Falemos no elefante na sala, azul, e que em vez de ser um paquiderme é um roedor, completamente esventrado pelo realizador do seu primeiro filme live action (com CGI, obviamente). O verdadeiro atentado terrorista que é a direcção artística do filme, tão mau que vários artistas se prontificaram a corrigir o trailer mostrando a partir do conforto das suas casas que conseguiam fazer um melhor trabalho que a equipa oficial de produção do filme.

Este acto falhado com o filme é apenas mais uma gota no copo de água de objectos falhados em torno do Sonic. Atrevo-me a dizer que desde meados dos 1990s são mais as más e médias iterações de Sonic (seja em jogo ou em TV) do que as boas.

Team Sonic Racing encaixa na primeira leva, não sendo um mau jogo, de todo, é mediano, quando comparado com o que a Sumo Digital já anteriormente tinha conseguido fazer para adaptar o universo do Sonic a este subgénero de jogos de kart.

Aliás, esse é um dos problemas que salta à vista desde os primeiros instantes: a reutilização de muitos elementos de jogos anteriores sem um impacto suficiente no novo título para sequer justificar a sua existência para além do mero comercialismo de tentar mungir ao máximo o séquito de adoradores do ouriço azul.

O modo história, que se estende por mais de seis horas, acaba por ser o grande foco deste Team Sonic Racing. Mas nem isso apaga o grande problema deste jogo que é ser vítima da comparação com o melhor que o género tem, e que saiu há relativamente pouco tempo. Ter na memória o Mario Kart 8 Deluxe é lembrar-nos que não só o Mario conseguiu suceder na rivalidade que opôs as duas marcas até aos anos 1990, como conseguiu desde sempre manter um patamar de qualidade onde o Sonic foi somando falhanços.

É claro que estas comparações dizem pouco se forem fãs irredutíveis de Sonic e o canalizador pouco vos disser e argumentarão quase de imediato que também Mario Kart foi reutilizando pistas de títulos anteriores. E têm razão em dizê-lo. Mas a diferença remete-se à qualidade de execução e ao resultado final de um, o da Nintendo, que cria um desafio justo, equilibrado, diversificado, divertido sobre um sistema afinado. Team Sonic Racing é quase tudo isso, mas é mesmo o quase que o deixa atrás na corrida.

Mecanicamente há aqui uma ideia interessante, a da importância do colectivo dentro da corrida (daí o Team no título). O nosso sucesso não depende apenas do nosso desempenho mas do somatório das posições gerais dos 3 membros da nossa equipa, o que significa que ficarmos em primeiro não é sinónimo de vitória se os nosso colegas tiverem performances terríveis.

Para ajudarmos os nossos colegas que estejam a ficar para trás, Team Sonic Racing permite-nos transferir para um deles os itens que vamos apanhando, numa inclusão que visa o equilíbrio dentro da classificação da corrida. Esta não é a única mecânica de team up, e existem algumas formas de os membros de cada equipa conseguirem dar boosts entre si para se projectarem mutuamente pela pista.

Apesar de este sistema ser, em teoria, uma boa ideia, a realidade é que ficarmos à mercê de um potencial jogador nabo ou das incongruências de uma má IA (se não tivermos humanos com quem jogar). Por outro lado esta era uma forma possível de tentar diferenciar este kart racing de Sonic do jogo do seu ex-rival, obrigando-nos a aderir a um co-op racing game.

Team Sonic Racing é interessante, mas sem uma equipa completa de humanos minimamente decentes numa pista de kart virtual, acaba por ser uma aposta quase exclusivamente indicada para os fãs do ouriço. A realidade é que Mario Kart 8 Deluxe continua a ser o padrão que todos os jogos do género devem seguir. Sonic ainda mexe muito dinheiro, e Team Sonic Racing mostra que os seus “donos” sabem-no bem. Não sendo um jogo muito bom, dá o conforto suficiente à Sega de saber que está a conseguir extrair dinheiro suficiente da sua eterna vaca cerúlea. Mas infelizmente, é pouco mais do que isso.