Há estúdios que se aventuram em novos géneros a cada novo lançamento, aproveitando o desafio criativo dessas mudanças como motor para o seu crescimento. Outros, com igual validade, especializam-se numa área e tentam inovar a cada novo projecto.
Vendo o profícuo catálogo do estúdio One Up Plus Entertainment, que só na primeira metade do ano passado lançou dois jogos, é fácil de perceber que no seu âmago a produção de deck-builders é essencial, mas que a criatividade não se fica por aí.
A sua série Spellsword entra assim na sua terceira iteração, lançada há poucos dias em Early Access no Steam. Mas antes de entrar em pormenores e explicar porque é que este é um dos jogos mais criativos que jogámos neste início de ano (e de década), há que fazer um reconhecimento prévio. A inteligência de fazer evoluir a linguagem estética de Spellsword para esta ficar colada a Darkest Dungeon é uma jogada de mestre. A atenção que o jogo recebeu – de forma merecida – foi, e muito, impulsionada pelo desvio artístico, que, aliás, encaixou de forma perfeita neste jogo sui generis.
Com Spellsword Cards: Origins misturaram storytelling e deckbuilding, com Spellsword Cards: Demontide aproximaram-se dos jogos de aventura, também ele com deck building. Spellsword Cards: DungeonTop (deixo uma pergunta no ar: porque não apenas Dungeon?) é um dungeon crawler misturado com deck builder. E é impiedoso, extremamente impiedoso.
Em cada playthrough controlamos um herói que vai avançando, de sala em sala, por uma dungeon. Os seus pontos de vida alteram-se através dos combates, e protegê-lo acaba por ser a nossa maior prioridade ao pormos as cartas na mesa.
Quando despoletamos um combate (ao entrar numa sala ocupada por um monstro) dá-se início ao jogo de cartas em si. O nosso baralho, composto por cartas escolhidas antes da incursão pela masmorra, vai materializar-se nas unidades que dispomos no tabuleiro.
Há muito de estratégia e táctica em Spellsword Cards: DungeonTop porque o posicionamento das nossas cartas/unidades vai decretar a diferença entre a derrota e a progressão no jogo. Cada nova carta que adicionamos ao tabuleiro, num sistema em que a gestão da mana decreta também o número de cartas que biscamos a cada turno. Se pouparmos metade da nossa mana, no próximo turno iremos buscar duas cartas ao invés de uma. As cartas que não forem jogadas são descartadas.
Voltando ao posicionamento: em Spellsword Cards: DungeonTop os ataques são feitos ortogonalmente apenas, e cada nova unidade tem que ser contígua a outra existente. Visto que qualquer dano que a nossa carta de herói receba fica com ele pela incursão na masmorra, colocar unidades a circundá-la é quase obrigatório.
Quando atingimos o sucesso num combate, é-nos dada a possibilidade de ter como recompensa um tipo de carta (seja ela uma unidade, uma poção ou um artefacto) sem sabermos especificamente qual é. É desta forma, e com a abertura de baús que encontramos pelas masmorras que vamos aumentando a nossa colecção de cartas.
Apesar de Spellsword Cards: DungeonTop estar a competir num mercado que viu chegar em 2019 dois jogos brilhantes (Slay the Spire e Steamworld Quest) é indubitável pela amostra desta versão alpha à venda no Steam que Spellsword Cards: DungeonTop vai ser um dos nomes a juntar-se a esse panteão em construção que são os videojogos deck builders. Há ainda um caminho largo a percorrer, muito conteúdo para ser implementado, mas o prenúncio não poderia ser mais positivo. Basta-nos, para isso, como dizia o outro, acreditar no coração das cartas.