Wonderful 101, nunca joguei. Vale a pena? –  Perguntei eu.

Genial o jogo! – Responde-me ele.

Ok, então vou fazer o Kickstarter – Terminei com alguma reticência.

E porquê reticência? Porque não apoiei o projecto imediatamente? Há várias coisas que já apoiei no Kickstarter. Projectos literários, musicais, RPGs e board games mas nunca dei o meu contributo num videojogo, e não é só porque há aqueles relatos de pessoal que gastou o dinheiro do Kickstarter em meretrizes e Alvarinho, mas porque acho que o que começou como uma boa ideia, foi completamente desvirtuada no seu cerne.

Alguns projectos foi só para ajudar outros foi porque queria mesmo o artigo, mas todos tinham um sentido, ou pelo menos tinha alguma esperança que o projecto tinha um fim, algo palpável que podia ser feito. Excepto o Slingatron, esse foi só mesmo no gozo. Agora videojogos não, não sou capaz, mesmo com casos de sucesso com óptimas obras finalizadas como Lost Ember, Divinity Original Sin, Bloodstained e Pillars of Eternity. Todos eles grandes jogos apoiados por pessoas comuns como nós, e por esses e outros casos acredito que há kickstarters de videojogos que merecem apoio, mas há outros que não. Há casos que tenho a certeza que quando são colocados à disposição toda a gente sabe que não vão ser terminados tal como há outros que nunca deviam ter sido colocados em Kickstarter porque não precisam e tudo começou com Shenmue 3.

A segunda ofensa da E3 2015: Conferência da Sony

Em Junho de 2015 durante a E3 a Sony anunciou o Kickstarter de Shenmue 3. Vamos pensar nesta frase. A Sony, companhia que nesse ano iria faturar muitos mil milhões de dólares (sem contar com as suas subsidiárias) “pediu apoio” a nós para fazer um jogo. A mesma coisa aconteceu agora com a Platinum e o Kickstarter do port de Wonderful 101. Para quê? A Platinum precisa mesmo do dinheiro para criar o jogo? Nem sequer é para o criar, é para fazer um port. Precisam de comprar devkits de PS4 e Switch? Nunca fizeram jogos para essas consolas? Não têm? Não têm fundos para pagar ao pessoal? Não fizeram agora o Astral Chain? Não têm uma lista de jogos de sucesso que ainda hoje devem estar a faturar? Não venderam agora parte da empresa à Tencent? Então para quê isto?

Resposta é simples: Avaliação do interesse do mercado. Toda a gente diz que compra X ou Y se for lançado, mas vamos ver “if they put their money where their mouth is” como dizem os americanos. Fazendo estas campanhas de Kickstarter o estúdio ou publisher avalia o investimento garantindo automaticamente o retorno antes de arriscar. É como se antes de comprar acções na bolsa soubéssemos que iríamos ter um retorno garantido de um certo valor. É possível, mas também é ilegal. Chama-se insider trading e é um crime. Portanto, porque é que uma empresa que não precisa de o fazer utiliza o Kickstarter para lançar um jogo?

Quando foi criado o Kickstarter e outras plataformas de crowdfunding, o seu objectivo era de financiar artistas e produtores independentes que não conseguiam financiamento doutra maneira. Bancos e investidores fugiam destes projectos como da peste ou glúten, mesmo que o público estivesse interessado não havia investimento. Crowdfunding cortou o intermediário mas agora é usado como um teste de marketing, uma avaliação de interesse. É pena que tenha acontecido esta deturpação dos seus princípios e vamos ver onde vai levar este caminho.

Muito provavelmente vou comprar Wonderful 101 mas não vou fazer o Kickstarter. Prefiro utilizar o meu dinheiro em coisas interessantes que merecem o meu apoio, não em ajudar empresas com grandes rendimentos a não arriscar e não ter bónus tão grandes para os seus gestores que não me parece que vá ser o caso já que conseguiram os seus objectivos em cerca de duas horas.