Lançamento após lançamento, o estúdio Frontier Developments firmaram-se como reis dos tycoons, especialmente em jogos direccionados para parques temáticos. Esta coroação nem vem de agora: desde a viragem do milénio que o estúdio britânico assumiu a vanguarda dos jogos de simulação de parques temáticos com o lançamento do magnífico RollerCoaster Tycoon (que encontraria recentemente nas mãos do mesmo estúdio o seu sucessor espiritual com o lançamento do magnífico Planet Coaster). 

Como puderam ler pelo meu artigo desta semana, as minhas férias de Natal (no pouco tempo em que não estive a aproveitar um merecido tempo em família) foi mergulhado ora a desenvolver e a estabelecer sistemas de transportes rentáveis, ora a criar sistemas de conservação e pedagogia com animais no maravilhoso Planet Zoo.

Planet Zoo é o apogeu da hiper-especialização da Frontier em tycoons. Um jogo que consegue complexificar de forma quase assoberbante o género mas que consegue mantê-lo sempre acessível, num equilíbrio difícil que não está acessível a muitos.

Apesar de terem feito carreira em jogos passados em parques de diversão é curiosa a subtileza ideológica deste Planet Zoo, que entrega o destaque quase todo à componente de conservação animal intrínseco ao trabalho de um zoológico. E isso vê-se nas pequenas coisas.

Num tycoon deste género é frequente a nossa eficácia estar dependente de indicadores de satisfação dos visitantes, quase sempre determinados pelo cumprimento das suas satisfações de diversão. Aqui não. As reclamações dos visitantes centram-se em alguns aspectos logísticos, mas a sua grande maioria é mesmo em torno das condições e bem-estar dos animais ou a falta de informação/aprendizagem sobre as espécies conservadas. O descontentamento dos visitantes com a forma como os animais estão a ser tratados pode levar a situações de boicote. Um pormenor subtil que faz toda a diferença num jogo que inclui uma vasta enciclopédia de informações sobre as espécies animais, e onde mecanicamente temos menus atrás de menus a falar das condições ideais de bem-estar de cada um dos animais que albergamos no nosso zoológico.

O controlo total de todos os aspectos de cada habitat é impressionante, e que se materializa na nossa capacidade de alterar o próprio terreno, de forma tão simples quanto pinceladas literais nos polígonos dos planos e declives. Mas isso não fica por aí, com um vasta acesso a plantas de todos os biomos possíveis, ajustando-os segundo as necessidades de bem-estar dos animais presentes.

A psicologia e comportamento dos animais também está hiper-apurado, com os indicadores de interacção social e bem-estar a reflectirem dezenas de sub-pontos que podem facilmente ser verificados e ajustados por nós. E tantos outros que não podemos controlar directamente, mas que podemos identificar, como os aspectos genéticos de cada animal, propensão para doenças e previsível longevidade.

Mais do que um espaço de diversão, uma das grandes missões dos zoológicos nos dias de hoje é a conservação e preservação da natureza, e temos a possibilidade de libertar animais de volta ao mundo selvagem e recebemos pontos de conservação por isso, que podemos utilizar para trazer novas espécies para o nosso cuidado.

O único ponto menos positivo, ainda que não seja game-breaking per se, é a dificuldade que por vezes sentimos a navegar os muitos menus que compõem um jogo tão complexo quanto este. A adição de algumas sistemas de informação para nós, ou uma forma condensada de visualizar as montanhas de informação que o jogo nos apresenta poderia ser uma forma de corrigir o acesso a todos os dados. Lembremo-nos que o volume de informação começa a avolumar-se à medida que adicionamos animais e habitats ao nosso zoológico, e que as listas incluem entradas individualizadas para cada um deles.

Assumo que num jogo com este nível de qualidade e complexidade, indicar problemas de IU como uma das poucas fraquezas de um jogo é um bom indicador do patamar de qualidade que as quase duas décadas de experiência da equipa da Frontier atingiu dentro do género. Permitam-me ser picuinhas num jogo em que até o detalhe visual e o realismo do comportamento e animação dos animais tornam a experiência de gerir um zoológico, ainda que virtual, em algo verdadeiramente imersivo.

Menos radical que Planet Coaster, mas com uma subtileza ideológica importante, Planet Zoo é o standard para os tycoons de parques temáticos, e é um jogo obrigatório para todos os fãs do género.