Dezembro de 2016… foi quando joguei um pré-alpha de Lost Ember e fiquei com o bichinho (quase literalmente) do jogo, mas com tanta coisa a sair, tanto trabalho e trabalhos no meio fui deixando isto para o lado até que o Miguel Cruz no seu Gold Coin colocou um post acerca dele e eu reparei que já estava lançado. Daí a jogar e fazer esta análise foi um saltinho de lobo, ou coelho ou outro animal que salte.

Lost Ember é uma bela experiência, não tem stresses, não há combate, não há puzzles e raramente tem desafios, pensando bem é menos jogo e mais uma experiência interactiva, uma espécie de fábula ou conto virtual no qual podemos explorar cada página ao máximo procurando e descobrindo todos os seus segredos. Isso não lhe tira valor, até o torna daqueles “jogos” que adoro ter no final do ano, algo que me permite explorar um universo alternativo, um mundo mágico ou de sonho que não tem problemas graves além de descobrir como chegar do ponto A ao B e neste caso a solução é sempre a de assumir a forma de um animal que esteja próximo, seja ele um pássaro, peixe ou outro qualquer que permita aceder ao ponto que queremos.

Num ponto de vista de enredo, estamos num mundo pós apocalíptico onde já não há humanos, tomamos o controlo de um lobo e uma alma que está representada numa pequena bola de luz que é tanto companheiro como narrador da nossa história, também um pouco de guia e comentador, mas sem excessos de “Hey! Olha aqui!” nem comentários desnecessários. A Luz, como eu lhe chamo, tem uma voz calmante e com bastante sentimento nas alturas que deve ter. Não vou divulgar mais porque cinquenta por cento do jogo é a história, é ir de ponto a ponto descobrindo pequenos parágrafos que preenchem os capítulos desta aventura. Cada passo que o lobo dá, cada bater de asas ou barbatanas faz-nos avançar mais neste livro digital, e contar mais do que já foi escrito aqui iria estragar a experiência.

De resto é um jogo bonito, muito bonito, a maior parte das vezes ando a passear em vez de correr para os pontos que tenho que chegar, não gosto de perder de vista as vistas que este mundo proporciona, em especial se nós formos tirar o máximo proveito do gimmick de possessão dos animais. Em Lost Ember o nosso personagem principal é um lobo a quem é dada a capacidade de possuir outros animais, controlando a sua forma e habilidades. Alguns têm capacidades que não acresce nada ao jogo como poder comer bagas. Está lá só porque é giro, mas outros como poder cavar ou voar são cruciais para o progresso.

Os cenários estão repletos de pequenos segredos e objectos para encontrar que apenas lá estão para termos algo mais que fazer sem ser avançar todos os pontos do conto, é um extra giro mas é dispensável, acho que apenas a possibilidade de explorar o mundo como diferentes animais seria suficiente sem ter uma cenoura na frente para alcançar. Porque Lost Ember não é esse tipo de jogo, não tem que nos acenar com conteúdo adicional para nos fazer algo mais e dar mais rendimento ao que pagamos por ele, é um jogo que nos dá uma sensação de paz, de exploração de vários tipos tipo seja do cenário ou da história com calma e sossego, onde caminhamos ao nosso passo e paramos quando queremos para apreciar o cenário. Não é feito para correrias e caçadas, é feito para apreciar. Como um bom whiskey acompanhado por um bom livro em frente a uma fogueira no inverno.

Lost Ember não tenta ser uma grande aventura em open world nem um jogo de acção mesmo que tenha partes mais emocionantes de vez em quando, tenta ser apenas aquilo que é, um conto digital com uma história interessante que brinda o jogador com a possibilidade de explorar tudo o que quiser literalmente em várias formas. É altamente recomendado pela sua beleza visual e narrativa. Peca pelo facto de ser relativamente curto, mas vale a pena de qualquer modo.