Pára tudo! Antes de mais, uma banda sonora para entrarmos naquele espírito de cura pelos cristais. Sim sei que a cena é típica de um culto de auto progressão individual da New Age, mas bute lá!
(Eram assim os anos 90 pequenada! Não havia definição nenhuma e o combustível era barato)
Mais uma vez, jogar um jogo sem qualquer pré-conceito ou sequer conhecimento antecipado da existência do mesmo traz surpresas agradáveis. Foi o que descobri com Mystery of the Temples de Wei-Min Ling, lançado na Formosa, pela EmperorS4, ainda em 2017. Até que ponto faz sentido analisar um jogo de 2017? Como se sabe no mundo dos jogos de tabuleiro, a menos que seja um título muito antecipado por via de um Kickstarter bem sucedido; os jogos demoram até chegarem e serem conhecidos do grande público. Ainda mais quando a distribuição é quase toda suportada pelos compradores através de compra direta aos fabricantes e grandes lojas. Em Portugal ainda estão a ser dados passos neste sentido sendo que a FNAC é um, se não mesmo o maior distribuidor nacional, com capacidade real instalada. Portanto neste campo as coisas ainda se processam muito através do passa a palavra e experimentação.
À falta de melhor descrição em Mystery of the Temples fazemos o papel de faxineiros espirituais. Passo a explicar. O nosso objectivo é limpar cinco templos infectados de poluição espírita. Sendo um jogo com características de race-game, o primeiro a conseguir fazê-lo cinco vezes despoleta o final do jogo. Para tal cada jogador vai visitar, consoante a sua vontade, ou os templos ou as planícies dispostas entre estes e irá recolher cristais os quais serão armazenados no seu player mat. Quando terminar uma sequência desejada só tem que se apresentar no templo respectivo e fazer o descarte pontuando. Sendo completamente competitivo ganha quem fizer mais pontos. É para dois a quatro jogadores.
A mecânica
A mecânica é extremamente simples. Temos dois círculos concêntricos onde estão dispostos os 5 templos e as 10 planícies. Cada jogador, à vez, irá andar sempre na mesma direcção (dos ponteiros do relógio) três casas. Só o fará no seu turno: ou sobre as planícies ‘saltando’ por cima dos templos, ou vice versa, ignorando os terrenos. Nos terrenos arrecadará cristais e nos templos utilizá-los-á a fim de fazer a limpeza dos mesmos. Para tornar a mecânica de jogo mais interessante cada player mat tem características que os separam dos demais tornando cada jogador ligeiramente assimétrico comparativamente aos concorrentes. Para tornar tudo ainda mais interessante a ordem com que os cristais é colocada importa bastante pois o descarte ou exorcismo dos templos também é feito pela ordem com que estão dispostos e interligados no player mat.
Em Mystery of the Temples cada templo possui duas ordens pelas quais podemos entregar os cristais. Quanto maior o empenhamento mais cristais teremos que dar, no entanto e considerando-o em parte um race game temos sempre a opção de entregar o número mínimo de cristais. Ganhamos, logicamente, menos pontos. Nos templos e em caso de necessidade também se podem recolher um cristal das sua cor respectiva. Outra regra do jogo prende-se com o facto de dois personagens não poderem ocupar a mesma localização. Tal obriga a desenvolver alguma componente estratégica e/ou de adaptação à partida, isto porque o número de cristais não entregues no final do jogo apenas serve para o caso de desempate. Cada missão concluída permite recolher uma carta de bónus o que ajuda a criar um engine build para nos ajudar no nosso jogo. As condições de vitória são igualmente alteradas pelos pontos de objectivos finais.
Todo o Mysteries of the Temples é extremamente simples e fácil de jogar. Torna-o por estas razões muito bom para introduzir novos jogadores. Pela sua rapidez de set-up, pelo fluir da partida e sobretudo pela boa arte e design inteligível de Maisherly atrevo-me mesmo a considerar que na prática este jogo é um bom filler para nos ocuparmos enquanto procuramos algo ligeiro ou antes de começarmos a jogar os jogos com regras mais pesadas. Também é ideal após já estarmos cansados e querermos descontrair. O facto de todos os jogadores estarem condicionados a um sentido de movimento e de não poderem estar os dois ou mais no mesmo local dá-lhe ainda características de um jogo com algum take-that à mistura. Estou um tanto surpreendido pela origem do jogo no entanto considero que a partir de agora a fasquia elevou para os jogos da Formosa, ou já não tivesse eu ficado bem surpreendido com Mini World War 2. É uma daquelas pérolas um tanto desconhecidas com tudo para se tornar num grande jogo. Considero-o também muito indicado para introduzir aqueles jogadores que ainda estão a começar pois tem regras simples e funciona muito bem.