Daqui a aproximadamente um mês vai fazer 20 anos que eu e o meu irmão Miguel fomos a uma loja que convertia artigos em segunda mão em dinheiro, vender a nossa Saturn e N64 e os jogos e periféricos que tínhamos (coisa que ambos viemos a arrepender anos mais tarde pela nostalgia) e comprámos a nossa Dreamcast. Comprada no dia de lançamento europeu esta consola era muito à frente do que existia na altura. Com a Dreamcast comprámos um jogo do seu alinhamento de lançamento, jogo este que é tema do Ia-me Esquecendo de hoje e ainda hoje figura como um dos melhores jogos de luta de sempre e talvez top 5 geral da última consola da Sega. Falamos hoje de Soul Calibur.
Eu já tinha jogado Soul Edge na PS1, até já tinha visto imagens de Soul Calibur que tinha saído um ano antes nas salas de jogos mas o meu historial de jogos de luta 3D vinha de Virtua Fighter, Fighting Vipers e Last Bronx na Saturn (por falar nisso, todos eles merecem um artigo) e Tekken, todos eles óptimos jogos de luta na sua altura, muito avançados com muitas inovações que se tornaram parte integrante do género, mas quando meti as mãos em Soul Calibur pela primeira vez foi como se tivesse dado um salto para o futuro. Na minha mente estava a jogar um jogo que só seria feito uns anos depois.
Até aqui os jogos 3D eram decentes mas Soul Calibur deu um salto visual enorme, não só comparando com os outros mas comparando-se com a sua versão Arcade. Soul Calibur era a personificação da descrição de nobreza de Hemingway. Nobreza não é ser superior os seus pares, é ser superior ao nosso eu passado. Soul Calibur era melhor que os seus e melhor que o seu eu anterior, a diferença na qualidade gráfica era imensa. Tal como a diferença de modos de jogo e o que ele nos dá. Além do clássico modo Arcade, foram acrescentados os modos de Team Battle e Survival que eram comuns quando se passava jogos de arcade para consola, mas Soul Calibur tinha também um Mission Mode onde eu passava a maior parte do tempo depois de correr o Arcade com todos os personagens.
O Mission Mode de Soul Calibur era fascinante, tínhamos um mapa do que parecia ser um mundo clássico onde vagueávamos a fazer missões com objectivos específicos e ganhávamos pontos para comprar skins, vídeos, arte e outros pequenos extras do jogo. Nem sempre fazia sentido num sentido de história, nisso o modo arcade era mais coeso, mas tinha um desafio muito maior, era mais complexo, mostrava que podíamos ter mais num jogo de luta do que só lutar contra 7 ou 9 ou 20 adversários para ter umas imagens do que o nosso personagem fez depois de ganhar. Tinha mais conteúdo e dava mais conteúdo, até os vídeos de Kata dos personagens era interessante.
Melhorias gráficas e modos adicionais à parte, se a jogabilidade de Soul Calibur não fosse boa o jogo não teria o sucesso que teve nem a franquia tinha chegado onde chegou. Ignorando como se luta com armas tão grandes sem fazer danos físicos graves como cortar braços e pernas ou corpos a meio, Soul Calibur era de uma fluidez rara na altura. Hoje os movimentos na arena que se viam naquele jogo são comuns, mas na altura eram inovadores. Em alguns era possível mexer no plano 3D, às vezes numa ilusão outras fisicamente, mas nunca com a fluidez de movimentos que Soul Calibur permitia. Os personagens não eram blocos animados, eram quase pessoas que ali estavam a lutar. Era quase mágico. Depois de Soul Calibur, a marca expandiu para outros voos, Soul Calibur II também genial e considerado por alguns o melhor da série foi para as 3 consolas do mercado pós-Dreamcast, Xbox, PS2 e Gamecube e em cada uma tinha um personagem exclusivo, Spawn das BD de Todd McFarlane na Xbox, Heihachi Mishima de Tekken na PS2 e Link de Legend of Zelda na Gamecube. Soul Calibur II trouxe inovações e outros jogos a seguir foram acrescentando modos como multiplayer, criação de personagens e outros mas nenhum deles, nem mesmo Soul Calibur II tem a magia do primeiro que superou de tal modo o original que toda a série é conhecida como Soul Calibur e não Soul Edge.