No final do Verão, dois membros deste fantástico jornal e mais um soon to be amigo juntaram-se para um training course em jogos de tabuleiro inserido nas oportunidades de formação do programa Erasmus +.
Comecemos por vos explicar o que são os Training Course do programa Erasmus+. São formações pensadas para a formação de profissionais que trabalhem com jovens. Por norma, são programas de treino intensivo de curta duração (± 8 dias), sem limite de idade para os participantes, à volta de um tema relevante/actual ou promotor de crescimento para a juventude. Acresce ao objectivo pedagógico destas experiências, um segundo propósito de dar a conhecer aos participantes a cultura do país onde fazem a formação e dos restantes países europeus a que pertencem os participantes dos treinos. Se por si só são argumentos para deixar qualquer um com o bichinho de querer participar, estas formações/experiências são financiadas na totalidade pela União Europeia.
Voltando à experiência destes 3 aventureiros, o treino de que, com boa memória e uma certa nostalgia vos falamos, teve lugar na Estónia, num belo complexo de turismo rural e pesca recreativa, numa zona florestal próxima da não menos bonita capital da Estónia, a medieval Tallinn.
26 participantes de 9 países, diferentes idades e backgrounds profissionais diversos juntaram-se pelo seu amor a jogos, jogos de tabuleiro e o propósito de querer fazer algo bom com eles em contextos educacionais. Sim, adivinharam bem! O training course de que falamos, Eduboards de seu nome, pensado e dinamizado pela Shokkin Group da Estónia, dedicou-se ao ensino e treino de competências para o uso de jogos de tabuleiro na educação.
Baseado em metodologia de ensino não formal, o training course foi desenhado para, passo a passo, sempre que possível pondo “a mão na massa”, fossemos aprendendo o necessário sobre teoria de jogo, mecânica e design, para que pudéssemos desenvolver os nossos próprios jogos durante essa semana e os testássemos no final com voluntários. Os participantes foram divididos em grupos, consoante um interesse em comum de temas a “gamificar” e, perto do final da semana, tínhamos 5 novos jogos de tabuleiro educacionais desenvolvidos em temas tão diversos como, uso seguro da internet, regulação emocional, pensamento crítico sobre dinâmicas de autoridade-colaboração, integração de refugiados. Com diferentes níveis de complexidade em termos de dinâmica e design de jogo, as várias criações, de que pelo final da semana nos orgulhávamos de ter construídos, foram levadas a teste na sede da associação anfitriã em Tallinn perante um público de adolescentes estónios sedentos de vontade de jogar. O evento foi um sucesso, todos os grupos obtiveram muito bom feedback dos jogos de tabuleiro criados. O mesmo podemos dizer de todo o training course, na medida em que, no final todos estávamos muito contentes com o trabalho intensivo que tivemos durante a semana a aprender e a construir os nossos próprios jogos e com a qualidade do resultados final.
O ritmo de trabalho durante a semana foi rápido e intensivo, mas engane-se quem por ora esteja a achar que a semana foi só trabalho. A experiência cultural é quase tão importante nestas acções de Erasmus+ quanto as competências profissionais a adquirir. Estávamos num autêntico paraíso verde, rodeados de floresta e um pequeno rio, munido de instalações para diferentes desportos (ex: futebol, voleibol de areia) e para as tão desejadas sauna e tünissauna (espécie de jacuzzi com água a cerca de 40º). A sauna foi do que tiramos mais proveito, em especial da experiência única e muito estónia, de sairmos quer da sauna quer da tünnissauna com o corpo a arder e saltarmos para o rio com a água gelada. A experiência resultante do choque térmico é tão boa e relaxante que defendemos que deveria ser proposta para património imaterial da UNESCO.
Os nossos estômagos tiveram também eles a sua experiência cultural. Foram servidos durante toda a semana por diferentes pratos tradicionais estónios, e, um pouco surpreendentemente devemos admitir, ficaram muito agradados. A país não é conhecido pela sua culinária mas ela está longe de envergonhar, já o crescente e criativo mercado de cerveja artesanal não desiludiu e muito ajudou nos momentos de lazer noturnos ora na sauna ora agarrados a um bom jogo de tabuleiro.
Em jeito de conclusão podemos dizer que o training course foi um sucesso! Pelo aprendido em termos de conceito de jogo e pela experiência cultural riquíssima, mas sobretudo pela relevância e utilidade dos jogos de tabuleiro criados durante o treino. Já passou algum tempo desde o seu término e sabemos que alguns dos jogos desenvolvidos encontram a ser usados em alguns países europeus, por alguns dos participantes do treino, ensinando divertidamente os jovens com quem estes colegas trabalham. De nossa parte, também divertidamente aprendemos e criamos algo útil para os jovens europeus, essência do que uma experiência de Erasmus+ deva ser.
Um bem haja ao Shokkin Group pela excelente organização do treino, esperemos nos reencontram no futuro próximo, quem sabe até se desta vez em conjunto com alguns dos nossos leitores! Os jogos poderão ser disponibilizados a quem o desejar utilizar.
Estas são imagens dos dois jogos desenvolvidos pelos nossos membros:
Shapeland, um jogo pseudo-cooperativo onde todos os jogadores têm que cooperar para a sociedade funcionar e não perderem todos, mas também têm que ser egoístas para serem os vencedores finais.
E um jogo que representa a adaptação que temos que fazer para acomodar o maior número possível de refugiados na sociedade, sem comprometer o bem-estar da mesma.