O processo que me levou a ter hoje, 12 anos depois de ter tropeçado nos jogos de tabuleiro modernos, uma série de armários na sala cheia de jogo começou, como a muita gente, com Carcassonne. De seguida seria o Dominion a abrir-me a sede por deck builders e por ser o primeiro jogo que foi uma verdadeira febre para o nosso grupo, mas Ticket to Ride acabaria por tornar-se um dos grandes competidores pelas nossas horas vagas.

Trazer um jogo tão conhecido quanto o Ticket to Ride à baila não é inocente: ora não fosse o recém-lançado Porto – uma criação de Orlando Sá com ilustrações do Luís Levy – beber imenso desse clássico de Alan R. Moon. Vou até mais longe ao afirmar que para quem não tem o jogo da Days of Wonder em casa, o jogo Porto é um excelente gateway para o género e até para os board games modernos.

Explicar esta minha afirmação passa antes de mais por indicar que o Porto tornou-se o jogo que mais joguei nos últimos meses, e a opção imediata para serões com amigos mais ou menos rotinados com os jogos de tabuleiro. O Porto foi até o jogo que nos acompanhou na passagem para 2020, com o tabuleiro a ficar congelado em cima da mesa enquanto o fogo-de-artifício anunciava a chegada de um novo (e de uma nova década, se quisermos quebrar o celeuma cronológico gregoriano). Foi, literalmente, o último jogo que joguei no ano passado e o primeiro que joguei este ano.

No Porto vivemos a pele de empreiteiros que andam a competir entre si pela construção de prédios da famosa Ribeira. O tabuleiro, ilustrado pelo Luís Levy, é uma verdadeira maravilha dados os muitos detalhes e pormenores quais easter eggs de referências à cidade, que possivelmente vão escapar ao lado dos jogadores internacionais (ainda que já tenha visto um tópico no fórum do BGG a debaterem os significados das ilustrações). 

Explicar as mecânicas do Porto a alguém é algo que pode ser feito em poucos minutos. Em cada turno temos 1 acção que podemos fazer entre 2 possíveis: comprar cartas ou construir pisos. Visto que grande parte da tónica de Porto é a gestão da nossa mão, a mecânica compra está sempre disponível, e as regras são simples: visto que as cartas têm um indicador numérico de 1 a 3, podemos comprar cartas, independentemente das suas cores, até a um somatório de 3.

A construção também é ela feita de forma simples, e tem sempre de utilizar obrigatoriamente 2 cartas, uma que indica o número de pisos que queremos construir, outra que indica a cor dos prédios a construir.

Com uma regra de exclusão apenas – a de que dois prédios contíguos não podem ter a mesma cor – Porto é dos jogos mecanicamente mais simples que joguei nos últimos tempos, mas com uma excelente profundidade de desafio.

Já que no final vence aquele que mais Pontos de Vitória tiver obtido, cabe-nos ajustar a nossa estratégia mediante os contratos públicos presentes no tabuleiro. Estas cartas públicas estão disponíveis para todos, e o primeiro jogador a cumprir as condições de as obter recebe os pontos de vitória inerentes, remove a carta e revela outra que a substitui. Estas condições circundam quase sempre o término de prédios de determinada cor, ou a construção de um número específico de pisos de uma cor, para além de algumas outras darem pontos mediante o conjunto de cartas que jogamos na fase de construção.

Pontuar em Porto é algo simples, mas que exige alguns cálculos para maximização da nossa jogada. Recebemos PdVs pelo número de pisos que construímos, pelos pisos existentes nesse edificio, pelas placas de PdVs que possam existir no rés-do-chão ou telhado, e pelos pisos contíguos aos que construímos. 

Todos os jogadores partilham o tabuleiro, o que significa que não existe “o prédio de x ou y”. Invariavelmente as construções que fazemos vão beneficiar outros jogadores e vice-versa. Um prédio iniciado por nós pode ser finalizado por um adversário, mas o inverso também se aplica.

Para complexificar o jogo podemos adicionar contratos privados, que são cartas que mantemos secretas até ao final do jogo e que têm condições mais complexas para a obtenção de mais Pontos de Vitória, e que vão moldar a nossa estratégia e a direcção que queremos dar às nossas construções.

Porto tem o condão de ser um jogo simples, fácil de explicar e de fazer setup, mas ao mesmo tempo de conseguir ser explicado e compreendido de forma muito rápida. Este é um jogo leve que ocupa na perfeição o espaço de Ticket to Ride, o jogo que provavelmente mais o influencia, e é uma excelente adição a qualquer biblioteca de jogos de tabuleiro.