Caçada Semanal #205

Já em 1982 os Taxi diziam no álbum Cairo, na faixa auto-intitulada: “(…) Todos querem noites quentes, E não ficarem queimados (…)”. Deve ser mais ou menos por isso que o aquecimento global decidiu transformar este período estival em Portugal uma espécie de roleta russa do clima, sem sabermos bem que raio de tempo é que vai “fazer” no dia seguinte.

Entre a indecisão climatérica de como Agosto se deveria comportar, fica-nos a abertura para aproveitar as noites de verão – ora frescas, ora quentes, mas pelo que parece não tão incomportavelmente abafadas como noutros anos – para poder dedicar a jogos que nos deixem perder ao longo de horas. É o caso dos 2 indies dos quais falamos nesta caçada.

EarthX

Não é o primeiro caso de jogos desenvolvidos como one man show de autores que legalmente ainda nem têm idade para tirar a carta. Vimos isso com um dos nossos primeiros finalistas do Indie Dome, o Rúben Pereira, que vai agora para o seu terceiro jogo, e vemos com Denis Szwarc, que lançou recentemente EarthX em Early Access no Steam.

O título não é uma homenagem a uma das partes de uma das melhores BDs da Marvel da década passada e desenvolvida pelo mítico Alex Ross, mas sim um piscar de olhos (com os dois) à empresa SpaceX, de Elon Musk, e à sua vontade de tornar o turismo espacial algo palpável.

Começamos então a nossa empresa em 2002, numa corrida ao espaço diferente daquela que aconteceu na Guerra Fria: aqui o capitalismo fala mais alto, e a nossa startup de turismo espacial tem o mais rapidamente possível de construir os seus primeiros rockets e pô-los em óbrita, só assim os primeiros contractos de exploração e turismo espacial chegarão para o crescimento económico da empresa acontecer.

Para construitmos estes rockets temos primeiro de investigar a tecnologia, criar laboratórios e contractar cientistas para estudarem e planificarem as nossas aeronaves. A seguir, a construção, onde temos de definir os componentes, construir cada um deles e unir tudo num rocket funcional. Et voilá! Ei-lo em direcção ao espaço. 

A componente estratégica envolve a disseminação de fábricas e laboratórios pelo mundo, a criarem cada vez melhor tecnologia para que os nossos rockets de teste deixem de o ser, e passemos a construir foguetões “a sério” e a enviá-los para o espaço.

O visual low-poly do mundo, do qual temos uma visão macro é possivelmente um dos pontos mais interessantes do jogo, mas o loop de jogabilidade actual esgota-se rápido. Talvez EarthX seja um daqueles jogos para ter debaixo de olho para percebermos para onde vai, e se Denis conseguirá retirá-lo do loop corrente.

ΔV: Rings of Saturn

Já agora, lê-se “Delta-V”. Este recém-lançado space simulator em Early Access no Steam propõe-se a fazer algo diferente: trocar qualquer abordagem mais arcade por uma experiência repleta de inércia e Física. 

Em ΔV: Rings of Saturn somos o piloto de uma pequena nave mineira pelo espaço sideral. Com um HUD depurado onde os elementos que surgem são reflexo de alguns elementos-chave que nos permitam navegar a escuridão do espaço. Entre um pequeno radar que nos mostra o possível valor dos minérios dos asteróides à nossa volta (codificados por cor para se distinguirem) e uma outra pequena janela que nos mostra o que carregamos no porão (igualmente codificado por cor), há ainda espaço para uma representação do estado da nossa nave para além de dados e coordenadas da nossa viagem.

Para obtermos estes minérios temos de disparar contra os detritos à deriva no espaço, abrir as nossas comportas e recolher esses mesmos minérios, tudo isto feito com pilotagem manual e com atenção a diversos aspectos, como colisão, inércia espacial e o estado da nossa nave.

ΔV: Rings of Saturn não é um jogo para todos mas é feito com uma respeitável dose de realismo, numa experiência sci-fi que realmente se lembra que o prefixo sci significa alguma coisa.