7th Sector é um jogo que vai facilmente passar ao lado da maioria dos jogadores. É um jogo de puzzles, uma obra de autor, que não terá o marketing de outros títulos indie que nos chegam em doses constantes. Este novo jogo é daquelas pérolas adormecidas que só vai vingar no passa a palavra, pela forma como estimula a massa cinzenta a cada minuto que passa.

Estamos perante um jogo de puzzles que não explica as mecânicas, consegue contar uma história sem dizer uma única palavra. Mas obriga a uma constante aprendizagem, porque as suas mecânicas básicas e simplicidade aparente dos puzzles esconde desafios intrincados, daqueles que dá vontade de largar constantemente o comando, em modo de frustração, e com o rato em cima do botão desinstalar. Mas depois há um nah! E regressamos passado um pouco para superar um puzzle, e depois mais um, até encravar no seguinte. E isso consome-nos. Irrita. Mas dá uma grande pica continuar. É um jogo difícil, sem dúvida…

Mas é tipo o que? Experimentem regressar a algumas décadas atrás, para um jogo chamado Tetris, e perguntem a Alexey Pagitnov é tipo o quê? 7th Sector é uma amálgama de puzzles de lógica, física, matemática, para além de testar a perícia e os reflexos do jogador, e sobretudo a capacidade de observação aos pequenos detalhes. Por isso sim, é um jogo difícil.

O jogo foi criado pelo russo Sergey Noskov e apresenta um ambiente de cortar à faca. Estamos inseridos num cenário de guerra fria, provavelmente num ambiente opressivo de uma sociedade inspirada pela cortina de ferro, controlada por um regime de vigilância e por máquinas. Há aqui um vibe da City 17 de Half-Life 2, de Oddworld, mas ao mesmo tempo a solidão monocromática de um Limbo, e também Portal. São tantas as referências que 7th Sector me fez lembrar, que ainda que não chegue à genialidade das suas inspirações, tem os seus próprios predicados.

O melhor é que o protagonista deste jogo não é nada mais que uma faísca. Controlamos uma faísca numa viagem por um cabo elétrico, passando por monitores, terminais e outros equipamentos que temos de interagir. O jogo é linear, caminhar até apanhar um puzzle e encravar, ultrapassá-lo para continuar o cenário. Raramente há dois puzzles iguais, e é isso que torna a aventura difícil, pois cada um requer aprender as suas regras.

E isso pode passar por resolver equações matemáticas, descobrindo os valores dos números para resolver contas. Ou ligar caminhos tipo Pipemania. Há que ligar interruptores de forma a obter 220 volts de energia, noutros mexer disjuntores elétricos para formar uma palavra.

Mas depois outros obrigam a tomar conta de veículos como carros telecomandados para empurrar objetos para um elevador para criar peso; ou esferas magnéticas, mas também pequenas naves e até perigosos robots assassinos.

Os controlos são simples: direções e dois botões de ação, um para mudar de circuito, outro para situações especiais ou simplesmente fazer a faísca andar mais rápida. E mesmo sendo simples é necessário ultrapassar situações como controlar uma esfera, esbarrá-la contra uma superfície para que criar energia e torná-la magnética por breves instantes e mover alguns obstáculos.

O melhor do jogo é que todos os puzzles do jogo poderiam passar-se simplesmente numa sucessão de desafios como um jogo de telemóveis. Mas invés disso, todos os elementos no fundo são orgânicos, e são as animações dos locais por onde passamos que vai sendo contada a história. Um edifício degradado com um cadáver na banheira, controlar um carro numa casa onde dorme um jovem no quarto. E até locais super vigiados, não faltando até perseguições frenéticas de uma máquina que nos persegue.

Se olharmos para a sua longevidade, o jogo parece curto, e é, não ultrapassando meia dúzia de horas, mas isso será sempre relativo à dificuldade que um jogador tiver a resolver os puzzles. E acreditem, há alguns de puxar os cabelos e até a incentivar a desistir. E é frustrante, caso os jogadores não compreendam a lógica dos puzzles, este jogo não ensina as regras, não dá dicas quando demoram demasiado tempo no mesmo sítio. Podem procurar soluções na internet, mas acreditem que a experiência perde-se.

Vale bem a pena esta viagem a um mundo distópico, se acharem que estão ao nível do desafio.