Até hoje continuo a ficar abismado com a quantidade de pessoas com que me cruzo e que sem quaisquer dúvidas apontam Final Fantasy VIII como um dos piores da série. Eu até consigo empatizar com algumas das razões, ainda que discordo delas. Seja a inclusão das estranhas mecânicas de Draw e Junction (dos quais falaremos mais tarde), passando pelo tom de todo o jogo – assumidamente uma história de amor com solavancos de tragédia pelo meio – mas para mim havia algo na postura e atitude meio gótica do protagonista que o faz ser o meu favorito até hoje.
No meu caso o impacto que se mantém até hoje começou com o FMV de abertura do jogo, com o coro operático a entoar “Fithos Lusec Wecos Vinosec”, as primeiras linhas cantadas da composição de Nobuo Uematsu. O ambiente e a forma cinematográfica como os personagens surgiam era o resumo perfeito para o jogo, com a malograda história de amor entre Squall e Rinoa a desvendar-se aos nossos olhos.
Há muito tempo que queria regressar a Final Fantasy VIII, um jogo que joguei apenas uma vez, por inteiro, max-leveled, com todas as Weapons derrotadas e com todas as cartas de jogo conquistadas. Aproveito para partilhar um momento que irá marcar para sempre FFVIII na minha vida: estava a dar o último ataque na Ultimecia, a grande antagonista do jogo, quando recebo um telefonema a informar-me que tinha entrado para a Faculdade. Sempre que penso nesse momento tão importante na minha vida, FFVIII está presente, faz parte da minha memória como a secretária onde estava sentado e as paredes à minha frente.
Lembremo-nos também que estamos na viragem do milénio, e é possível que este Final Fantasy VIII seja o jogo mais belo a correr na PlayStation até então (diria até que é visualmente o melhor jogo na consola), e que ficar abismado com esta obra de Yoshinori Kitase era a resposta natural.
Mecanicamente, as críticas que muitos fizeram (e fazem) ao sistema de estatísticas de personagem e à necessidade de acoplar magias aos personagens são compreensíveis. Mas eu, para além de ter gostado do sistema que não só obrigava a extrair essas magias dos adversários (com muito grind à mistura) mas que também nos obrigava a gerir entre utilizá-las e perder bónus nas stats, ou guardá-las e ter de confiar no dano dos Guardian Forces, continuo a achá-lo uma lufada de ar fresco nos JRPGs. Acho que quem critica estas ideias acaba por esquecer-se que a Squaresoft nesta época tentava criar sistemas diferentes em cada um dos seus jogos, e foi experimentando ideias, umas com maior sucesso, outras com menos. Estamos a falar do estúdio que criou um dos meus sistemas mecânicos de JRPG favoritos, o de Chrono Cross.
Apesar de já estar presente no Steam há algum tempo, disponível para ser jogado na actualidade, a Square Enix decidiu aplicar-lhe o véu Remastered, e no meu entender… falhou.
A ideia de Remastered é amplamente perdida neste FFVIII. Os modelos dos personagens foram actualizados, com mais detalhes e definição, dando-nos informações visuais que não conseguíamos identificar graças à resolução original. Mas há um choque muito grande entre aquilo que são os personagens visualmente actualizados versus os cenários, mantidos quase no original e cujo aspecto baço aumenta ainda mais o contraste entre os personagens e o mundo onde se deslocam. Já em 1999 este desfasamento existia, mas era menos óbvio com as brincadeiras de profundidade de campo e a resolução da PS1 (e PC), mas nesta versão Remastered os personagens parecem simplesmente justapostos, numa acção estética que faz lembrar as pessoas mais velhas que apesar de dezenas de plásticas em cima ainda se notam perfeitamente que idade têm. Que são, digamos, todas.
As adições mecânicas são simples, e para mim servem essencialmente para amenizar algumas das críticas dos jogadores que ou acham a dificuldade excessiva (FFVIII sempre teve um desafio alto já que apesar do grind, os inimigos escalavam connosco) ou para quem quer apenas passear pelo jogo. Foram implementados boosts de HP e de Limit Break (para quem os quiser activar), para além de um botão que desliga os Random Encounters e outro que triplica a velocidade do jogo. Compreendendo que estas adições são opcionais, acabo por sentir que desvirtuam, e muito, a ideia original por trás do jogo.
A chegada deste FFVIII Remastered traz outro problema adicional: a dúvida sobre qual cópia comprar, se o original (no Steam a 12,99€) ou a versão Remastered (à venda no Steam, Xbox One, Switch e PS4 por 19,99€)? Dada a diferença de preço sem promoção, a resposta quase óbvia será a versão remasterizada, ainda que a diferença entre ambas as versões seja, na melhor das hipóteses, marginal. Para além das adições supérfluas na versão Remastered, apenas os modelos de personagem receberam um verdadeiro tratamento diferenciador, o que me faz sentir que esta nova edição é quase redundante em relação à primeira.
Havia muito que poderia ser feito para uma versão verdadeiramente remasterizada, mas parece-me que a Square decidiu seguir a estrada do “que se lixe!”. As expectativas de ver FFVIII trazido verdadeiramente para uma estética (e tecnologia) contemporânea foram derreadas, e a minha sugestão passa mesmo por abraçar a versão original, que costuma andar pelos 6€ e picos nas promoções de Steam. Ou então a comprarem este Remastered, se fizeram questão de ver Squall, Rinoa, Seifer e companhia com um visual actualizado. Para todos os outros: derrubem os pruridos e abracem o esplendor de FFVIII, melhor de todos os Final Fantasy, dizem algumas pessoas. Como eu.