As emoções que eu sinto quando penso em Dark Devotion são complicadas. Além de ler o nome do jogo ao ritmo de Sweet Emotion dos Aerosmith, é um grande meh porque é tão contraditório nos seus pontos bons e maus, o que ele é e no que podia ser…

Em primeiro lugar vamos ver o que Dark Devotion parece ser quando o começamos, especialmente se não fomos ver a sua descrição no site. Ao arrancar pensei imediatamente: “Olha que belo metroidvania em pixel art!” mas depois percebi que apesar de ter pixel art muito bem feita não é um metroidvania, até tenho dificuldade em dizer que é um platformer. É 2D e tem plataformas mas tem um problema muito grande, que é não se poder saltar. Parece um pequeno pormenor sem importância, mas pensemos em quantos jogos de plataformas temos onde o personagem não salta. Vá lá… eu espero… pois. Os maus, se é que há algum.

Depois disso também percebi também que não era um metroidvania, mas uma espécie daqueles jogos da moda que são os soulsborne. Avançamos e lutamos com inimigos apanhando os seus ritmos e fraquezas, morrendo várias vezes. Muitas, muitas, muitas, muitas, muitas vezes até passar ao boss/inimigo seguinte repetindo o processo. Mas também aqui errei. Ao contrário dos soulsborne, quando morremos aqui voltamos ao início e o nível já não é exactamente igual à nossa tentativa anterior. Talvez seja porque os developers queriam dar mais capacidade de replay ao jogo mas aliado a um dos piores mapas de jogo que alguma vez vi tornam as mortes constantes e perda total de tudo o que apanhei no caminho ainda mais frustrantes e irritantes que habitual.

Em vez de um metroidvania ou souls-like Dark Devotion é apenas um roguelike muito difícil. O seu ambiente e arte são óptimas, o enredo parece interessante mas a sua aplicação é, à falta de expressão melhor, parva. Podiam ter feito um óptimo metroidvania que apesar de não rivalizar com o Hollow Knight ou o Bloodstained podia fazer uma marca maior no mercado do que a de um jogo que pouca gente se vai lembrar daqui a uns meses. E como na Hora do Meh temos que matar os jogos que estão aqui em animação suspensa: Dark Devotion está condenado a ficar num limbo repetitivo em que morre estúpida e dolorosamente atacado por um inimigo com 1,5 metros que não consegue evitar. Porque não é capaz de saltar.

Numa nota adicional, além da parte dos Aerosmith, Dark Devotion também me faz lembrar as minhas férias de infância na Costa da Caparica que entre outras coisas eram marcadas pela banca de livros de BD em segunda mão ao lado da banca que vendia livros românticos da Sabrina, onde tenho a certeza que existia um chamado Devoção Sombria, com um homem de cabelo longo e camisa aberta abraçado a uma mulher que caía nos seus braços.

Além disso, e já que estou a falar de livros, quem acha que os soulsborne são difíceis deviam ler os originais, as Aventuras Fantásticas. Aí é que tínhamos que ir até um ponto, morrer, voltar para o último capítulo que tínhamos marcado. Tentar outro caminho, morrer outra vez. Voltar mais atrás, morrer mais uma vez… e ali tudo à mão!