Nintendo… criadora de tantas memórias para tantos jogadores, marcadores de passo da indústria, inovadores e experimentalistas com níveis variados de sucesso. Há algum tempo, a Nintendo decidiu sair das suas plataformas exclusivas e presentear os jogadores com algumas das suas franquias no mercado mobile. Começaram com Super Mario Run, depois Fire Emblem Heroes, Animal Crossing: Pocket Camp e Pokemon Rumble Rush. Enquanto Mario Kart continua um exclusivo da terra do sol nascente, o mercado europeu já tem acesso a Dr Mario World.
Dr. Mario foi originalmente criado por Takahiro Harada e produzido pelo grande Gunpei Yokoi para a NES e Game Boy em 1990, o conceito era simples, o jogador tinha que usar os comprimido de duas partes coloridas para conseguirem eliminar os vírus azuis, vermelhos e amarelos em combinações de três ou mais peças da mesma cor. Algo mais semelhante com o Columns da rival Game Gear do que com Tetris. Curiosamente, a um nível pessoal sempre gostei mais de jogar a preto e verde no Game Boy do que a cores na NES e foi lá que consegui das minhas maiores frustrações de jogador quando ao estar muito próximo de bater a minha melhor pontuação, depois de horas de jogo consecutivo, as pilhas morreram. Foi daquelas situações em que quando comecei ia apenas jogar uns minutos e não pensei em pilhas novas, mas o jogo foi fluindo de uma forma quase mágica até que falhou. Dr Mario por razões que não consigo explicar é dos meus puzzle games favoritos neste estilo, por isso a adaptação para mobile é… bem… uma desilusão pessoal.
Dr Mario World caminha naquele fio da navalha em que é suficientemente Dr Mario para fazer jus ao seu nome mas cada passo titubeante que dá corre o risco de cair nos problemas de jogos freemium e pay to win.
Cada jogo de Dr Mario, em todas as suas iterações ao longo dos anos e plataformas, era diferente. Nunca tínhamos as mesmas situações para enfrentar quando as peças aleatoriamente desciam pelo ecrã, em Dr Mario World cada nível tem a mesma disposição de peças inicial como se fosse um puzzle pré definido e nós temos um número limitado de peças/comprimidos/jogadas para o resolver. Até agora não repeti níveis suficientes para saber se as peças são aleatórias ou pré-definidas porque para isso teria que fazer um complicado teste estatístico mas tendo em conta que um dos power-ups que se pode comprar é jogadas extra vou inferir que sim. E é aqui que cai a nódoa na bata branca do Doutor ítalo-americano de bigode farto.
Ao usar as tendências habituais e “necessárias” para tornar um jogo destes economicamente viável para os seus produtores o jogo perde muito da sua essência em que se fosse retirada a sua capa com trademark da empresa nipónica teríamos apenas mais um puzzle game banal igual a outros tantos nos mercados das lojas digitais Android e iOS.
A Nintendo começou muito bem a sua passada na corrida deste mercado com um arranque forte de Super Mario Run, em particular com a sua opção de compra para evitar os “problemas” típicos deste modelo de negócio que anunciava potencial de vir a ficar no pódio mas eventualmente com o sistema gatcha de Fire Emblem foram deixando-se envolver no pelotão da mediocridade. Havia a esperança de que Dr Mario desse um impulso aos jogos mobile da Nintendo mas parece que tal como aconteceu com Dr Michele Ferrari*, a sua “ajuda” pode vir a ser mais danosa que benefactora.
Dr Mario World está disponível para download em iOS e Android e é jogável, mas não é altamente recomendável.
*Dr Michele Ferrari foi um dos, se não o principal, médico no caso de doping de Lance Armstrong.