Caça ao Indie #213

Os roguelikes vivem hoje uma notoriedade que os torna quase ubíquos. No caso da gastronomia portuguesa, são um pouco como o bacalhau: há mil e uma formas de os cozinhar, todas diferentes, mas temos preferência por uns em detrimento de outros. 

É o caso dos 3 indies desta Caçada, com géneros diferentes, mas todos a implementarem elementos de roguelike na sua criação.

EarthNight [PC, Nintendo Switch,PlayStation Vita]

 

EarthNight é um jogo que nos tem a todos feito sonhar desde o momento em que o seu primeiro trailer de revelação foi divulgado online. Totalmente desenhado à mão, este auto-runner com níveis proceduralmente gerados é uma homenagem aos jogos de arcada clássicos.

Num mundo onde dragões surgiram do espaço e estão a destruir a Terra, cabe-nos a missão de saltar de uma nave que os sobrevoa, percorrer o comprimento dos seus dorsos e eliminá-los quando chegamos às suas cabeças.

Com aspectos roguelike em que vamos colectando a maior riqueza que existe: água, e a qual utilizamos para trocar por upgrades que nos vão facilitando novas incursões com as duas personagens jogáveis. 

EarthNight é interessante, e delicioso de ver com todos os assets ilustrados à mão a serem utilizados em múltiplos planos pelo ecrã, mas por vezes o seu loop pode cair tangencialmente na repetição. Mas é um título distintivo que merece ser jogado pela capacidade de criarem algo coeso, bonito e de alguma forma, novo.

Black Future ’88 [PC, Switch]

Shooter platformer roguelike bidimensional cyberpunk em pixel art parece algo mais habitual do que um brawler ou um endless runner. Black Future ’88 não faz nada de inovador, mas a diferença cabal entre ele e tantos outros é a qualidade de execução e a fluidez de resposta e movimentos. 

Passado num ambiente cyberpunk em que muitos dos elementos são destrutíveis, Black Future ’88 é um tremendo jogo do género, onde cada playthrough, proceduralmente gerada, em que temos exactamente 18 minutos para conseguir terminar o jogo, ou enfrentamos a morte. 

É claro que pelo caminho vamos encontrando upgrade chips cumuláveis (mas não permanentes) para além de armas que podem criar sinergias com a nossa capacidade de teleporte curto para tornar a acção diversificada.

Quando morremos (e vamos fazê-lo muitas vezes) subimos de nível e desbloqueamos itens que podem aparecer aleatoriamente como drops numa próxima playthrough, para além de podermos mudar de personagem.

Black Future ’88 pode não ser, como disse, inovador, mas tudo a que se compromete fazer fá-lo muito, muito bem. Do ponto de vista de execução é uma das experiências mais aprimoradas e orgânicas dentro dos shooter platformers de acção intensa, e uma das nossas grandes recomendações no género.

Story of a Gladiator [PC]

O pequeno parágrafo que serve de enredo a Story of a Gladiator é literalmente a história do filme The Gladiator, com o Russel Crowe (e acredito que a história real de muitos daqueles que foram obrigados a combater por entretenimento no Império Romano). A nossa família e a nossa aldeia foram destruídas, e resta-nos apenas sobreviver na Arena para gáudio do povo romano.

Há uma abordagem roguelike a este brawler que se passa no espaço confinado de uma arena de gladiadores. Começamos o nosso primeiro combate munidos apenas de um escudo rachado e de um gládio. O combate é em muito semelhante ao dos side-scrolling beat’em ups clássicos, em que as hitboxes são afectadas pela deslocação vertical. 

Se a primeira missão de Story of a Gladiator nos mostra o objectivo presente daí para a frente: sobreviver a todas as vagas de inimigos, existe um segundo objectivo: recolher o máximo de dinheiro em cada combate, mesmo que percamos, para podermos fazer upgrades e comprar novo equipamento. 

O loop é essencialmente este, mas o desafio e a jogabilidade sobrepõem-se a uma eventual monotonia pelo número de vezes que vamos repetir missões para ganhar o dinheiro que precisamos. Para fãs de brawlers arcade, Story of a Gladiator consegue pegar no género e ainda o polvilhar com valentes doses de roguelike.