Há muito tempo que um jogo simples de arcada não me deixava um sorriso tão genuíno na cara quanto Scrap Rush!!. Provavelmente o pessoal da ACQUIRE Corp sabia do quão divertido era o jogo que estavam a desenvolver, e pela via das dúvidas adicionou logo de forma oficial dois pontos de exclamação ao título não fosse o diabo tecê-las e haver pessoal que não reparasse que estava aqui algo realmente surpreendente.
O primeiro impacto com Scrap Rush!! lembrou-me os meus 5 anos e quando entrei em Bomberman pela primeira vez. Colocar uma bomba, ficar preso e explodir passados poucos segundos. A partir daí ir jogando progressivamente contra a minha família e ver as minhas tias inclusivamente a gostarem, e muito, de jogar este clássico da Hudson Soft.
Scrap Rush!! tem este espírito velha-guarda de jogos descomprometidos, completamente focados nas suas ideias mecânicas e onde tudo o resto é paisagem. Sabemos, como nota de rodapé, que estamos num planeta de robots onde a sucata é ouro (e onde ironicamente encontramos ouro na sucata) e onde estes se digladiam para ver quem possui mais restos de metal para si mesmos. Qualquer semelhança com a realidade é puro acaso.
Neste simples e divertido jogo, o objectivo principal é terminar cada nível com mais sucata que os adversários. Mas para isso vamos ter de assumir alguma crueldade robótica e esmagar os nossos adversários contra a parede.
Do céu vão caindo cubos de sucata que podemos empurrar contra os restantes robots, e ora o fazemos de perto ou podemos atirar estes cubos alguns quadrados à nossa frente. A estratégia passa por empurrar os cubos de forma a que os nossos inimigos fiquem entalados entre ele e uma parede (ou mesmo outro cubo), explodindo no processo. Apesar de todos os intervenientes fazerem respawn quase impediato, cada vez que um robot explode (mesmo o nosso) perdemos a sucata que amealhámos e que não fomos “bancar”, e isso é meio caminho andado para perdermos a missão.
Cada robot ou facção de robots tem uma caixa onde pode ir guardar a sucata que amealhou, salvaguardando-a em caso de “morte”. O problema é que estas caixas estão a céu aberto, e facilmente podemos atacar a dos adversários (como eles podem a nossa) para roubar a tão cobiçada sucata. Parte da nossa estratégia pode passar também por gastar alguma da sucata que temos no bolso para invocar um cubo no sítio onde estamos, o que pode ser tacticamente viável se apanharmos um adversário entre a espada e a parede. Ou entre a parede e um cubo de metal.
Com alguns modos multiplayer que são divertidos até com IA, Scrap Rush!! apresenta-nos umas possibilidades divertidas, que vão desde last man robot standing, até a quem consegue ter o maior volume de sucata no final do confronto. Mas é também o modo de história com as subsequentes boss fights que trazem o melhor de Scrap Rush!!, com toda a criatividade inerente a um jogo divertido e desafiante, apesar de enganadoramente simples.
Scrap Rush!!, disponível para PC e Nintendo Switch, é uma daquelas surpresas encantadoras que encontramos sem esperar, e que levam para outros tempos, mais simples, onde as mecânicas falavam mais alto. Com uma direcção artística a beber muito de algumas interpretações quase chibi de Mega Man X e Zero, o que funciona na perfeição em todo o espírito do jogo. Só é pena os autores não serem brasileiros ou portugueses, porque o melhor boss de final de jogo que poderia existir seria a Regina Duarte.