Sem discutir que Sozinho em Casa é o derradeiro clássico natalício no nosso televisor, cada vez mais sinto que os dois primeiros filmes de Harry Potter – Pedra Filosofal e Câmara dos Segredos – são sucessores à altura nesta quadra que atravessamos.

Deve ser qualquer coisa que tem o Chris Columbus a fazer filmes – fazem-nos sentir aconchegados ao nível do coração, como uma manta nas pernas ou uma rabanada no estômago. Aqui no Rubber é costume pegar-se nos filmes para uma coisa mais à Dia das Bruxas, mas permitam-me o espírito natalício em partilhar a minha experiência com um par de adaptações felizes ao videojogo – os primeiros dois títulos da saga do Rapaz Que Sobreviveu no GameBoy Color.

Pese conhecer a história de trás para a frente, o facto de o jogo seguir a narrativa não lhe tira qualquer valor

Escolha estranha, Óscar“, admite intrigado o fiel seguidor do nosso galinheiro. Subscrevo na íntegra. Estávamos na infância do novo milénio e o fenómeno de massas que foi Harry Potter levou também a uma investida no mundo dos videojogos em todas as plataformas de então – PlayStation (1 e 2), GameBoy (Color e Advance), PC, GameCube e Xbox.

Com A Pedra Filosofal tivemos incialmente um tipo de jogo para a PS1 (PS2, Xbox e GC veriam a ter versões dois anos depois), outro para PC, outro para GBA e outro para GBC. Quatro experiências diametralmente distintas que também se verificaram aquando do lançamento de A Câmara dos Segredos. Foco-me nas versões para GBC porque ao contrário de serem jogos de aventura e/ou puzzle, eram magníficos RPGs de bolso, desenvolvidos pela entretanto extinta Griptonite Games.

Sou fã da saga desde o primeiro filme e todo o media que se lhe seguiu, mas nem consigo estar no percentil mais alto cá de casa. Dito isto, tropecei no jogo porque um amigo não conseguia memorizar uns padrões de varinha necessários para passar um nível. “Leva-o para casa, passas-me isso e para a semana trazes-mo“.

Pela Internet achei mais camaradas com o mesmo drama de passarem o nível que o meu amigo me pediu para passar

Voltei uma semana depois com todas as save slots em nível 99 e final de jogo. Facto que motivou o meu amigo a receber-me em sua casa a correr, extasiado e todo nu, que tinha acabado de tomar banho. Hoje em dia procuro focar-me somente na memória do jogo.

Como qualquer jogo RPG portátil em 2001, Harry Potter bebia muito da fórmula de Pokémon: batalhas ao acaso em que despachamos uma série de monstros com feitiços, feitiços que por sua vez tinham níveis que se evoluíam ao longo da história, cromos de Bruxas e Feiticeiros que se colecionavam e um camião de loot entre acessórios, vestuário e consumíveis. E lá estamos nós com Harry, Hermione e Ron todos equipados para dar cabo dos maus.

“Harry, escolho-te a ti!”

Como vejo no RPG o género de eleição dos videojogos, o facto de só o formato portátil menos avançado da altura destes jogos ter apostado nele intriga-me. Qualquer um dos outros que também joguei rapidamente nos aborrecia, pese um ou outro puzzle interessante.

Todos tinham grande aposta de produção – foi a primeira vez que vi um jogo dobrado/legendado para português europeu – mas só estes títulos do GBC me faziam querer explorar cada recanto, especialmente no expansivo castelo de Hogwarts. Ele era passagens secretas, ele era manto da invisibilidade, ele era loot por todo o lado e dezenas de NPCs para interagir ou iniciar missões secundárias.

“DIAGONALLY!”

Pelo meio os cromos colecionáveis ainda permitiam combinações especiais em batalha, um pouco como acontece em Final Fantasy, à semelhança das várias poções que se podiam fazer e depois consumir para efeitos de regeneração e fortalecimento do personagem. Exemplos perfeitos de como aproveitar elementos secundários da franquia e torná-los essenciais no decorrer do jogo.

Vinte horas e chegava-se ao fim de A Pedra Filosofal, outras tantas para a Câmara dos Segredos. No caso do último já estava mais alertado para o jogo e lembro-me de perscutar um catálogo de supermercado em busca da listagem, que incluía data de lançamento – não amigos, ainda não tinha internet em casa, muito menos uma que me dissesse quando o jogo saía em Portugal.

A seguir a 2000, isto eram cartuchos pequenos.

Tal como os livros e filmes, estes dois títulos de GameBoy Color facilmente nos encantavam com a magia de Harry Potter, e muito nostálgico penso em cada um destes cartuchos, como só as iterações da saga em Lego Harry Potter conseguiram alguma vez fazer.

Dia 25 cheira-me que é altura de pegar numa rabanada, tirar o pó ao GameBoy e re-entrar no conforto da infância.