É impressionante perceber que um dos jogos que ajudou a revolucionar os Esports tem já 10 anos de idade. Como já diversas vezes referi, de todos os jogos que movimentam milhões de pessoas pelo mundo (e muitos milhões de dólares na sua actividade) o League of Legends foi o único ao qual dediquei tempo. Diria, agora em retrospectiva, “demasiado tempo”. Mas isso é uma reflexão para outro dia.
Numa semana em que a Epic Games conseguiu agitar as vagas mediáticas com a sua brilhante estratégia de comunicação do final do Capítulo 1 de Fortnite, foi a vez da Riot Games de paralisar toda a gente com o seu rol de novidades, que demonstram a inteligência da companhia em estender a influência do seu universo para além da dependência extrema com League of Legends.
O pensamento por trás destas novidades não é surpreendente. É fácil perceber que com uma legião de fãs do MOBA passado na ficcional Runeterra, com bem mais de uma centena de personagens com identidades bem reconhecíveis, a Riot Games estaria a perder esse valor tão importante – que é o tempo de jogo disponível dos jogadores – para jogos periféricos aos MOBAs e para outras companhias, em especial a gigante Blizzard, que parece nos últimos meses ser uma espécie de Golias que se lesiona com a sua própria funda.
Porque haveria um jogador de LoL recorrer à Blizzard para jogar um jogo de cartas como Hearthstone, ou um team-based multiplayer como Overwatch? A resposta era simples: a fórmula de aproveitamento do lore próprio da Blizzard para os seus múltiplos jogos era facilmente replicável no caso da Riot Games, com personagens icónicos, alguns deles que até são reconhecíveis por quem não joga LoL. Coisa que – e perdoem-me os meus muitos amigos fãs de DOTA 2 – o MOBA da Valve não tem, e dificilmente virá a ter num futuro próximo.
Posto isto, o décimo aniversário da Riot Games e do League of Legends é também o anúncio do ataque em diversas frentes. E, admito, mesmo como jogador reformado de LoL, que as propostas da Riot nestas diversas frentes deixam-me bastante entusiasmado por reencontrar alguns personagens que me acompanharam por demasiado tempo nesta década. Em especial a minha personagem favorita do jogo: a Miss Fortune, que parece ter sido eclipsada no mediatismo pela loucura transbordante da Jinx.
O grande anúncio e aquele que encerrou as revelações destes 10 anos de LoL é a produção de série de animação, com uma estética deliciosa, e que vai abrir o backstory de 2 personagens icónicos do jogo. Arcane ainda não tem data de lançamento, mas o trailer é suficiente para deixar muita ansiedade em perceber o que aí vem.
Para competir com o declínio de Overwatch, a Riot propõe-se a desenvolver a sua própria versão do jogo com os seus personagens, num título que tem como working title Project A, e que poderá ser lançado já no próximo ano.
Com os jogos de cartas a terem uma atenção renovada, diria até que muito graças à abertura que Hearthstone fez nos videojogos a muitos jogadores que nunca contactaram com os jogos físicos, a Riot teria de aproveitar entrar num embate de frente com a Blizzard (e diria com a Valve, mas o defunto Artifact já caiu no esquecimento). Legends of Runeterra vai ser um jogo free-to-play cujas saquetas poderão ser desbloqueadas com as habituais micro-transacções ou com recompensas de jogarmos o próprio LoL (e o Teamfight Tactics?). O jogo vai chegar em 2020 para PC e mobile, e tem já um pré-registo na rede.
A piscar o olho ao crescente mercado mobile e ao sucesso que Fortnite tem nestes dispositivos e nas consolas, sairá uma nova versão de LoL, com partidas mais rápidas, e adaptada de base para ser jogado sem teclado e rato. League of Legends: Wild Rift chega já em 2020 aos dispositivos móveis e pouco depois às consolas.
Os 2 projectos do qual menos se sabe e que são potencialmente os mais interessantes e menos expectáveis são os denominados Project L e Project F. Project L é a materialização da muito discutida possibilidade de os personagens de LoL se poderem defrontar num fighting game 2D, do qual já vimos algumas imagens, e que podem realmente abrir espaço para um novo competidor para o mercado dos jogos de luta.
Project F é mais enigmático e é aquele que menos se sabe, para além de sabermos que é um open world cooperativo e que é o que está na fase mais embrionária do desenvolvimento. Será um MMO? Um Action RPG cooperativo? Pouco se sabe. Mas é uma aposta corajosa da Riot Games.
E num passo de And Now for Something Completely Different, um dos últimos anúncios foi o LOL ESPORTS MANAGER, um jogo de gestão de equipas e de competições que fará as maravilhas dos treinadores de bancada e cuja parte dos lucros reverterá para as equipas reais envolvidas e representadas no próprio jogo.
Depois desta série de anúncios comprova-se que a Riot Games não é de todo uma empresa que coloque as suas fichas a inventar algo novo. O League of Legends, como sabemos, não é uma inovação, mas tem méritos diferentes. Continuo a achar que a grande arma da Riot Games (em oposição, por exemplo, à Valve) é ter aprendido com o modelo de funcionamento da Blizzard e ter percebido a importância de criar universos e elementos reconhecíveis e vendáveis, cheios de personalidade. Replicar esse universo rico e reconhecível em tantos outros géneros já existentes e potencialidades de negócio não é um risco criativo por si, mas é uma demonstração de posicionamento da empresa. Com todas estas revelações a Riot Games vem fazer o que faz, e muito bem: reinventar a roda redonda. Mas fá-lo com uma diferença: essa roda não é apenas uma qualquer: é cativante, entusiasmante e apelativa, e isso até nos faz esquecer que a aura de inovação dessa mesma roda está tangente a zero.