Já conheci quem jogasse Football Manager de forma casual. São boas pessoas, mas nunca as compreendi. Até ao dia em que sonhei fazer do Sporting campeão no meu telemóvel.

Em 2020 jogar Football Manager é como ir a um buffet de casamento: temos Football Manager 2020, a experiência mais completa, imersiva e cada vez mais aperfeiçoada do que é gerir um clube de futebol; FM Touch 20, com quase tudo o que o anterior tem mas optimizado para Nintendo Switch, tablets ou smartphone; e por fim FM20 Mobile, a versão mais leve e simplificada da original disponível para smartphone.

E porquê duas versões em smartphones, e já agora porquê escrever sobre a mais leve de todas quando falamos de um simulador? Por melhor que seja o vosso telemóvel, boa sorte em correr uma base de dados em tudo semelhante à do jogo para PC. E por maior que seja o vosso telemóvel, boa sorte em lerem todos os campos e menus no ecrã de FM Touch em algo mais pequeno que um tablet.

É aqui que entra FM Mobile 20. Quando já tinha pago 10€ e iniciado o jogo, desiludi-me: staff mais curto, jogadores com menos tipos de atributos, bases de dados bem mais curtas. Como adepto do Sporting – juro que somos os jogadores de FM mais motivados a cumprir um sonho que não vemos satisfeito na realidade – faço sempre questão de fazer uma limpeza total à casa, seja equipa técnica, plantel ou treinos na Academia. Coisa que neste jogo mal consegui fazer – vende um aqui, compra outro ali, e pouco mais. Existem mais opções no jogo do que as que utilizei, mas eventualmente tinha a minha estrutura montada para começar a lutar pelo título.

É fácil arrastar jogadores para dentro e fora da nossa equipa. Difícil é arrastar-me para fora do FM.

Foi então que esta versão de Football Manager começou a fazer sentido. Quantas vezes não me perguntei como é que poderia fazer o tempo entre jogos correr mais depressa? Graficamente nunca convidou à lentidão no meu PC, mas a base de dados encarregava-se disso. Só que num smartphone isso não acontece. FM Mobile está feito para andar rapidamente de jogo em jogo. Até a gestão dentro de cada partida não convida muito à intervenção. Parece blasfémia para os puristas da série – de quem me parece a que se deva o sucesso sustentado da franquia – mas faz imenso sentido num jogo de bolso. Ainda existem as descrições do nosso nível de vício consoante as horas de cada save, mas dificilmente vão chegar ao ponto em que o jogo vos convida a trocarem de cuecas.

Aqui sempre esteve o meu grande problema com Football Manager. É absolutamente imersivo, um Teatro dos Sonhos virado realidade virtual. Mas é um pequeno buraco negro que consome todo o restante tempo livre à nossa volta. “Só mais um save” ou “Ah agora vou começar com outro clube” são afirmações que facilmente aparecem no meu cérebro com a versão principal. Com FM no telemóvel consigo pegar e largar com facilidade, tenho noção de como a minha equipa se está a portar mas não preciso de perder muito tempo entre jogos, entre ver as vitórias que me escapam na realidade.

Não houve tomba gigantes

Demora um pouco até se conseguir ter noção de tudo o que podemos ou não podemos fazer nesta versão ligeira de FM, mas passadas umas horas os controlos já são perfeitamente intuitivos. Rapidamente se descobre que afinal ter menos coisas que podemos fazer é uma coisa boa: não há comissões para agentes ou conferências de imprensa ou até redes sociais, elementos que nos últimos anos ganharam espaço na série devido ao realismo, mas com os quais ninguém se quer verdadeiramente chatear. O reverso da moeda é que facilmente é preciso pagar 30 milhões de euros por um médio de SP Braga ou Moreirense.

A minha segunda grande desconfiança com esta versão de bolso vem com o formato: se é um jogo mobile, vai ter microtransações. Tem mesmo, mas quase que parecem gozar com a mecânica e o futebol moderno em si. Exemplo: por mais oito euros além do preço do jogo, é-nos possível tornarmo-nos o sugar daddy do nosso clube. É pay to win, mas não deixa de estar ajustado com a realidade, quer dos jogos, quer do futebol. E no final do dia não nos faz falta nenhuma para jogar se não quisermos.

Viva o 2D!

Não recomendo FM20 Mobile a quem só se interessa pela experiência mais completa e imersiva possível. Mas nem todos temos tempo para isso. Às vezes sabe bem passar rapidamente de jogo em jogo e de época em época. Faz lembrar os tempos do Championship Manager ou Elifoot em que tudo era muito mais simples – até a interface de jogo é exclusivamente em 2D. Há muitos Teatros dos Sonhos e sem dúvida que sonhar mais pequeno não tem mal nenhum.