Temos vindo a realizar um conjunto de programas do Rubber Talks no sentido de dissecar os principais problemas da indústria de videojogos em Portugal, esperando lançar também as raízes para um futuro desenvolvimento mais coeso, saudável e profícuo. Temos, ao longo dos programas, procurado dar voz a casos de sucesso, promessas, eventos, medidas políticas e notícias que, de uma forma ou de outra, afectam ou podem vir a afectar a crescente comunidade portuguesa de Game Developers.
Com ou sem apoios, a verdade é que temos uma comunidade em crescendo. Mais cursos, mais alunos, mais estúdios e, claro está, mais projectos. Foi, para toda a organização do Indie X, surpreendente verificar que o número de jogos portugueses submetidos ultrapassou, em larga escala, os valores anteriores. Foram perto de 50 projectos portugueses submetidos! E nem sequer estão por lá jogos de estúdios como a Nerd Monkeys, a Fun Punch, a Camel 101 e outros com lugar adquirido na história dos videojogos portugueses. Cinquenta… Cinquenta jogos. Uns projectos solitários, outros feitos por equipas de tamanhos diversos. E apraz-me dizer que a qualidade média dos jogos submetidos é, também ela, superior à que temos vindo a ter. Mais jogos, maior qualidade. Em certa medida, é expectável que assim seja. Estúdios experientes vão fazendo jogos de forma mais competente. Profissionais mais experientes, partilham mais e melhores experiências com quem está a aprender ou a começar. Um passo normal na evolução, dir-se-ia.
Ainda assim, parece que muita coisa passa despercebida ao público em geral e ao poder político em específico. O tema vai sendo recorrente nos Rubber Talks e em outros espaços de discussão sobre a indústria. Não há, em Portugal, uma pálida sombra do que se faz noutros países quanto ao estudo da indústria, valorizando factores como o número de postos de trabalho, a rentabilidade, o retorno do investimento, os ordenados médios para os diversos cargos e sectores da indústria, a despesa realizada por portugueses em produtos semelhantes, etc. Não há. Não há nem se vislumbra que possa haver, num futuro próximo. Não havendo um estudo sério e sustentado, a coisa vai lá em jeito de lambidela no dedo antes de o espetar no ar, a ver a direcção do vento. Com informação imprecisa, o risco aumenta, o que torna todo o cenário de investimentos bastante mais instável também.
O sucesso, algo nem sempre linearmente atingível nesta indústria, vê assim drasticamente reduzidas as suas possibilidades. Portugal está a crescer, de facto. Mas parece querer apoderar-se de toda a panóplia de dores de crescimento possíveis. Como se já tivéssemos o projecto aprovado para a construção de um castelo com vinte assoalhadas e só nos faltassem as pedras que vamos coleccionando no caminho metodicamente. Há que as apanhar todas. Todas!
A génese do Rubber Talks traz-nos, desde logo, uma visão da indústria portuguesa em comparação com a internacional. Foi assim no primeiro programa.
Voltámos a abordar o desenvolvimento de videojogos no terceiro programa, abordando o sensível tema do crunch na indústria.
O oitavo programa trouxe-nos aquele que vai sendo um dos eventos portugueses de referência, o Game Dev Meet @ Porto. Seguiu-se outro, sobre o IPCA Game Dev Week, um evento a uma escala diferente, com vários oradores internacionais de referência que considerámos que merecia uma outra atenção por parte da imprensa e de developers.
Relevámos a importância de toda a indústria de jogos indie no programa seguinte que, no fundo, é o que vai motivando a esmagadora maioria dos developers, organizadores de eventos e media por terras lusas. Falámos depois de uma parte muitas vezes esquecida durante o desenvolvimento, no nosso décimo primeiro programa: a música! Um programa com convidados de luxo a falar sobre as peripécias do áudio design alinhadas com o game design, a sonoplastia e uma visão abrangente àquilo que o jogo deve ser enquanto produto. Uma conversa que não se coibiu de entrar em pormenores mais técnicos.
O programa seguinte, sobre gerações de gamers, mantém-se entre os mais vistos e ouvidos de sempre e aborda questões como a parentalidade e a forma como contemplamos os videojogos na educação dos nossos filhos. Proibir, educar, ensinar, partilhar… todas as decisões que afectam pais, filhos e avós num mundo em que os jogos e videojogos se assumem como figuras dominantes na indústria do entretenimento.
Logo a seguir, o programa sobre aquele que é um dos jogos do ano para a comunidade Portuguesa. Decay of Logos na primeira pessoa, abordando o seu desenvolvimento em todas as dimensões por uma equipa bastante reduzida. Um programa que fornece o verdadeiro insight de como labora um estúdio português que pretende desenvolver videojogos nos dias que correm.
A segunda temporada arranca com um rescaldo à Gamescom 2019, onde o Rubber Chicken marcou presença, mostrando o ponto de vista de personalidades portuguesas pelos corredores da DevCom e Gamescom e esventrando o fosso entre aquilo que por lá se faz e o que por cá falta ainda fazer.
Voltámos a dar voz a developers portugueses no terceiro programa, colocando o holofote sobre dois produtores independentes e dando-lhes o microfone para falar dos seus projectos, relevando as dificuldades, esforços e apoios no decorrer dos mesmos.
O teor manteve-se no quarto programa, desta feita com um nome do panorama nacional com peso na indústria mundial. Luís António, criador de 12 Minutes, alvo de destaque na recente E3, fala do início da sua carreira, com uma análise transversal à mesma, numa conversa motivadora e esclaredecora acerca da evolução das carreiras na indústria.
Ainda no seguimento deste debate sobre o estado da indústria, abordámos no sexto programa a temática da captação de investimentos sob a batuta de Guilherme Santos, da ZPX, partilhando a sua experiência desde a criação da ZPX até à sua aquisição por parte da Funcom que inclui um acrescido investimento na indústria local. Uma conversa enriquecedora, onde se abordaram também as cargas fiscais existentes em Portugal e os obstáculos que elas acarretam para investimentos internacionais numa indústria competitiva como a dos videojogos. Esse foi, aliás, o mote para a conversa seguinte, com o Deputado António Costa da Silva a oferecer uma visão política sobre a indústria de videojogos em Portugal e a sugerir actuações por parte da comunidade portuguesa de developers para impor mudanças estruturais de apoio à indústria.
O derradeiro programa sobre o tema, até à data, aborda o Game Dev Camp 2019, com Diogo Vasconcelos como convidado a explicar o conteúdo da conferência e os moldes em que a mesma viria a decorrer.
Tem vindo a ser uma discussão franca, aberta e pertinente sobre o estado da indústria, num formato que pretendemos manter e que, mais do que permeável às sugestões do público, vive dessas interacções em directo, com maiores ou menores percalços técnicos. Há ainda muito por falar. Da educação. Dos jogos. Do Indie X. Do Loading Zone. Das Game Jams. Mas, olhando para trás, há também um espólio que vai sendo formado, consultável no Youtube, no Spotify, no Anchor… Um espólio que é, também, uma História desta nossa comunidade de criadores de videojogos portuguesa que, espera-se, venha a ser olhada como uma fase de lançamento para um futuro que se pretende em crescendo.
Citando Marco Vale, “não é fácil fazer videojogos em Portugal.”
Resta-nos tentar fazê-lo um pouco mais fácil.