Caça ao Indie #208

Os Scorpions são uma espécie de gelado das bandas de rock: há um grupo limitado de pessoas que não gostam deles, mas a maioria, mesmo que esteja de barriga cheia, ainda tem um cantinho especial para um Rock you like a hurricane, um Send me an angel ou Still loving you. E porque é que me lembrei disto? Porque o mercado dos videojogos está em constante mudança e os jogos indie não são excepção, e porque essa expressão não é apenas o título de uma música hiper-badalada dos Scorpions, mas é também o nome da nova visual novel com furries feita no Canadá. 

Os ventos da mudança fazem-se mesmo sentir.

Winds of Change [PC]

Winds of Change é o sucessor espiritual de Major/Minor, o anterior jogo do estúdio canadiano Tall Tail Games. A abrangência dos videojogos é hoje tão grande que existem nichos e micro-nichos praticamente para todo o público, e os fãs de furries são um dos exemplos.

Para além de Winds of Change ser mais um exemplo de uma visual novel ocidental, a demonstrar que as barreiras dos géneros criativos não têm de ser geográficas.

A história de Winds of Change é o esperado de high fantasy, com os clichés que isso acarreta. Há algumas ideias interessantes aqui misturadas, como a possibilidade de vermos o que se passa com o restante elenco mesmo quando eles não estão connosco, dando uma profundidade interessante a uma história e a diálogos que nem sempre o conseguem ser.

O jogo está totalmente voice acted o que é verdadeiramente surpreendente, e que encaixa na perfeição nas excelentes composições do jogo, que são um dos pontos de maior qualidade do jogo.

Artisticamente há uma dicotomia: a background art é, para mim, muito superior à dos personagens, cuja representação parece responder apenas aos interesses do nicho que segue os furries. Winds of Change é um jogo de nicho, que dificilmente consegue ser usufruído por pessoas que não estejam próximas da temática/aura furry.

The Church in the Darkness [PC, PS4]

Falar em jogos de estratégia furtiva é pensar nos magistrais Commandos. Infelizmente, apesar de ter boas ideias e boas adições ao género, The Church in the Darkness não consegue chegar próximo desse patamar.

A boa verdade, o facto de The Church in the Darkness ser um jogo que adiciona elementos roguelike, permadeath, e playthroughs que mudam completamente o jogo e até as intenções e moralidade dos “vilões” (em que existe a possibilidade de eles não serem maus de todo) não encaixa nos puzzles exímios dos jogos criados pela Pyro Studios.

Neste jogo de infiltração furtiva, controlamos um personagem nos anos 1970 que tenta descobrir o paradeiro do seu sobrinho que abraçou um culto religioso na América do Sul. A forma como jogamos depende unicamente de nós: podemos adoptar furtividade e responder aos clichés todos do género, com os guardas a terem cones de visão e trajectórias de rondas, ou entrar em Comando-mode (mas não Commandos-mode) e matar tudo o que nos chega à frente.

Visto que cada playthrough é diferente, a investigação é fulcral para percebermos as intenções dos líderes do culto. Estas pequenas nuances de aleatoriedade são engraçadas, mas perdem-se numa certa superficialidade de conteúdo que The Church in the Darkness possui.

Muse Dash [PC, Switch]

Os rhythm games dão panos para mangas suficientes para se irem recriando e misturando com propostas originais. Misturá-los com side scrolling beat’em up não é coisa nova, mas seja Harmoknight ou Double Kick Heroes, as ideias originais de nos porem a abanar a cabeça e a carregar em botões com precisão musical são sempre bem-vindas.

Muse Dash é mais uma aposta neste tipo de rhythm games: em que cada nota equivale ao timing de derrotar um dos muitos inimigos que vem na nossa direcção, em que cada golpe equivale a uma nota no tempocerto.

Qual a outra camada diferente adicionada a Muse Dash? Waifus. Se ainda há pouco falávamos de furries, temos aqui mais um jogo indie que adiciona um segmento de nicho e coloca o seu elenco totalmente constituído por waifus altamente customizáveis.

A arte colorida é enganadoramente “querida”, já que a jogabilidade é bastante desafiante. Muse Dash é sem sombra de dúvida a melhor aposta destes 3 indies que falamos nesta caçada: o jogo mais sólido e ao mesmo tempo um excelente rhythm game com um sabor a brawler e a anime.