É inegável que neste momento Keanu Reeves é das estrelas mais cotadas e rentáveis de Hollywood, mesmo sem a agenda ultra-atarefada de Dwayne “The Rock” Johnson, só através das suas representações do fantástico assassino John Wick conseguiu afirmar-se como um actor de acção por excelência estando no topo da sua carreira ao nível de quando fez The Matrix ou até mais acima. Por isso quando apareceu em plena conferência da Microsoft para apresentar Cyberpunk 2077, onde dá a sua imagem, foi recebido em surpresa apoteótica e comentado por toda a rede digital à volta do mundo.

É também perfeitamente irrelevante se acham que ele é um bom ou mau actor, se são fãs dele devido à saga Wick ou já seguem a sua carreira desde The Matrix, Point Break, Bill and Ted ou até Sweet November, mesmo que não tivesse no jogo, o seu aparecimento foi uma jogada de marketing brilhante da parte da Microsoft e da CD Projekt Red. Até agora, não sabemos qual vai ser o seu envolvimento, será um cameo ou terá um papel importante no enredo? O estúdio recrutou-o recentemente devido à sua recente re-ascensão meteórica ou já andam a trabalhar com ele há anos? Provavelmente nunca vamos saber até porque a história será colorida pelo sucesso da jogada. É arriscada e genial, não ao nível de uma operação conjunta das Polícia de Trânsito com agentes das finanças, mas pode ter repercussões igualmente danosas.

Não é a primeira vez, nem será a última que actores dão a sua imagem para fazerem deles próprios em jogos, a imagem de Bruce Lee é usada em todos os seus jogos, Carmen Electra deu a sua para Playboy: The Mansion, Gary Coleman para Postal 2, e carradas de músicos emprestaram a sua imagem para os Guitar Hero. Vários outros cederam os seus talentos vocálicos para interpretar personagens fictícios, de Liam Neeson em Fallout a Charles Dance em The Witcher sem esquecer o Joker interpretado por Mark Hammill. Além disso há os que dão a sua imagem e voz para personagens tal como Kevin Spacey fez em Call of Duty. A ligação de actores de Hollywood a jogos é antiga mas está cada vez mais frequente.

Além de Keanu Reeves (que também empresta a sua imagem a John Wick Hex, por razões óbvias) tivemos Jon Bernthal e o seu cão na E3 e fora disso vamos ter Norman Reedus e Mads Mikkelsen no seja o que for que vai ser Death Stranding.

Quando Keanu apareceu no palco ouviram-se suspiros e quando apareceu no jogo por todo o mundo ouviram-se cuequinhas e boxers de fangirls e fanboys a bater no chão em uníssono. Acredito que foi isso que também ouvi quando Norman e Mads apareceram em conjunto no seu jogo mas mesmo com a crescente económica da indústria de jogos, penso se estas transposições pelas artes são algo que dá a ganhar à arte dos jogos?

É algo para o qual não tenho resposta, é algo que me faz pensar. Entendo que muitos actores “de cinema” tenham aceite fazer séries já que a estrutura de canais de streaming veio mudar a mentalidade acerca da série ser um patamar inferior em qualidade e estatuto relativamente à 7ª arte e tendo em conta os filmes que tenho visto ultimamente em comparação com as séries acredito que temos visto uma inversão desse paradigma. Melhores argumentos, realizações e interpretações opostos a festivais de efeitos especiais megalómanos sem conteúdo. Este molhar os pés nas águas de videojogos, especialmente por actores que frequentemente fazem papéis de acção, faz-me pensar se não vai ser agora que os jogos vão começar a ser mais respeitados como histórias dignas, que são contadas de uma forma mais interactiva.

Talvez estes sejam os primeiros passos para uma alteração na visão do público geral acerca “dos joguinhos” e os coloquem na ribalta pelo qual lutam há tantos anos, não de superioridade mas de igualdade perante as outras artes comerciais. Por outro lado pode ser só isso mesmo, jogadas comerciais que aproveitam caras conhecidas para vender o seu jogo como empresas que contratam “famosos” para vender tudo o que vai de perfumes a roupa, electrodomésticos a banha da cobra anti-rugas.

A ver vamos…