Há um par de meses conversámos do criador de dois dos jogos de tabuleiro que mais nos chamaram a atenção no Kickstarter: New Salem e Barker’s Row, dois jogos da editora Overworld Games que se demonstravam distintos de qualquer outro por uma direcção artística única. Brian Henk aproveitou então a oportunidade para nos revelar uma completa mudança no foco da empresa: seguindo a experiência de Good Cop, Bad Cop, um jogo mais simples que desenvolveram anos antes, iriam dedicar a sua visão no desenho de jogos de tabuleiro a uma abordagem mais imediata, com jogos simples com caixas pequenas que possam ser facilmente transportadas. E assim, como anunciado há dias, nasceu a editora Pull the Pin Games.
O jogo de lançamento desta reinvenção da editora de Brian Henk é um jogo que pega num personagem conhecido por todos: o lendário Zorro. The Zorro Dice Game, cuja campanha de Kickstarter foi lançada há poucos dias mas que já ultrapassou mais de 4 vezes o valor pedido, é um divertido jogo competitivo de dados, com partidas rápidas que podem até resultar em não haver um vencedor. Mas já o explicaremos mais à frente.
Em The Zorro Dice Game o nosso objectivo é tornarmo-nos o afamado herói, cuja capa e mascarilha serão passados para um próximo “descendente” (à semelhança do que acontece entre Anthony Hopkins e António Banderas no filme de 1999). Para isso temos de conseguir derrotar o vilão, e se necessário outros jogadores que sejam pretendentes à mascarilha do Zorro.
Mecanicamente o jogo é muito simples, e por isso é uma daqueles jogos excelentes para jogar com toda a família. Na mesa existem 4 cartas de vilões (um de cada cor, amarelo, verde, azul e vermelho) com um dado dessa cor em cima. Abaixo desses vilões existem bandidos da sua cor, também eles com um dado com a cor correspondente.
No centro da mesa são aleatoriamente retiradas cartas de evento (cada carta tem a cor correspondente ao vilão respectivo), na horizontal, enfileiradas, e cada uma com uma peça de equipamento clássica do Zorro como loot por baixo.
No nosso turno temos de escolher em que evento colocamos o nosso peão. De seguida, para conseguir resolver essa carta de evento – um feito heróico digno do Zorro) temos de conseguir rolar o número de símbolos nos dados correspondentes ao que a carta pede. Para isso podemos rolar qualquer número dos 6 dados partilhados por todos os jogadores até 3 vezes na esperança de conseguir resolver aquele perigo. Podemos pedir ajuda a outro jogador, o que por um lado é uma quase garantia de batermos o evento, mas por outro permite que outro jogador obtenha também uma peça de equipamento como recompensa.
O equipamento básico tem um número limitado e permite-nos facilitar a obtenção dos símbolos dos eventos. Alguns garantem logo um símbolo apenas por termos determinado equipamento, outros há que nos permitem rolar dados de forma adicional às 3 vezes estabelecidas nas regras.
Se completarmos um evento ele vem para a nossa frente, assim como o equipamento da recompensa. Se resolvermos dois eventos da mesma cor despoletamos o bandido correspondente, retiramos o dado para a nossa posse (ficando definitivamente nosso) e todos os jogadores começando no jogador a seguir a nós terá um turno para tentar bater o bandido. Os bandidos (assim como os vilões) têm habilidades próprias que dificultam o combate, tais como diminuir o número de rolls ou o número de dados. Todos os jogadores que consigam derrotar o bandido triggered podem tirar uma peça de equipamento premium da pilha correspondente. O jogo tem o limite de uma peça de equipamento premium por jogador.
Despoletar o end game é simples e é feito de forma similar à forma como se despoletam os bandidos: o primeiro jogador que resolver um terceiro evento da mesma cor ou o jogador que despoletar o segundo evento de uma cor cujo bandido já foi derrotado activa a luta com o boss final, recolhe o dado que está sobre a carta do vilão, e, começando no jogador a seguir a si, cada um terá um turno apenas para conseguir derrotá-lo. Os combates com os vilões são mais difíceis: carecem de um maior número de símbolos específicos para além de terem poderes que afligem ainda mais as nossas hipóteses de os obter.
Como todos os jogadores têm uma hipótese apenas para o derrotar, se ninguém o conseguir o jogo termina sem vencedor. Se apenas um jogador o conseguir ele é declarado o próximo Zorro, mas se mais do que um o conseguir terá de haver um combate entre o número de jogadores vitoriosos para que apenas um possa empunhar a mascarilha do Zorro. O que é engraçado, mas se houvesse uma ligação narrativa à história criada por Johnston McCulley significaria que os pobres e os oprimidos seriam roubados de mais um vigilante a defender a sua causa, já que os aspirantes a Zorro iriam aniquilar-se até que apenas um restasse. Coisa que está mais para Highlander do que para Zorro. Neste combate os jogadores têm os habituais três rolls, e aquele que tiver o número mais alto de símbolos de espada vence o combate.
The Zorro Dice Game tem ilustrações family-friend nas suas cartas, que representam o herói clássico a executar uma série de feitos heróicos, para além de dados customizados com os símbolos do jogo. Não é um jogo que tenha muitos componentes e isso justifica não só o tamanho da sua caixa (que lembra o tamanho de um VHS) como o seu valor (o jogo base tem como pledge no Kickstarter o valor de 15$). Este é um jogo leve, com um setup tão simples quanto as suas regras: algo que se explica em pouco tempo e que quase instantaneamente todos irão compreender.
Das vezes que joguei percebi que entre ir resolvendo diversos eventos diferentes para obter equipamento ou fazer rush ao vilão é uma questão de adaptação aos resultados dos adversários. Até porque ter equipamento é uma ajuda para derrotar os bandidos e boss finais (que são todos diferentes entre si) mas não são de todo uma garantia de sucesso.
Este é um bom jogo para sessões muito curtas de jogo, com a preparação e a partida propriamente dita (dependendo literalmente na sorte nos dados e nas decisões dos jogadores) a poderem chegar aos 15 minutos.
The Zorro Dice Game não reinventa os jogos de dados, mas encontrou uma forma original de os aplicar, com uma temática reconhecível por todos (pelo menos os mais velhos) e que encaixa na perfeição no flow do próprio jogo. Até dia 16 de Novembro o jogo está em Kickstarter num valor mais baixo do que terá em retalho, quase certamente. E é uma excelente aposta para jogos mais leves para jogar com família e amigos, e que tem o condão de não ocupar muito espaço, nem na explicação das regras, nem na prateleira.