns dos seus maiores sucessos é uma jogada de marketing mais genial que uma banda de covers dos Metallica tocados ao estilo de Ed Sheeran constituída por agrobetos de Santarém chamada Betallica. Além desse jogo, apresentaram vários no seu estilo, como aquelas bandas que vão lançando álbuns novos mas soam todos a variáveis dos seus greatest hits. Nada de mau, mas nada de muito diferente.

A Square Enix anunciou o jogo dos Avengers que vai ser episódico e grátis. Ao contrário do remake de Final Fantasy VII que vai ser episódico e pago e já tem data de lançamento lá para princípios de 2020, mas vamos ter em atenção que a primeira vez que falaram neste remake foi na E3 de 2015 portanto vai quase para 5 anos extra de produção desde o seu anúncio… Também anunciaram o remaster de FFVIII, o mais ignorado dos Final Fantasy poligonais principalmente porque a certa altura quando o jogamos não sabíamos para onde estávamos a olhar e acabávamos por deixar o jogo de lado. Às vezes pergunto-me se alguém chegou a acabar o jogo quando foi lançado, ou o seu port para PC. De resto não tiveram nada que me chamasse a atenção apesar de acreditar piamente que na Disney estão alguns directores a tentar perceber porque é que algo com o nome Avengers está a ser dado e não mungido como a vaca de dinheiro que é neste momento!

Tal como a Square Enix, a Ubisoft esteve bastante morna este. Especialmente quando não teve nenhuma parceria com a Nintendo depois do fracasso comercial de Starlink: Battle for Atlas. Depois da improbabilidade de Mario + Rabbids, o relâmpago não ia atingir o mesmo sítio duas vezes mas também não foi uma parceria total, foi só um extra com licenciamento de propriedades da Nintendo para a consola deles. Apesar de não terem a Nintendo como parceiro ou ajuda este ano não quer dizer que não façam algo à Nintendo. O jogo mais interessante da Ubisoft é provavelmente Gods and Monsters que aparenta ser um híbrido entre Assassins Creed e Breath of the Wild. Algo que não me admira já que os lançamentos recentes do estúdio francês adoptavam cada vez mais particularidades do grande jogo da Nintendo nas suas mecânicas, mas nunca esperei algo tão… “inspirado” visualmente. De qualquer maneira pareceu-me muito interessante. Também interessante é Just Dance ser lançado para a Wii. Em 2019…

Ainda tenho que dedicar algum tempo a rever o PC Gaming Show, desta vez patrocinado pela Epic Game Store o que deve ter levado a sua pior audiência de sempre tendo em conta o ódio que os jogadores parecem ter por esta plataforma. Para PC há 4 jogos que por enquanto me parecem bem interessantes: Maneater que já tinha sido mostrado no ano passado e é um open world no qual o jogador é um tubarão. Vende apenas com base na premissa. Unexplored 2, é a sequela de um dos meus roguelike favoritos dos últimos anos e tem aspecto de ser uma evolução enorme do que já era muito bom. Também vimos mais imagens de Vampire the Masquerade: Bloodlines 2 que me fez querer que os dias passassem a ter 37 horas e eu não precisasse de dormir como acontecia há uns anos e Baldur’s Gate 3… que me deixa com duas dúvidas importantes sendo a primeira “Quem é a equipa de argumentistas?” já que sem uma boa história, Baldur’s Gate é apenas um RPG, e “Como é que eles conseguiram esconder o desenvolvimento do jogo tanto tempo?” porque o jogo parece estar já numa fase de early access para limar arestas.

Acabamos com a Nintendo e o seu Direct de 43 minutos aproximadamente que não foi dedicado a personagens de Super Smash Bros. durante 27 deles mas foi dedicado na sua maioria ports. Porque neste momento a Switch é um repositório de ports. E não há problema nisso porque a Nintendo sabe tirar proveito disso. Entre os vários ports que apresentou foi mostrando um crescendo de títulos exclusivos interessantes que já sabíamos que tinham mas pudemos ver algo mais, e um punhado de boas novidades. Começando com os ports e tirando já o elefante da sala, Witcher 3 e todos os seus DLCs vão para a Switch este ano. Será isso uma boa opção? Talvez, há quem jure a pés juntos que é a perfeita para qualquer jogo on the go, eu acredito que depende do jogo. São gostos e quanto ao Witcher 3 acho que é preferível no PC, mas pensava o mesmo de L.A. Noire e tenho que admitir que estava errado. Outros ports incluem Contra Collection (já disponível), Collection of Mana,  Resident Evil 5 e 6, também conhecidos como “os desnecessários” e Ni No Kuni. Vimos mais de Daemon X Machina, Astral Chain, Luigi’s Mansion 3, Link’s Awakening e Cadence of Hyrule que estão todos com óptimo aspecto e também de Animal Crossing que tal como Super Smash Bros. por mais fã de Nintendo que seja não consigo entender o que têm de especial, mas também não me diz respeito, e finalmente há um Pokémon que talvez me leve de volta à série que deixei há anos. Em desenvolvimento estão No More Heroes 3, um remake de Panzer Dragoon, Empire of Sin e um novo Contra: Rogue Corps.

No final disto tudo, num estilo completamente nonchalant (palavra estrangeira que adoro quase tanto como ineffable) largaram um trailer da sequela de Breath of Wild. Como quem diz que vai que vai ao café e já volta, anunciaram que já estão a produzir o segundo de um dos maiores e melhores jogos de todos os tempos…

Podíamos dizer agora, que a Nintendo ganhou a E3, mas não. A Nintendo nem sequer salvou a E3, porque estão-se pouco a lixar para a E3. Estiveram lá mas não ESTIVERAM lá. Tinham umas bancas como têm em várias feiras pelo mundo todo, não se deram ao trabalho de fazer espectáculo com música ao vivo, fogo de artificio e actores convidados, mostraram um video no Youtube e mesmo assim mostraram algo com mais interesse que qualquer um dos presentes, salvo talvez a Microsoft. Mas não precisavam da E3, podiam tê-lo feito com igual ou mais impacto na semana anterior, um mês antes ou daqui a dois (salvo os jogos que vão ser lançados entretanto). É devido a isso que posso dizer que tirando Vampire the Masquerade 2 (que já tínhamos visto alguma coisa nos últimos meses) Baldur’s Gate 3 e Cyberpunk 2077 a Electronic Entertainment Expo foi algo entre meh a fraco. Passou de ser a locomotiva de um hype train que durava um ano para ser a barra do hype seja o que for que se chama aquela cena que dois gajos dão à manivela para andar nos carris*.

Um hype isto:

* nota do editor, the more you know: em português, carrinho-de-mão, em inglês, handcar, pull trolley ou jigger.