A ideia de gateway games, ou jogos que sirvam de porta de entrada para determinado género é um conceito muito debatido nos jogos de tabuleiro. É frequente ver pessoas que dedicam algum tempo a este hobby discutirem entre si quais os melhores gateways para os board games em geral ou para determinados tipos de jogo em particular. Apesar de menos massificado, acredito que esta ideia se ajuste aos videojogos na perfeição.

Introduzir o público mais novo a dungeon crawlers não é uma ideia fácil. Alguns poderão argumentar que em extremo um The Legend of Zelda possa suprir esse espaço, mas também é verdade que para uma criança pequena que ainda não saiba ler, o que não compreenda inglês, a famosa série da Nintendo possa ser demasiado difícil. 

Dungeon crawlers sem o peso narrativo são simplicíssimos de encontrar. O pior é encontrar um cujo aspecto não seja aterrorizador, ou que pelo menos que seja apelativo o suficiente para a pequenada querer experimentá-lo.  Aquilo que procuramos na realidade é um jogo (quase) despido de história mas com um ambiente kids-friendly. E essa espécie de gateway game de hack ‘n slash/dungeon crawlers para crianças chega-nos pela mão de Riverbond.

Se achavam que os jogos à base de voxels tinham morrido pensem duas vezes. Depois de anos de vermos chegar ao PC, Wii U e PS4 uma série de jogos a emular o aspecto de Minecraft (sendo que a sua grande maioria era uma valente treta), eis que Riverbond consegue fazer step up à estética Minecraftiana e apresentar uma excelente variação de cenários e figuras feitas com voxels.

Em Riverbond existe uma história, ténue, que serve de desculpa para as aventuras que vamos ter ao longo de 8 níveis diferentes, em ambiente e inimigos. Cada segmento destes níveis tem pequenas secções/missões que têm de ser cumpridas, que invariavelmente vão dar em “derrota tudo o que mexe”. É claro que vão perceber que o enredo é perfeitamente secundário neste jogo, e que a simplicidade da sua jogabilidade acaba mesmo por falar mais alto que qualquer outra coisa.

Completamente dirigido para o público mais infantil, mas muito divertido para jogadores de todas as idades, há outro elemento em Riverbond que o tornam um óptimo jogo familiar: o seu couch co-op. Com modo cooperativo local até 4 jogadores, Riverbond, que cria o seu modo de campanha ao estilo com um menu inicial ao estilo de Mega Man, compensa a sua falta de profundidade com a leveza que ocupa tudo o resto.

Cada nível pode estender-se entre 30 a 40 minutos de pancadaria num mundo estilizado, até chegarmos a um dos seus pontos altos – e ligeiros solavancos de dificuldade – as boss fights.

Riverbond não é o melhor dungeon crawler que já jogámos, mas é possivelmente uma das experiências mais sólidas e visualmente mais coesas que podemos ter para introduzir alguém ao género, miúdos ou graúdos. Com modo cooperativo local até quatro jogadores, há muito tempo de diversão e riso num jogo que não sendo difícil, compensa a sua falta de densidade com um hack ‘n slash “leve” e acessível a todos. E por vezes isso é mesmo tudo o que precisamos.