Quando liguei GreedFall pela primeira vez e fui brindado com um ecrã a dizer “A game made by Spiders” pensei: Tenho que fazer alguma piada com isto, algo sobre aranhas serem boas a apanhar bugs ou que era bom ver que alguns insetos estavam a expandir as suas tech skills para outros campos além de teias. Foi uma ideia que teci durante pouco tempo porque foi-se destruindo aos poucos quanto mais jogava. Tal e qual o meu humor e entusiasmo com GreedFall. Eu confesso que até receber o jogo nas mãos nem sabia da existência dele. Ouvi o nome no Podcast Split-Chicken porque o Rui Parreira falou nele e depois quando me foi enviado. Como só podia jogar umas horas mais tarde de o ter recebido fui ver o trailer e fiquei muito interessado, o ambiente e tudo mais pareciam interessantes. Um RPG single player num ambiente fantástico ali por volta dos séculos XVII estavam a puxar por mim como o canto de uma sereia que atrai os marinheiros para o seu destino final. Mas a sereia que ao longe parecia atraente afinal era um manatim.

Há várias origens para visionamentos de sereias no mar, um deles é que era na realidade manatins, porque quando estes simpáticos animais nadam de barriga para cima as únicas partes que sobressaem são semelhantes às partes protuberantes das mulheres e os marinheiros ao fim de tantos dias em mar alto, sem saberem o que estavam a ver julgavam-nas sereias. Meio peixe, meio mulher…

Tal como estes marinheiros sequiosos pelo toque suave da pele de uma companheira, eu também andava com sede de um bom RPG single player, e na minha ânsia criei uma ilusão que GreedFall podia ser uma opção atraente. Infelizmente não é. Eu tenho tentado jogar GreedFall, tenho tentado gostar dele mas não estou a conseguir, e desta vez ao contrário de tantas outras, acho que não sou eu, é mesmo culpa do jogo. GreedFall tem vários aspectos, várias mecânicas que gosto em vários jogos, tem várias coisas que adoro dos jogos que claramente o inspiraram só que falta-lhe alguma ou algumas coisas. Há muito ali de Dragon Age, de The Witcher III, de Assassin’s Creed e até de KotOR, mas em todos os aspectos fica aquém de todos eles.

A história de GreedFall é interessante somos uma espécie de Consiglieri, alguém que vai acompanhar o novo governador de uma ilha que por acaso é nosso primo *coff coff nepotismo coff. A nossa função é manobrar as facções de habitantes e entre outras coisas descobrir a cura para uma doença mortal. Temos um leque variado de opções, podemos escolher em cada situação seja ela numa conversa com os nossos companheiros seja com os líderes ou protagonistas dos vários grupos que encontramos mas quando o fazemos não sinto que haja uma consequência real. Ao aliar a nossa bússola moral e decisória para um lado não nos retira opções do lado oposto. Por exemplo no jogo original do The Witcher ao tomar decisões para o lado da Ordem da Rosa fechava opções e várias missões do lado dos Elfos. Em GreedFall ainda não vi essa reacção às minhas acções. Se elas são pouco relevantes ou mais centristas que extremistas ainda estou para ver mas não me parece…

Para ser sincero não me parece que vá ver porque jogar GreedFall tem sido uma tarefa desagradável. Como limpar a casa, não me apetecia mas fazia-o. Tal como a falta de consequências na história, tudo o resto me parece oco. Graficamente é bonito mas não tem conteúdo, o sistema de luta é interessante mas falha muito (dica: a pistola é quase OP), crafting é banal e a interacção entre personagens é inócua. Jogar GreedFall é como conhecer “aquela pessoa” que um amigo diz ser perfeita para nós. É atraente, culta, engraçada e até têm alguns interesses em comum mas não o suficiente em nenhuma das coisas para fazer aquele “click”.

Acredito que vai sempre existir quem defenda a Spiders porque é um estúdio médio e é uma obra enorme para uma equipa de tamanho reduzido mas eu não sou capaz. A Spiders falha na entrega deste jogo, tal como fez com Technomancer porque tentaram alcançar mais que o seu alcance, em vez de fazerem algo muito bom dentro das suas capacidades decidiram fazer algo pouco mais que medíocre. Há pouco mais para dizer sobre GreedFall, não é obrigatória, será pouco memorável na história dos videojogos e só vale a pena em saldos. Se querem uma boa experiência de RPG a solo joguem KotOR.