Caça ao Indie #212
Não consigo mesmo perceber o celeuma todo que tanta, mas tanta gente tem com Greta Thunberg. Uma jovem que tem sido a voz daquilo que é a nossa maior ameaça: as alterações climáticas, e que tem inspirado milhões de outros jovens a preocuparem-se com um futuro que é de todos, mas é, sobretudo deles.
É possível que grande parte do azedume seja uma mistura estranha entre sentimento de inferioridade por verem uma jovem adolescente a conseguir ter voz onde tantos outros falharem, ou a frustração de sentir que em comparação com a importância de alguém que ainda nem tem idade para a tirar a carta, as suas vidas serem uma valente treta.
Os dois indies que nos calharam nas mãos esta semana têm como protagonistas duas jovens que à sua maneira são as heroínas dos seus mundos.
Mutazione [PC, Steam]
Se há algo em que os jogos indie ultrapassam os seus “irmãos” com orçamentos bem mais avultados é na possibilidade de se descomprometerem com expectativas. Permitir quem um jogo de aventura se foque exclusivamente na sua narrativa, nas suas metáforas e parábolas, e nas mecânicas, por muito simples que sejam, que sustentam todo o enredo.
Mutazione é um desses casos, onde controlamos Kai que vai à titular ilha visitar o seu avõ que está às portas da morte. Mas Mutazione é algo extraordinário – tanto o jogo quanto a ilha – é que há algumas décadas caiu lá um meteoro que começou a mutar plantas e habitantes, que acabaram por criar uma micro-sociedade de pessoas estranhas, mas tão humanas quanto cada um de nós.
O avô de Kai, que serve como um xamã da própria comunidade, era o cuidador principal dos jardins de Mutazione, tarefa que lentamente nos vai cair sobre os ombros. As mecânicas de jardinagem são um contributo metafórico para toda a comunidade de Mutazione, à medida que vamos conversando com os seus habitantes e desvendando histórias tão mundanas que lentamente se interligam nos segredos mais escondidos de toda a ilha.
Lançado para PC e PS4, Mutazione, desenvolvido pelo estúdio Die Gute Fabrik, é deslumbrante tanto do ponto de vista visual como narrativo e é uma das experiências contidas mais interessantes deste final de ano.
Don’t Die, Minerva! [PC]
Lançado à volta do Halloween em Early Access no Steam, Don’t Die, Minerva! é um original roguelite onde o Dia das Bruxas é o tema principal, e onde controlamos uma menina de 11 anos que encontra uma casa assombrada.
Repleta de monstros e fantasmas, Minerva tem de contar com os seus fiéis peluches para a defender de todas as criaturas assustadoras que a querem destruir. Os peluches servem de habituais turrets como em outros action RPGs, e que complementam o dano dado directo com os nossos medalhões ou tochas.
Como seria de esperar de um jogo destes, vamos morrer muitas vezes. Mas sempre que o fazemos trazemos connosco essência mágica que nos vai permitindo desbloquear habilidades que vão progressivamente conferindo-nos com melhores capacidades para fazer frente à casa assombrada.
Apesar do seu preço (16,79€) me parecer um pouco inflacionado, acredito que Don’t Die, Minerva!, com a sua temática de Halloween misturado com brincadeira, sem qualquer violência ou grafismo pesado, seja uma boa porta de entrada para o género dos RPGs roguelite para os mais novos.