A Hora do Meh #30

Se não fosse óbvio o suficiente que está é a trigésima A Hora do Meh, 29 edições depois do primeiro artigo que o Isaque escreveu na rubrica há mais de 4 anos. Esta edição (e possivelmente a última de 2019) traz-nos 3 jogos medianos, daqueles que não aquecem nem arrefecem, que fazem do acto de o jogar uma coisa perfeitamente inócua. 

São 3 momentos de criatividade perdidos, comparando com tantas outras hipóteses melhores de jogos que por aí andam.

WarpThrough [PC]

Sempre que analisamos uma obra qualquer, e esta apresenta uma direcção artística fora do vulgar, é frequente que nos debatamos com a dúvida: será que este é um sinal de decisão estética ou de limitação artística?

WarpThrough é um dos casos em que uma reflexão mais meticulosa pende para o lado da limitação artística, onde o ar “tosco” dos personagens nos lembra que há 30 anos, com limitações técnicas muito mais ferozes, havia quem conseguisse fazer melhor figura com pixel art do que o estúdio Roofkat.

O que é uma pena porque o jogo até tem uma série de ideias interessantes de como diversificar a ideia de platformers, especialmente com a nossa impossibilidade de atacarmos carregando num botão. Para desferirmos um ataque em WarpThrough temos de parar o nosso personagem, deixar que ele carregue o dito ataque, e a seguir, largá-lo numa direcção.

O grande problema de WarpThrough, como dizíamos, é que jogos antigos que lhe serviram de inspiração têm melhor aspecto e fluidez do que ele, e dificilmente conseguimos ultrapassar o seu ar abertamente tosco. Já para não falar de uma história realmente mediana.

Profane [PC]

Adoro twin stick shooters. Dêem-me um bom bullet hell desafiante, mas justo, e facilmente me vão ver a passar umas boas horas aí mergulhado. Façam desse tal twin stick shooter bullet hell uma boss fight rush e aí venderam-me o jogo completamente. Ou quase.

Profane é um desses casos, competente naquilo que quer fazer mas pouco mais do que isso. Este ano no Game Dev Student Showcase joguei a um jogo feito por estudantes como trabalho de final de curso e foi fácil ver que as potencialidades entre esse jogo e este Profane são infinitamente diferentes.

Há, porém, boas ideias em Profane. A primeira delas é que a barra de vida não existe, mas todos os tiros que levamos baixam os 5 minutos que dispomos para derrotar cada boss. Findo esse tempo e é game over. Esta pequena alteração é interessante o suficiente para nos fazer olhar para Profane com outros olhos, mas não chega.

Visto que todo o jogo é uma boss fight rush, esperar-se-ia que os inimigos correspondessem a elementos memoráveis, visual e mecanicamente, mas são tão esquecíveis que contribuem para fazer deste Profane um jogo mediano. 

Ritual Crown of Horns [PC, Switch]

Tenho um fraquinho por jogos que incorporem a temática dos westerns desde que joguei no final dos anos 1990 a Outlaws. Talvez seja essa a grande razão para Call of Juarez, Desperados e Red Dead Redemption serem séries que me agarram quase de imediato.

Um horde shooter top down com um setting de western tinha praticamente tudo para ser uma conquista imediata comigo… não fosse o facto de em pouco tempo Ritual Crown of Horns se tornar muito aborrecido. 

Em Ritual Crown of Horns temos de defender uma bruxa que está a fazer um encantamento para “limpar” espiritualmente a terra, eliminando-a da presença dos espíritos malévolos e dos zombies. O problema? É que vamos ter de fazer isto ao longo de vários mapas, e sempre a mesma coisa: defender a bruxa que está estacionária a fazer um encantamento e destruir todos os inimigos que se aproximam para a derrotar.

Uma repetição desnecessária que acaba por manchar a experiência do jogo. Se Ritual Crown of Horns intercalasse estes momentos de horde shooting com deambulação pelo mapa, decerto que iria impedir de ser tão aborrecido quanto acaba por ser. E 20€? Não será um preço um pouco elevado? É que por esse valor garantidamente que conseguimos comprar vários jogos bem mais interessantes do que este…