Em geral sou um tipo sério, pelo menos para grande parte do mundo fora do meu círculo íntimo. Gosto de coisas sérias, e gosto que a arte se leve a sério. Mas nem sempre. Gosto da auto-consciência e do ridículo, e da paródia bem feita e da sátira acutilante. É por isso quase impossível não gostar de BDSM: Big Drunk Satanic Massacre, jogo cujo esquecimento do significado do acrónimo me fez pesquisar “BDSM game” no browser do computador do escritório.

Como disse, sou quase sempre um tipo sério.

BDSM: Big Drunk Satanic Massacre é uma sátira a Hellboy, mas sobretudo a Diablo. Lou, o protagonista, um demónio sorvedor de leite, é um mais do que óbvio piscar de olhos ao brilhante personagem de Mike Mignola, colocando-o nos cascos do filho do Diabo que tem percorrer uma série de níveis para salvar o Inferno. Estão a ver o Diablo? É isso, mas ao contrário. No final não confrontamos o Senhor dos Infernos, mas a surpresa é grande para todos os jogadores. 

As semelhanças com o clássico da Blizzard são mais do que óbvias, ora não fosse BDSM: Big Drunk Satanic Massacre um action RPG que ainda pisca os olhos (não só no logótipo) ao DOOM e ao seu armamento. Lou, munido de caçadeiras e outras armas de fogo tem como missão salvar os minions do seu pai e pelo caminho algumas succubi sensuais aprisionadas pelos nossos inimigos.

Cada interacção que temos está repleta de humor. Entre o suposto mantra que Lou aprende para libertar os seus minions de jaulas e que adocicam o mero acto de carregar no “E” para interagir com elas, passando pelas discussões com as succubi que se sentem marginalizadas e o verbalizam com tremendas doses de ingratidão. BDSM: Big Drunk Satanic Massacre é sátira, mas das boas. Daquelas que as piadas não são marteladas, mas que surgem de forma tão orgânica como uma possessão demoníaca numa aldeia da província. 

A pensar no público adulto e no politicamente incorrecto, os seus autores, o estúdio Big Way Games, permite-nos instalar um patch Adult Only que remove todas as censuras sexuais do jogo, que só por si já é divertidamente violento para agradar aos fãs de algum humor negro.

Com tantos indie action RPGs a tentarem emular o sucesso de Diablo, a grande maioria acaba por notar as fragilidades das suas equipas e falhar em diversos aspectos, sendo que o visual costuma ser o mais gritante. BDSM: Big Drunk Satanic Massacre não. Apesar de percorrermos os níveis em corredores sem grande liberdade, cada representação visual do jogo, dos modelos, ao cenário e às partículas, estão todos soberbamente definidos. 

Com um suave sistema de level up, sem loot, e com uma abordagem que herda muito de jogos como Alien Shooter, BDSM: Big Drunk Satanic Massacre consegue fazer ao longo de menos de meia dúzia de horas o que falha a tantos outros: criar uma experiência memorável, misturada com uma jogabilidade simples, mas eficaz. E a cereja diabólica em cima do bolo visceral são os sorrisos genuínos que eles nos oferece, nas piadas e nos gozos que Lou, e o restante elenco proferem, sempre auto-conscientes da paródia que são.