Não sou uma pessoa de gatos. Sinceramente, para mim o gato doméstico é o ser vivo mais inútil que existe. Uma pessoa que se intitule dona de um gato não sabe que na verdade o dito bichano é que é dono de uma pessoa. É esse o sentimento que tenho especialmente quando vou a casa de amigos meus e vejo as feras todas repimpadas a não fazerem nada… ao menos um cão sempre guarda a casa e em caso de assalto geralmente vêm-nos acordar. Ora bem Cat Lady da Alderac Entertainment Group (AEG) de Josh Wood é precisamente sobre a arte de ter um bichano no qual estoiramos a nossa parca reforma quando chegamos à terceira idade.
Cat Lady é um daqueles jogos que um verdadeiro homem não tem medo de jogar porque está bastante seguro da sua masculinidade quando o faz. Sim, os gatos são femininos, queriduchos e na Internet até à vídeos deles a tocarem piano o que reforça profundamente o estereótipo de que são criaturas mais místicas que Sua Santidade o Dalai Lama. Voltando ao jogo, Cat Lady surpreende pela sua simplicidade e rapidez para explicar as regras. Este é um daqueles casos em que se optou por criar um jogo simples sem mecânicas complicadas. É por isso mesmo que o considero um dos melhores fillers presentemente no mercado pois permite ambientar muito facilmente novos jogadores a um card game clássico com uma mecânica de set collection.
A mecânica
A mecânica é simples. Temos uma grelha de nove cartas dispostas em três linhas com três colunas. Cada jogador e à vez vai retirar para si ou uma coluna por inteiro ou uma linha completa de cartas. O baralho refresca, cada vez que cada linha e cada coluna é retirada. Quando um jogador deixar de conseguir ir completando a grelha na mesa despoleta-se imediatamente o fim da partida. Existe ainda um token em forma de gato que proíbe que na jogada imediatamente posterior à reposição de cartas o levantamento da nova coluna/linha de cartas. Isto evita que a linha/coluna seja retirada imediatamente após a sua entrada em jogo.
Todas as cartas recolhidas fazem o seu efeito imediatamente. As nossas ações em termos muito lautos vai passar por acolher gatos e dar-lhes de comer. Pelo meio poderemos arranjar-lhes brinquedos, fatiotas e ainda mais amigos. Aqui a gestão de recursos encontrados quer sobre a forma de comida quer sobre a forma de gatos terá que ser equilibrado, isto porque um gato não alimentado não dara pontos nem fará os seus efeitos especiais; e cada recurso-comida que não for dada a cada gato, conta como pontos negativos no final da partida.
As cartas são bastante simples. Temos cartas de brinquedo que serão importantes apanhar a maior variedade de brinquedos possíveis para ganhar mais pontos; cartas de comida indispensáveis para alimentar os gatos existindo de quatro tipos (representados por cores). Temos azul para atum; vermelho para frango, branco para leite e púrpura que é uma carta joker que vale por qualquer um dos outros três tipos.
Existem ainda cartas de disfarce. Como uma boa Cat Lady temos que aprumar o nosso tareco e vesti-lo ou de sapo ou de coelho. Temos ainda cartas de catnip (erva gateira) ideais para multiplicar o resultado final. Existem ainda cartas de gato perdido. Com cada par de cartazes de ‘gato perdeu-se’ descartadas podemos ir resgatar gatos vadios (que normalmente valem por si só muitos pontos) ou então um token que vale dois pontos no final da partida. Uma vez que os três gatos vadios podem mudar a cada partida então temos alguma ‘re-jogabilidade’ de todo jogo em si. Existe ainda uma carta com um aspersor de água que serve para reposicionar o token em forma de gato cinzento de modo a libertar a linha/coluna recentemente reabastecida ou a bloquear uma carta que não queremos dar ao adversário. Resta ainda acrescentar que cada gato possui um grupo de cores específico. Tal, torna-se particulamente relevante quando temos a possibilidade de multiplicar o resultado obtido por via da ação descrita no fim da carta. Por exemplo ter o gato x ou y permite acrescentar x pontos por cada gato de cor laranja ou branca que tenha sido alimentado. Catita hã?
Relativamente à arte esta é de facto muito simples, naif mesmo. Sendo feita pelo seu criador, Josh Wood , é quase digno considerar este jogo um one man show, não fosse a AEG a distribuidora. Uma grande parte do texto das cartas gato recorrem, ao que teria sido descrito por Samuel Johnson, à mais baixa forma de humor existente. Neste caso específico sob a forma de um punning do ‘piorio’. Se não vejam-se os exemplos, que me fizeram dar uma gargalhada na primeira vez que experimentei Cat Lady.
Resumindo, devido à sua simplicidade, Cat Lady é um jogo que em si é extremamente inclusivo para todos os jogadores, sejam eles novatos ou experientes. Atendendo ao facto que existem acções explicadas em inglês, a barreira linguística poderá afastar os jogadores que ainda não falam a língua. Não obstante, é, à semelhança de Sushi Go, um jogo para toda a família por ser muito simples e fácil de aprender a jogar. É igualmente um excelente filler para jogar entre jogos isto porque após se aprenderem as regras, uma partida não deverá demorar mais de vinte ou trinta minutos a ser jogada na totalidade. A dois jogadores o fator estratégia é enormemente amplificado pois permite ambos os jogadores controlarem a partida e as jogadas adversárias com mais cuidado. Cat Lady é um daqueles jogos pequenos que são discretos e não têm um marketing associado à sua divulgação, no entanto é um bom jogo que ainda é relativamente desconhecido do grande público e merece ser experimentado.