Tendo em conta que nunca tinha jogado um destes Lost Phone Games, não tenho grande termo de comparação para Simulacra 2, contudo posso falar dele no seu todo, como algo novo que me fascinou a um nível quase supernatural. Da Kaigan Games os mesmos criadores de Sara is Missing e Simulacra este segundo jogo é um misto de investigação, resolução de puzzles e um pouco de voyeurismo, tudo numa mistura estranhamente viciante.
O conceito do jogo é interessante começamos como um jornalista (ou um detective acho eu, mas confesso ainda não ter testado, estou a digerir a primeira vez que o acabei antes de tentar essa perspectiva) e cai na nossa posse o smartphone de uma rapariga, a Maya, que morreu sob circunstâncias invulgares. A única coisa que temos é o smartphone cheio de dados corrompidos e pistas para a nossa investigação e uma app chamada Warden que não só nos dá acesso à base de dados da polícia como é a forma de comunicação primária da pessoa que nos deu o telefone. Vamos desbloqueando pistas, questionando pessoas, abrindo caminhos para a resolução do mistério que não deve ser segredo para quem jogou o primeiro (já que o caso é referido mais que uma vez) tem um toque paranormal e de horror. Simulacra 2 tem no seu centro a estrutura de um point and click com um twist interessante por ser tudo num smartphone.
Infelizmente não podemos entrar em grandes pormenores sem estragar alguns dos mistérios mais interessantes de Simulacra 2, podemos dar uma visão do que o torna tão interessante. Ao entrar no jogo o nosso telefone torna-se o de Maya, todos os funcionamentos são iguais ao nosso (tirando a app Warden) tem uma galeria de fotos e vídeos, faz e recebe chamadas, e-mails, sms, redes sociais, está lá tudo. Nós, tendo posse deste aparelho igual ao que tomou conta das nossas vidas que carrega cada vez mais dentro dele, vamos vasculhando os pormenores mais íntimos de Maya, as suas conversas, as suas dúvidas, os seus medos, e com cada passo, com cada pedra pessoal que reviramos estamos mais próximos do mistério, e de mais coisas…
Contudo este voyeurismo levanta algumas dúvidas quando diz respeito à privacidade. Tanto no próprio jogo em que essa questão é levantada pelo nosso personagem e outros, ou por nós pessoalmente que ficamos na dúvida se o que estamos a fazer é correcto. Imaginem que por alguma razão desaparecemos e alguém que decide vasculhar o nosso smartphone para descobrir pistas sobre nós que possam levá-los ao nosso paradeiro. Mesmo nesta situação grave essa invasão de privacidade é válida? No fim de contas temos a vida (virtual e neste caso falsa) de uma pessoa nas nossas mãos, a sensação de poder é tão forte que é complicado não ser corrompido por ela.
A questão da privacidade aqui é curiosa porque o jogo tem um aspecto real na sua falsidade, não temos as redes sociais que conhecemos mas os equivalentes em Simulacra 2 e estes estão cheios de comentários e vida falsa tal com nos da nossa realidade. O acting nos vídeos não é da melhor qualidade mas já vi pior em filmes nomeados para Óscares só que mesmo assim, sabendo que tudo ali é falso, ao fim de uns minutos aquele pequeno ecrã leva-nos para dentro dele e até consegue dar alguns sustos porque a sua integração com o nosso aparelho é tão fluido que quando começamos a dar passos para o “outro lado”. Confesso que me senti incomodado e ligeiramente na dúvida se algumas das partes de horror estavam a acontecer no jogo ou se o meu smartphone estaria a falhar.
Resumindo, para quem gosta de um jogo de puzzles com uma pitada de horror e mistério ou é fã dos jogos anteriores da Kaigan Games, Simulacra 2 é altamente recomendável em Android (versão testada) iOS e PC.