Vamos ser sinceros, Han Solo é dos personagens mais fixes da ficção científica/space fantasy. Aquele ar de sacana com bom coração, o tipo que faz as coisas certas mas às vezes mete-se nos locais errados e tem o monte de sucata mais veloz da galáxia. Quem cresceu com os heróis de Star Wars deve ter-se sentido tentado a não ser Jedi e viver a vida de Han Solo. Em Rebel Galaxy Outlaw, podemos fazer isso. Mas na pele de uma mulher. E sem um Wookie. Tirando essas pequenas diferenças, é tal e qual o que sempre imaginamos. Ou pelo menos, o que eu sempre imaginei.
É nítido que eu gostei, e estou a gostar de jogar Rebel Galaxy Outlaw, já tinha gostado bastante do jogo original da série, mesmo com algumas das suas limitações. Outlaw retira algumas das maiores falhas, não estando isento das suas, e aproveita os melhores aspectos desse jogo, polindo-os dando umas opções adicionais ao jogador. Na perspectiva mais simplista este jogo é um simulador de naves misturado com uma ambiente quase retirado do velho oeste americano, para aqueles que são fãs dos velhos Wing Commander especialmente o Privateer, ou até em Freelancer dos quais Rebel Galaxy Outlaw pode ser considerado um sucessor espiritual, mas por baixo desta fachada está algo muito mais profundo. Se o quisermos explorar.
Rebel Galaxy Outlaw é o que eu chamo de um RPG disfarçado, não tem aqueles aspectos clássicos em que pensamos quando jogamos Role-Playing, não temos stats, não temos equipamentos (ok, temos nas naves, mas já lá vamos) nem temos classes, mas temos opções. Dentro e fora da história principal podemos ser quem quisermos, como quisermos. Não deixamos de ser a Juno, a personagem principal do jogo que persegue o homem que matou o seu marido, mas para lá chegar podemos escolher várias estradas estelares e não só.
Como já tinha dito, o ambiente de Outlaw é uma espécie de far west estelar, ali a dar uns toques de Firefly, é claro que ajuda o facto de cada sector da enorme galáxia ser um estado ou zona do oeste americano, de Kansas ao Texas, de Arizona a New México, e os nossos co-habitantes serem mineiros, transportadores e outras profissões nos dois espectros da lei. Nós, na pele de Juno também o podemos ser. Podemos trabalhar como um transportador ou um caçador de prémios ou simplesmente andar a vaguear de sistema em sistema cumprindo pequenas missões aleatórias que nos apeteçam, mas também podemos ser piratas e assaltar cargueiros ou ser contrabandistas, não de amor e saudade mas de materiais ilegais.
Transportar materiais ilegais pode ser um problema, mas isso tudo vai depender do nosso alinhamento e também da nossa nave. Ocasionalmente no espaço, mas mais comum perto das estações espaciais é comum a polícia fazer scans de contrabando, ter alguns podem tornar-se problemáticos, mas se estivermos a trabalhar numa vertente mais virada para o lado ilegal, existem estações específicas para nós e outros piratas e membros menos aceites na sociedade. As estações são onde preparamos tudo, compramos naves e equipamentos, aceitamos missões e até podemos jogar póquer de dados e pool para ganhar mais dinheiro. Eu estou a fazer uma carreira de vigarista de 8-ball onde sempre que encontro alguém para jogar tento esmifrar todo o dinheiro que posso deles. Os minijogos não importantes e são apenas um pequeno extra para desenjoar do core do jogo, mas devemos passar por lá porque podemos ganhar partes importantes para as nossas naves. Naves estas, que na minha opinião são poucas, mas ao mesmo tempo são suficientes.
Há um total de nove naves no jogo, ou nem isso. A nossa primeira é um camião do lixo, quase e é bastante boa para a fase inicial do jogo, depois temos quatro modelos, e quatro modelos evoluídos destas. Como disse, poucas. Mas cada uma delas é ideal para uma fase do jogo e para o que queremos fazer. Há naves de transporte para quem quer ser contrabandista ou transportador e caças para quem quer ser caçador de recompensas ou pirata. Podemos customizar a nave com as armas, escudos, ou até colocar um porão escondido para escapar às pesquisas da polícia quando andamos com coisas menos aconselháveis, mas acima de tudo podemos pintar a nossa nave como quisermos. Rebel Galaxy Outlaw, tem a ferramenta de pintura mais completa que já vi num jogo, o nível de pormenor que podemos pintar a nossa nave é insano. É basicamente um photoshop dentro do jogo. Infelizmente é algo que só pode ser aproveitado ao máximo para quem sabe pintar digitalmente e tem horas para isso, mas para essas pessoas é brilhante.
A base de Rebel Galaxy Outlaw é transporte e combate, e enquanto o transporte pode ser algo aborrecido porque é simplesmente levar coisas de A a B com mais ou menos interrupções, o combate é excitante especialmente por causa de uma pequena batota. Um problema comum nestes jogos é a sensação da luta no espaço, perseguir o nosso inimigo enquanto ele vira e foge de um lado para o outro. Habitualmente o que se faz é escolher uma direcção e girar até o nosso inimigo aparecer uns segundos para lhe dar uns tiros. Em Outlaw temos um botão com o qual fazemos lock num inimigo à nossa escolha e o jogo trata da condução da nave e nós só temos que alinhar os disparos e fugir dos outros inimigos. Pode parecer simples, mas acreditem que não é fácil especialmente numa batalha com 4 a 8 inimigos ao mesmo tempo, naves aliadas, asteroides, lixo e tudo mais em que possamos bater. Infelizmente não é genial, é bom. É muito bom mas não é espectacular. Mesmo assim é dos melhores que joguei nos últimos anos.
Acredito que o mais importante em Rebel Galaxy Outlaw é que podemos viver uma história mesmo que tudo pareça o mesmo, só mudam os nomes, todos os dias parece que definho e entro em mais um sítio em que as caras são tão frias, viajo a noite toda, só para chegar a casa. Às vezes durmo, às vezes faço-o por dias, e as pessoas que encontro cada uma segue o seu caminho, meço o meu tempo pelas garrafas que bebo, e no espaço, sozinho, tudo o que faço é penso: sou um cowboy, cavalgando um corcel de metal. E sou procurado. Morto ou vivo.
Acordo de manhã e levanto a cabeça cansada, usei um casaco como almofada e chão foi a minha cama. Não sei para onde vou e só Deus sabe onde estive, sou um demónio em fuga, um amante descartável, uma vela no vento… Dizem que sou procurado, o Senhor “Apanhem-me se puderem”. As coisas que faço… perguntam-me se tenho consciência, o que sinto na alma, perguntam se vou ser um velho sábio, eu pergunto-me se vou chegar a velho… Vivo a vida ao máximo e quero morrer como um adulto, quando estiver na última hora, que seja abatido numa explosão gloriosa.
Rebel Galaxy Outlaw, pode ser repetitivo às vezes e de certeza que não será do agrado de toda a gente. Falha na sua tentativa de ser mais que uma coisa sem chegar a dar tudo em nenhuma das coisas que pretende, nem na sua componente de camionista espacial ou de Top Gun Maverick das estrelas, fica um pouco aquém do seu potencial mesmo dando bastante aos jogadores. Quem é fã de Privateer ou Freelancer provavelmente vai adorar, fãs de jogos de espaciais podem gostar. Eu não o tenho largado, vale bem dar os €25 na Epic Store onde está em exclusivo nem que seja pelas várias horas de música que estão lá enfiadas.